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Medicina Personalizada: como funciona e o que podemos esperar para o futuro?

Saiba o que tornou a Medicina Personalizada uma possibilidade, quais são seus fundamentos e muito mais.

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Inteligência artificial, big data e outras ferramentas extremamente específicas e atualizadas. Sim, tudo isso está diretamente relacionado à Medicina Personalizada (MP) Todavia, a verdade é que seu braço mais importante foi lançado ainda no século 20: o Projeto Genoma Humano.

Este foi o nome dado à série de estudos conduzida por cientistas de várias nacionalidades que se juntaram entre 1989 e 2003 com o objetivo de decodificar o nosso DNA. Para tanto, eles precisavam determinar a sequência dos 3,2 bilhões de pares de bases que o compõem. 

Após 14 anos, o Projeto foi concluído como um sucesso, embora tenha ficado faltando 8% dos genes a serem decifrados. Mais tarde, em 2021, um consórcio científico T2T afirmou que havia alcançado parte desses genes, porém, alguns permanecem até hoje fora do alcance dos geneticistas.

De toda forma, desde o que foi revelado no início dos anos 2000, nós já sabemos muito mais sobre a função de diversos genes e seu papel em diferentes tipos de doenças. É por isso que foi possível o surgimento da Medicina Personalizada sobre a qual você vai aprender muito mais a seguir.

Fundamentos da Medicina Personalizada

Um dos modelos aceitos hoje para definir a Medicina Personalizada é o chamado modelo dos 4 Ps. Segundo ele, a MP tem a capacidade de predizer, prevenir, personalizar e ser participativa no que se refere ao papel do paciente no próprio tratamento.

Mas o que nós podemos entender com cada uma dessas etapas? Bom, começando pelo “predizer”, esta etapa significa ser capaz de identificar o risco ou suscetibilidade de resposta de uma pessoa a um determinado tratamento.

A partir daí, a coisa já fica mais óbvia. Uma vez que o médico descobre a tendência de uma pessoa a uma determinada doença, ele tem a chance de intervir para sua prevenção precocemente.

Personalizar diz mesmo sobre seu potencial para transformar o tratamento da pessoa de acordo com o perfil genético dela e da enfermidade em questão. E, por fim, há um convite mais intenso do que em outras especialidades para que o paciente esteja à frente de todas essas decisões.

Em resumo, o objetivo da Medicina Personalizada é encontrar a abordagem certa para cada indivíduo, sim. Mas, sobretudo, no tempo certo, para que sua predisposição sequer evolua para um quadro de enfermidade, muito menos que ponha sua vida em risco.

Qual é a promessa para o futuro?

Em geral, uma doença não possui uma única causa, sendo multifatoriais. Isso torna complexo o trabalho de qualquer médico na busca por uma solução eficaz para a dor do seu paciente. Após realizar diversos exames, cabe ao profissional cruzar as informações descobertas com seus conhecimentos técnicos.

Logo, os testes genéticos não podem ser vistos como “a única resposta”. A sua importância está em oferecer dados específicos sobre cada paciente e reduzir drasticamente o número de alternativas a serem investigadas.

Por exemplo, existem doenças raras que acontecem devido a alterações em um único gene que, às vezes, sofre pouca influência do meio ambiente. Em contrapartida, o diabetes, o Alzheimer e a depressão são algumas enfermidades que podem provir de múltiplas alterações em múltiplos genes.

É aqui que a Medicina Personalizada vira o jogo. Estamos falando do 0,1% de diferenças genéticas que existem entre o material genético de todos os seres humanos. Apesar de parecer um número irrisório, este percentual corresponde a três milhões de letras bioquímicas.

Estimativas da Personalized Medicine Coalition já prometeram que, com a MP, conquistaremos um cenário onde:

  • 17 mil AVCs seriam evitados por ano*;
  • 34% menos quimioterapias seriam administradas para câncer de mama*;
  • 35% pacientes a mais conseguiriam um diagnóstico para suas doenças*.

*Todos esses números são em relação aos Estados Unidos.

Especialidades que podem ser [ou já são] beneficiadas pela MP

Oncologia

Se você acompanha notícias sobre celebridades, talvez se lembre de quando Angelina Jolie decidiu passar por uma dupla mastectomia a fim de prevenir o câncer de mama. A atriz, que perdeu a mãe muito jovem por causa da doença, recorreu à Medicina Personalizada para tomar sua decisão.

Foi por meio de um teste genético que ela descobriu ter herdado os genes BRCAVV 1 e 2. Em mulheres cisgnênero, sua presença indica uma predisposição de 60 a 80%  ao câncer de mama e de 40 a 60% ao câncer de ovário.

Outros tipos de exames, com base em diferentes biomarcadores, é possível descobrir se há doença, se há risco de desenvolvê-la, em qual estágio ela está e a toxicidade dos medicamentos à pessoa. Estes biomarcadores foram identificados a partir de proteínas de DNA e RNA e até de lipídeos.

A opinião do diretor executivo do Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba (Cecan) é de que “a Medicina Personalizada veio para substituir a quimioterapia”. Isso porque certos tratamentos com base genética atacam somente as células cancerosas, garantindo mais qualidade de vida ao paciente.

Já existem também farmogênicos que exigem a necessidade prévia de um teste genético para sua administração ser eficaz e com menor risco de toxicidade. Um exemplo é o Trastuzumabe, que foi desenvolvido para bloquear o crescimento de células cancerígenas enquanto preserva as normais.

Psiquiatria

É bastante comum ouvir jovens conversando sobre os medicamentos que tomam para manter sua saúde mental em dia. Talvez você já tenha participado e saiba citar o exemplo de alguém que se adaptou bem a um remédio que outro amigo não conseguiu manter como tratamento.

Isso acontece porque a forma como cada organismo responde a agentes químicos pode variar. Do mesmo modo, varia também a sua eficácia em resolver o problema do indivíduo doente.

De acordo com um estudo publicado no American Journal of Psychiatric, não há embasamento científico para o uso de farmogênicos em pacientes psiquiátricos. Porém, os recursos da Medicina especializada podem, sim, servir como ferramenta para prever e, assim, evitar efeitos colaterais, por exemplo.

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