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Efeitos colaterais: como explicá-los para os pacientes e qual o seu papel na indústria farmacêutica?

A seguir, você vai aprender várias curiosidades sobre o universo complexo e intrigante dos efeitos colaterais na Medicina.

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Os efeitos colaterais são reações ocasionais, ou seja, que estão além do propósito terapêutico da medicação ou do tratamento, podendo ser positivas ou negativas. Da mesma forma, a intensidade da sua ocorrência e sua duração também são aleatórias: de leve e temporária até reações graves e potencialmente fatais.  

Na bula de todo remédio, encontramos os efeitos colaterais previsíveis. São estas as possíveis consequências que os cientistas conseguem prever para o uso do medicamento de acordo com os seus mecanismos de ação.

Entretanto, há também os efeitos colaterais inesperados – que acontecem sem aviso prévio. Isso não significa que sejam necessariamente maléficos à saúde e ao bem-estar do paciente, mas apenas que, ao longo dos estudos e testes que o desenvolveram, não houve uma reação desse tipo que valesse ser registrada.

Embora arriscados, algumas dessas reações imprevistas já se provaram muito valiosas para a indústria farmacêutica, visto que podem servir como insumo para a criação de novos remédios para outros problemas. Mas, mesmo estes efeitos colaterais, podem ser benéficos somente para uma parcela específica da população.  

É por isso que os efeitos colaterais causam tanta aversão nas pessoas, sendo a razão de outro obstáculo para o tratamento: o efeito nocebo. A seguir, vamos explicar o que isso significa, a forma ideal de abordar o assunto durante uma consulta e, claro, outras curiosidades sobre esse tema tão complexo e interessante. Vamos lá?

Saber os efeitos colaterais pode ser ruim?

Os efeitos colaterais dos medicamentos são uma razão comum para que os pacientes não cumpram o tratamento prescrito regularmente, e este receio não é infundamentado. Cerca de 8% das internações hospitalares acontecem devido a reações medicamentosas adversas.

No entanto, trata-se de uma minoria de casos em um cenário onde remédios, vacinas e demais avanços da Medicina estão por trás do aumento da longevidade humana mundialmente. Mesmo assim, o simples fato de saber os possíveis impactos negativos de um tratamento pode atrapalhar a sua eficácia em um paciente desconfiado.

Estamos falando sobre o efeito nocebo: um fenômeno psicológico no qual uma pessoa experimenta efeitos colaterais negativos de um tratamento devido às suas expectativas até quando o tratamento em si não tem propriedades prejudiciais. Trata-se do oposto do efeito placebo, onde um tratamento inativo é capaz de auxiliar devido à crença na eficácia.

As principais características do efeito nocebo incluem:

  • Expectativas negativas: há um aumento da probabilidade da pessoa realmente experienciar s efeitos colaterais previstos;
  • Psicossomático: acontecem sintomas reais e perceptíveis, sem que haja uma base física direta no tratamento, sendo resultado de preocupações, medo ou ansiedade em relação ao tratamento.

Por exemplo, se um paciente está informado de que um medicamento pode causar dor de cabeça como efeito colateral, ele pode começar a sentir dores de cabeça simplesmente devido à expectativa e à ansiedade associadas ao uso do medicamento. Isso pode acontecer mesmo que a dor de cabeça não seja uma consequência real do medicamento.

Como os médicos devem abordar o assunto

O médico precisa ser totalmente transparente com seus pacientes. Até porque existem efeitos colaterais graves, como reações alérgicas severas, que podem colocar em risco a vida caso não seja feita uma intervenção imediata junto à interrupção do medicamento.

Já os sintomas mais leves são, por vezes, mais toleráveis quando comparados aos benefícios proporcionados pelo tratamento. Além disso, muitos desaparecem por conta própria, conforme o corpo se acostuma à presença do remédio no organismo.

Assim, o importante a se saber é como abordar os efeitos colaterais durante qualquer consulta. O ideal é que a conversa tenha um tom equilibrado e informativo, apresentando os lados positivos e negativos, possíveis e garantidos, de cada medicação.

