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O segredo do vício: como a dependência acontece?

Já parou para se questionar como a dependência acontece no cérebro? Afinal, qual é o segredo do vício? Para descobrir, basta ler este artigo até o fim.

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Não é exagero dizer que toda família possui um problema com dependência. Seja pela compulsão com jogo, álcool, tabaco, drogas ilícitas, sexo, comida, ou qualquer outra substância ou hábito que dê prazer à pessoa.

Esta temática, por ser tão presente na sociedade, acabou fomentando várias produções, como os filmes “Querido Menino” e “O Apostador” e, mais recentemente, a série brasileira “Dom”, que trazem luz à difícil questão do vício.

Logo, você provavelmente já está familiarizado com o assunto. Mas alguma vez já parou para se questionar como a dependência acontece no cérebro? Afinal, qual é o segredo do vício? Para descobrir, basta ler este artigo até o fim.

Vício e dependência são a mesma coisa?

Primeiro, respondemos a uma dúvida frequente: a resposta é não! Ser viciado em qualquer coisa, seja uma substância química ou não, é sentir uma vontade incontrolável e uma necessidade de saciá-la. Isso, apesar de saber os potenciais impactos negativos que podem acometer sua vida, a de seus familiares e a de outros ao redor.

No entanto, não existem sintomas físicos no viciado quando ele não se deixa levar pelo seu desejo. Essa é a diferença entre vício e dependência.

A dependência envolve a mesma vontade, porém, a partir do momento que o dependente decide ou é obrigado a cortar esse hábito, seu corpo reage à falta. Dependentes químicos, por exemplo, podem apresentar náuseas, enxaqueca, tremores e até alucinar durante os períodos de abstinência.

Causas da dependência

É muito importante reconhecer que a dependência não é uma questão de tempo de uso. Na verdade, ela pode acontecer logo no primeiro contato e, como você verá aqui, existem algumas causas para tal.

Os fatores biológicos que podem desencadeá-la são, por exemplo, a hereditariedade e o nível de resistência a uma droga. No caso da genética, isso se traduz em como o corpo de uma pessoa metaboliza determinada substância e nos genes que têm propensão à dependência.

Há também os fatores psicológicos, que envolvem a falta de inteligência emocional para lidar com frustrações, traumas de infância, distúrbios mentais, como depressão, ansiedade e bipolaridade, entre outras coisas. É por uma necessidade de dopamina instantânea e em elevada quantidade no cérebro, que a droga é capaz de oferecer.

Outros são os fatores sociais, que variam mais de pessoa para pessoa. Alguns exemplos são más influências como amigos, facilidades de acesso ao que lhe é viciante, violência doméstica, bullying, filmes e séries, e por aí vai. A lista é longa.

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Como a dependência acontece

O principal mecanismo que desencadeia a dependência é o sistema de recompensa cerebral junto à neuroadaptação. Nosso cérebro sofre alterações anatômicas quando viciado, assim como mudanças em seu funcionamento químico e na comunicação entre os neurônios, que está associada ao aprendizado.

Isso é possível graças à plasticidade do cérebro. Assim, a dependência transforma os circuitos neurais, reorganizando-os de forma a atribuir mais valor àquilo que lhe dá prazer em detrimento de outros interesses, inclusive, o ímpeto natural de proteger a própria vida. É por esse motivo que muitas pessoas se colocam em risco para saciar seus vícios.

O vício afeta o córtex pré-frontal e outras regiões corticais, que comandam o julgamento e decisões de autocontrole. No entanto, com o passar do tempo, a recompensa vai perdendo força à medida que essa desorganização continua, o que explica o aumento da compulsão. No fim das contas, o corpo adquire resistência.

Cada substância e/ou comportamento possui seus efeitos próprios. Mas, em geral, o reforço primário é a recompensa depressora ou estimulante que aquilo causa na pessoa. Depois, vem os reforços secundários, que são as condições socioambientais que favorecem o vício, como mencionamos anteriormente. 

As consequências do uso de drogas

De acordo com dados das Nações Unidas, mais de 200 mil pessoas morrem anualmente de overdose ou devido a doenças desencadeadas pelo abuso de drogas. Somente entre as drogas lícitas, como o álcool e o cigarro, há diversas enfermidades diretamente relacionadas ao seu consumo, como: cirrose, acidente vascular cerebral (AVC), infarto, câncer de pulmão e de boca, etc.

Outra consequência grave são as lesões irreversíveis que podem acometer os neurônios, reduzindo a capacidade de raciocínio do usuário. Sem falar que os distúrbios mentais podem vir tanto antes, como já explicamos, quanto depois.

Por tornar-se uma barreira entre a pessoa e o que é saudável à vida dela, não apenas em relação à saúde, mas ao e às relações afetivas também, o vício pode desencadear depressão. Além disso, a síndrome do pânico e a esquizofrenia também podem ser consequências da dependência.

Em suma, cada aspecto de sua vida sofrerá com o vício. Isso porque, a partir do momento que o indivíduo torna-se dependente, ele passa a ter mais dificuldade em controlar o uso, sofre crises de abstinência na tentativa de parar e, em sua maioria, abandona comportamentos positivos que traziam benefícios à sua saúde mental e física.  

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Tratamentos mais efetivos

A dependência é uma doença crônica, que pode ser comparada à hipertensão ou ao diabetes no sentido de que, infelizmente, não tem cura, mas pode ser muito bem controlada. Para tanto, o dependente precisa cortar completamente o hábito, ou seja, nunca mais voltar a consumir ou fazer o que lhe causa vício.

Isso porque uma recaída faz, via de regra, com que a pessoa volte a se comportar da mesma forma que antes, independentemente da quantidade. Ou seja, não é possível dar brecha para exceções.

Também é fundamental identificar quais foram os fatores para que a dependência acontecesse. Pois, com o tempo, o cérebro aprende quais são as situações nas quais tal vontade era saciada e passa a antecipar o prazer, o que acaba “acionando” o vício adormecido.

A partir da identificação dos gatilhos, é possível afastar a pessoa deles, evitando que recaídas aconteçam, um trabalho feito com psicoterapeutas, de preferência, especializados no assunto.

As sessões de terapia com um psicólogo também serão fundamentais para que o dependente desenvolva hábitos mais saudáveis e fique motivado a retomar o curso da sua vida longe do vício. Psiquiatras também serão profissionais úteis no processo, para que o funcionamento do cérebro do paciente seja compreendido.

Algo que é de conhecimento comum, muito por conta da sua constante representação em séries e filmes, são as internações em clínicas de reabilitação. Isso faz parte da primeira fase do tratamento, que cuida da desintoxicação da pessoa. É neste momento que as crises de sintomas físicos da abstinência ocorrem.

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