Estágio e carreira

É bom manifestar meu orgulho por ser LGBTQIAPN+ no LinkedIn?

Se você tem dúvidas quanto a manifestar o seu orgulho LGBTQIAPN+ no LinkedIn, esse texto vai te ajudar a tomar uma decisão.

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Em junho, comemora-se o mês do Orgulho LGBTQIAPN+ em lembrança à rebelião de Stonewall, que ocorreu na cidade de Nova York em 1969. O acontecimento acabou sendo o estopim de um dos maiores movimentos por direitos civis já documentado e do qual todas as gerações posteriores colheram seus frutos.

No Brasil, algumas dessas conquistas foram: o direito ao casamento homoafetivo em 2011, a criminalização da transhomofobia em 2019 e o fim da proibição para doação de sangue em 2020. Tudo isso corroborou para um cenário de maior segurança, que permite às pessoas da comunidade sentirem-se mais à vontade para serem de fato quem elas são.

Uma prova disso são as manifestações que acontecem no LinkedIn. Tornou-se comum ver ao lado do nome das pessoas os emojis que representam sua identidade de gênero e orientação sexual publicamente em seus perfis.

No entanto, nem todos aderiram a esse movimento. Logo, é natural que para qualquer pessoa recém-chegada ao mercado de trabalho, como você, isso seja um motivo de dúvida. Nosso redator, que é abertamente trans e gay, escreveu este texto para que te ajudar seja qual for a sua decisão.

Uma questão de segurança

Pensou “esconder-se”? Pensou errado. Muitas pessoas têm receio de manifestarem sua identidade de gênero e/ou orientação sexual no LinkedIn por sentirem que podem perder oportunidades de emprego, o que, infelizmente, ainda é uma realidade.

Isso, porém, abre espaço para uma pergunta importante: como você acha que deve ser o ambiente dessa empresa que deixa de contratar por preconceito? Será que vale a pena?

Uma pesquisa feita em 2022 pela própria rede social divulgou que quatro em cada 10 pessoas LGBTQIAP+ relatam já ter sofrido discriminação no trabalho. O índice representou um aumento de 23% em relação a 2019, sendo maior o número de pessoas sofrendo com piadas e comentários homofóbicos.

Vários transtornos estão ligados a este tipo de abuso verbal, responsável por comprometer a saúde mental da vítima. Alguns deles são: estresse crônico, ansiedade generalizada, depressão, pensamentos suicidas, automutilação e abuso de álcool e substâncias.

Neste cenário, manifestar o seu orgulho publicamente é uma forma de prevenir-se de empresas que não tenham o respeito à diversidade em sua cultura. Não é exagero dizer que se trata de uma questão de segurança.

Dessa forma, você talvez não tenha que passar por situações de violência nem precise esconder quem é para não ser atacado diretamente. E isso não tem preço.

Leia também: Como a Medicina contribuiu para a luta por direitos LGBTQIAPN+

Empresas têm buscado por diversidade

As pesquisas de diversidade em formulários de seleção estão cada vez mais comuns e há um motivo para isso. Um dos efeitos da recente reverberação das políticas de ESG foi o aumento do número de vagas com foco em diversidade no mercado de trabalho brasileiro.

Mesmo negócios de setores mais conservadores, como o automotivo e o financeiro, têm criado suas próprias ações afirmativas para tornarem-se mais inclusivas. Dois exemplos são o Itaú e a Ford, que passaram por um processo de readaptação de suas políticas internas.

Há um motivo prático para essa mudança. Uma pesquisa da Deloitte revelou que as lideranças das empresas têm percebido os benefícios da diversidade para o desempenho do trabalho.

Os resultados mostram que 93% dos entrevistados afirmaram que contribui para a inovação, 92% que gera valor aos negócios e 90% que reduz a rotatividade. Quem está de olho nessas pesquisas já entendeu que, querendo ou não, contratar pessoas LGBTQIAPN+ pode ser um ativo valioso.

Dentre as 38 empresas que apresentam melhores condições para essa comunidade trabalhar, as cinco primeiras são: Adidas do Brasil, Carrefour, Gerdau, J.P. Morgan, Localiza e Via. Candidatar-se nesses processos, inclusive como trainee, pode ser uma boa escolha.

Além disso, demonstrar quem você é de verdade abre portas para que as oportunidades ideais batam à sua porta. Especialmente em mercados criativos, como o publicitário e o cinematográfico, há uma necessidade grande de novas narrativas que apenas pessoas com lugar de fala são capazes de suprir efetivamente.

Por fim, sua manifestação pode ser vista como sinal de autoconfiança – uma soft skill muito importante para exercer qualquer cargo. Portanto, se sentir à vontade com tal decisão, saiba que você pode atrair a admiração de muitos players do mercado.

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Ainda há muito preconceito e setores menos inclusivos

Respeitar o próprio tempo é muito importante, principalmente, quando se está empregado em uma empresa na qual você não pode confiar 100%. Um estudo realizado com profissionais de recursos humanos de 14 estados revelou que 38% das indústrias e organizações têm restrições para contratar pessoas LGBTQIAPN+.

Ou seja, é mais do que compreensível fazer parte dos 61% dos funcionários brasileiros que escolhem esconder de colegas e gestores sua orientação sexual. Caso você tenha dúvida quanto ao clima da sua empresa, vale relembrar quais são os setores mais conservadores para se prevenir antes de se decidir.

Para lésbicas e mulheres trans, os setores menos inclusivos são: a área de programação, onde 75% da força de trabalho são homens; na indústria, ocupada 63% por eles; e na construção civil – a mais excludente, com 94,4% do corpo colaborativo masculino.

Assim, talvez o mais seguro para quem ainda não manifesta seu orgulho no LinkedIn é dar um passo atrás. Estamos falando de, primeiramente, ser contratado em uma empresa que respeita a diversidade para, depois, adicionar a bandeira que lhe representa ao lado do seu nome de usuário.

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Como denunciar casos de LGBTfobia no ambiente de trabalho

Como dissemos no início, transhomofobia é crime, e a pena prevista é de um a três anos, com a possibilidade de chegar a cinco em casos mais graves. A lei foi criada para proteger quem pertence à comunidade e fazer justiça pela sua dignidade.

Assim, caso você sofra ou presencie uma situação de preconceito, o primeiro passo é registrar um Boletim e Ocorrência em uma delegacia. Visto que a denúncia pode ser movida tanto contra o agressor quanto contra a empresa onde se trabalha, também é recomendado relatar o ocorrido internamente.

O ideal é recorrer aos canais de compliance da empresa ou ao setor de recursos humanos. Mas, caso isso não seja uma possibilidade, você também pode informar os seus superiores sobre o ocorrido por e-mail para que haja a documentação do fato.

Veja outras dicas sobre como apresentar-se no mercado de trabalho por meio de outros artigos do nosso blog. A seção Estágio e carreira é dedicada exclusivamente para isso!