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Como as crises humanitárias e as guerras afetam a psique humana

Conheça situações extremas vividas em crises humanitárias e seus efeitos psicológicos sobre civis e combatentes.

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Ir dormir sem a certeza de que vai acordar pela manhã. Sair de casa com medo de contrair um vírus mortal e colocar entes queridos em risco. Passar o dia sem saber qual será ou mesmo se haverá uma refeição para saciar a fome. Estes são apenas três exemplos das várias situações extremas que milhões de pessoas estão vivendo em meio a crises humanitárias pelo mundo neste exato momento.

A seguir, você vai aprender um pouco mais sobre esse assunto tão relevante e que tem inundado os noticiários dia após dia. Boa leitura!

O que são crises humanitárias? 

Crises humanitárias são situações de emergência generalizada onde o sofrimento se abate sobre os seres humanos envolvidos em larga escala. Elas podem ser em escala global, como foi o caso da pandemia da covid-19 em 2020, ou em regiões específicas, como acontece hoje com a guerra entre Israel e o Hamas, entre outros vários territórios que estão em conflito.

São os altos índices de mortalidade que dão seu caráter emergencial, seja por violência, desnutrição ou contágio por doenças, por exemplo. Logo, economias em declínio, principalmente por tempo prolongado, e catástrofes climáticas, como têm acontecido devido ao aquecimento global, também se enquadram como causas de crises humanitárias. 

Emergências em curso em 2023

Em fevereiro, a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) apontou 11 crises humanitárias que deveriam ser endereçadas em 2023. A lista foi divulgada antes do terremoto na Turquia e na Síria e levando em conta que a guerra da Ucrânia já estava sendo coberta pela mídia internacional.

Veja abaixo quais países e regiões estão em estado de emergência e suas principais causas:

  • Chifre da África: questões de excesso e escassez de chuva;
  • Haiti: recessão econômica e instabilidade política;
  • Sahel: seca prolongada e violência armada;
  • Afeganistão: tomada do poder pelo Talibã;
  • Iêmen: colapso econômico após anos de conflitos armados;
  • Sudão do Sul: violência e choques climáticos, como inundações;
  • Nigéria: insegurança e fome generalizada;
  • Líbano: crise econômica e financeira sem precedentes;
  • Myanmar: crise política com protestos pró-democracia e insegurança alimentar;
  • Síria: infraestrutura e economia completamente colapsadas após 11 anos de conflito;
  • República Democrática do Congo: conflitos armados, violência contra civis, epidemias graves e desnutrição.

Devastação total: as consequências da guerra 

Se analisarmos bem a lista acima, percebemos que certas causas das crises humanitárias acontecendo hoje se retroalimentam. A pior das consequências que origina outros problemas que, em cadeia, tornam-se ainda maiores é, sem dúvidas, a guerra.

Consegue imaginar? Conflitos armados causam o deslocamento de pessoas, que buscam fugir da violência e proteger suas vidas e a de seus familiares. Por si só, isso gera uma instabilidade econômica tanto para as cidades que são esvaziadas quanto para as que recebem esse fluxo inesperado em necessidade de emprego, teto e assistência.

No entanto, enquanto os recursos do estado são destinados à guerra, todos os serviços e possíveis auxílios públicos são colocados em segundo plano, negligenciando direitos humanos básicos. Isso suprime não apenas as necessidades atuais das vítimas quanto o potencial de recuperação do país no longo prazo.

Basta procurar retratos de Kiev ou da Faixa de Gaza nos noticiários para ver quão devastador é um bombardeio. Além das desabilidades físicas e das questões psicológicas desencadeadas por esse trauma na população, uma cidade com infraestrutura viária e de saneamento destruídas torna-se um foco para a disseminação de doenças contagiosas. 

Em 2022, a Cruz Vermelha revelou que várias famílias, incluindo crianças, na cidade sitiada de Mariupol estavam passando fome e frio devido à guerra na Ucrânia. Isso porque os bombardeiros russos afetaram os sistemas de fornecimento de água e de aquecimento de forma generalizada.