O médico pode, por exemplo, evitar uma descrição exagerada ou alarmante para evitar o efeito nocebo, sem deixar de ser claro e justo. Essa atitude pode ajudar a prevenir a antecipação e o medo desnecessários, que talvez alterem a eficácia do tratamento mesmo que o uso seja feito exatamente da forma prescrita.  

Não é errado também enfatizar que nem todos os pacientes experimentarão esses efeitos, visto que se trata de uma informação verídica. Outra boa alternativa é oferecer exemplos de como gerenciar sintomas comuns e colocar-se à disposição para um acompanhamento regular a fim de reduzir a ansiedade e melhorar a adesão ao tratamento.

Além disso, criar um ambiente aberto e encorajador onde os pacientes se sintam à vontade para discutir qualquer preocupação também pode ajudar a evitar o efeito nocebo. Ao ouvir atentamente e responder às preocupações sem reforçar a ideia de que os efeitos colaterais são inevitáveis, os médicos podem minimizar a influência das expectativas negativas.

Efeitos colaterais que deram origem a outros medicamentos

Frequentemente, a indústria farmacêutica é presenteada com efeitos colaterais que têm potencial benéfico, podendo surgir de forma inesperada ou prevista. Muitos deles são a base de vários medicamentos, sendo alguns bastante famosos entre os brasileiros. Quatro exemplos são:

Minoxidil

Desenvolvido a parti de um efeito colateral adverso de um medicamento para pressão alta na década de 1970. O remédio aumentava o crescimento de pelos e cabelo e isso acabou se tornando um insumo para tratamentos de queda capilar, especialmente a calvície masculina, que é mais comum.  

Caladryl

O tratamento com defenidramina, comum para condições alérgicas, tem o efeito colateral de sonolência. Para adultos com problemas de alergia e dificuldade para dormir, o efeito sedativo pode ser útil. Assim, foi criado um remédio baseado nessa reação na forma de pastilhas, xarope e loção. No entanto, seu uso regular e/ou prolongado não é recomendado, pois pode aumentar o risco de demência.

Viagra

Originalmente desenvolvido como tratamento para pressão alta e angina, não demorou muito para que pacientes com pênis percebessem que o medicamento poderia provocar ereções em 30 a 60 minutos. A partir dessa descoberta, o uso do sildenafil para disfunção erétil foi aprovado em 1998.

Ozempic

Este medicamento foi desenvolvido para tratar diabetes, mas os primeiros usuários notaram redução do apetite e perda de peso significativa. Agora, várias formulações desses medicamentos são prescrevidas off – label por médicos de todo o país para tratar pacientes com sobrepeso e obesidade.  

Pesquisadores já encontraram mais de 450 relatos de efeitos colaterais com potencial benéfico inesperados de vários remédios desde 1991. É possível, inclusive, que este seja um valor subestimado, uma vez que os formulários de relato não pediam especificamente ou rotulavam esse tipo de reação.

Inovação para a indústria farmacêutica: das descobertas inesperadas à pesquisa intencional  

Enquanto a descoberta de medicamentos úteis pode surgir inesperadamente, os desenvolvedores de medicamentos estão cada vez mais ligados no potencial dos efeitos colaterais. Assim, eles utilizam uma abordagem mais intencional, buscando novos usos baseados em resultados existentes.  

Por exemplo, um medicamento relatado como causador de redução da sudorese como efeito colateral pode ser eficaz para a hiperidrose - uma condição marcada por suor excessivo. Ou um remédio que causa queda de pressão adversa pode se tornar útil para controle da hipertensão, e por aí vai.

Foi o movimento de cuidado do registro e a divulgação de efeitos colaterais abertamente que tornou esse método de identificação de medicamentos para reaproveitamento uma opção mais realista. Desde então, mesmo reações negativas para certas pessoas podem ter um lado positivo para outras.  

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