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Orgulho LGBTQIAPN+: 5 cuidados que médicos e profissionais de saúde precisam ter com pessoas intersexo

Veja quais atitudes você ainda precisa desenvolver para se tornar um profissional inclusivo e preparado.

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Em junho de 1969, a Revolta de Stonewall abriu o caminho para a conquista de direitos para a comunidade LBTQIAPN+ nos Estados Unidos – o que reverberou por todo o Ocidente. Desde então, avanços têm sido conquistados, mas ainda há um longo caminho para combater violações e garantir saúde digna e respeito às pessoas que fazem parte dessa comunidade.  

Na sigla, “I” significa “Intersexo”, representando as pessoas que nascem com características sexuais – incluindo genitais, padrões cromossômicos e glândulas, como testículos e ovários –ambíguas. Ou seja, que correspondem tanto ao sexo feminino quanto ao masculino.

Essas características podem ser expressas em diferentes formas e graus, sendo incorreto o seu uso para determinar orientação sexual ou identidade de gênero. Uma pessoa intersexo pode se identificar ou não com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento, sendo cis ou trans, respectivamente. Também é possível que seja hétero ou homossexual.  

Médicos e profissionais de saúde desempenham um papel fundamental nessa jornada de autodescobrimento e validação social da intersexualidade. É essencial que compreendam e reconheçam esse espectro para prestar um bom serviço, acolhendo seus pacientes em suas singularidades.

Explicamos abaixo como deve ser um atendimento humanizado e baseado em direitos humanos. Veja quais atitudes você ainda precisa desenvolver para se tornar um profissional completo.  

1. Respeite a autonomia e o consentimento informado

O princípio fundamental no cuidado com pessoas intersexo é garantir que decisões médicas sejam tomadas com seu consentimento plenamente informado. Cirurgias genitais precoces, muitas vezes realizadas sem urgência clínica, por decisão dos pais ou de responsáveis legais, violam esse direito e podem causar danos irreversíveis à saúde física e emocional.

Priorizar a autonomia significa permitir que a própria pessoa, quando possível, participe ativamente das escolhas sobre seu corpo. No caso de crianças, adolescentes e adultos que não estejam no pleno uso de suas faculdades mentais, o médico pode se recusar a fazer a intervenção estética e deve comunicar o fato às autoridades competentes, como o Ministério Público e o Conselho Tutelar, visando o melhor interesse do paciente.

Além disso, todo profissional de saúde deve fornecer informações claras e acessíveis sobre procedimentos, riscos e alternativas, assegurando que a pessoa intersexo ou seus responsáveis compreendam todas as implicações. Afinal, o consentimento verdadeiro só existe quando há liberdade de escolha, sem pressão ou desinformação.

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2. Ofereça um acompanhamento personalizado

Como mencionamos anteriormente, cada pessoa intersexo possui necessidades específicas que demandam avaliação personalizada, considerando tanto aspectos clínicos quanto psicossociais. É essencial equilibrar o monitoramento médico com o respeito à diversidade corporal, evitando tratamentos padronizados que nem sempre se aplicam.

O cuidado deve focar no bem-estar integral, realizando exames apenas quando clinicamente relevantes e sempre em diálogo com o paciente. Priorize o manejo de condições que afetam a saúde, como desequilíbrios hormonais, sem transformar diferenças naturais em patologias a serem corrigidas.

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3. Use terminologia e linguagem adequadas

A escolha cuidadosa de termos é fundamental para desconstruir estigmas e reconhecer as variações intersexo como expressões naturais da diversidade humana. Substituir expressões médicas como "distúrbios" por "variações" ou "características diversificadas" promove uma abordagem mais respeitosa e menos patologizante.

Também é primordial sempre consultar a pessoa intersexo sobre sua identidade de gênero, pronomes e nome social, para que ela se sinta respeitada e possa se autoexpressar livremente. Essa prática simples, porém, poderosa, fortalece a relação terapêutica e demonstra compromisso com a dignidade e os direitos humanos do paciente.

4. Conheça outros profissionais para indicar

Você pode ser a ponte entre o seu paciente e o tratamento multidisciplinar que ele merece. Para pessoas intersexo e outros membros da comunidade LGBTQIAPN+, consultar por indicação traz maior segurança, reduzindo o medo sobre possíveis abusos nessas circunstâncias.

Construir uma rede de profissionais especializados - incluindo psicólogos, endocrinologistas e advogados, por exemplo, é uma forma de garantir um atendimento integral às pessoas intersexo que atender. Essa abordagem colaborativa garante que todas as necessidades, desde as médicas até as psicossociais e legais, sejam adequadamente endereçadas.

Mais adiante em sua carreira, invista na formação continuada de sua equipe para que essa rede de bons colegas profissionais continue crescendo. Assim, será mais fácil e natural que outros pacientes, depois, tenham sua primeira consulta de forma humanizada.  

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5. Aborde fertilidade de forma não presumida

A fertilidade em pessoas intersexo varia significativamente, exigindo uma avaliação caso a caso sem suposições prévias, que podem ser constrangedoras. Ofereça orientação de forma personalizada, explicando as possibilidades reais de reprodução para o seu paciente sem criar expectativas ou desesperanças infundadas.

Além da fertilidade, aborde temas como sexualidade e prazer, especialmente para quem passou por intervenções genitais precoces, caso a pessoa demonstre interesse. Fornecer informações claras sobre anatomia e funcionamento sexual ajuda a promover uma vida sexual saudável e satisfatória.

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