Tudo isso acaba desencadeando outro grande problema: a violência entre civis. Farmácias e carros saqueados por pessoas em situação de emergência em busca de remédios e combustível são duas das camadas de uma crise humanitária causada pela guerra e sua devastação total. 

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Cicatrizes invisíveis: transtorno de estresse pós-traumático e outros distúrbios

A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que a prevalência de perturbações mentais comuns mais do que duplique em crises humanitárias. Entre as pessoas que viveram guerras ou outros conflitos nos últimos 10 anos, uma em cada cinco (22%) terá depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), bipolaridade (TAB) ou esquizofrenia.

Falemos então sobre esse distúrbio que nunca abordamos por aqui até então: o TEPT. Se você é um fã de séries dos Estados Unidos, provavelmente, conhece a história de algum personagem que sofre com isso e vai lembrar-se de já ter ouvido sua sigla equivalente em inglês “PTSD”.

Em geral, as narrativas giram em torno de ex-combatentes, mas o TEPT também pode afetar os civis que presenciaram a guerra. Os sintomas desse transtorno são pensamentos e sentimentos intensos e perturbadores relacionados à crise humanitária, que duram muito mesmo quando já se encontram em segurança.

Elas costumam reviver o evento por meio de flashbacks ou pesadelos, o que pode fazê-las sentir várias emoções, como a tristeza, o medo ou a raiva ou ter fortes reações a coisas do cotidiano, como um barulho alto ou toque acidental. A sensação de perda de vínculo, que pode gerar o auto-isolamento, também é comum e prejudica sua reabilitação.

Vale ressaltar que as crianças são uma parte da população mais vulnerável à violência e que sua exposição a situações de conflito podem provocar respostas tóxicas à sensação de estresse. Tais respostas podem causar danos fisiológicos e psicológicos imediatos e de longo prazo, incluindo transtorno de personalidade borderline, abuso de substâncias, distúrbios alimentares e suicídio.

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Como ser um médico que trabalha em crises humanitárias

Com tudo isso em vista, você pode imaginar quão importantes são os suportes psiquiátricos e psicológicos a pessoas que foram vítimas da guerra. Portanto, escolher essa especialidade médica pode ser uma porta para o trabalho com refugiados e demais sobreviventes.

Por outro lado, durante a crise humanitária desencadeada pela pandemia, foram os conhecimentos dos pneumologistas e epidemiologistas que se tornaram mais imprescindíveis. Isso sem ignorar o fato de que todos os profissionais da saúde fizeram a diferença na linha de frente.

Não à toa, a formatura de estudantes do último período de Medicina foi adiantada pelo Brasil afora. Inclusive, é com tristeza que podemos dizer que ainda é possível trabalhar em crises humanitárias sem sair do país.

Em 2022, foi revelada a situação emergencial à qual o povo Yanomami estava sobrevivendo em sua Terra em Roraima. Além de desnutrição e desidratação, houve o registro de diversas mortes, incluindo as de 570 crianças, por doenças evitáveis, como pneumonia e malária.  

Mas se o seu objetivo é atuar como médico no exterior, o processo pode ser um pouco mais extenso. Em ambos os casos, existem ONG’s especializadas em criar essa ponte entre profissionais e pessoas em necessidade.

Você com certeza já ouviu falar da Médicos Sem Fronteiras, que está presente em diversos países combatendo crises sanitárias. Sem falar da própria agência da ONU que atua pela proteção aos direitos e pela segurança dos povos refugiados: a ACNUR. 

Seja você o imigrante ou não, o primeiro passo é garantir a fluência em outra língua, em especial o inglês, para conseguir se comunicar com seus colegas de equipe e com as vítimas. Hoje, todas as unidades da Afya oferecem cursos de idiomas aos seus alunos.

Saiba mais sobre a nossa infraestrutura completa de graduação e como vamos transformá-lo no médico humanitário que você sonha em ser!