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Xenotransplantes: o que são e como funcionam?

Saiba como funcionam os transplantes de órgãos com animais e os critérios legais atrelados a esses procedimentos.

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Hoje, vamos te contar como estão os xenotransplantes no Brasil e no mundo. Esse conceito se refere à troca de órgãos entre diferentes espécies de animais. Atualmente, inúmeros centros de pesquisa, tanto nacionais quanto estrangeiros, estão investindo nessa prática.

Em todo o mundo, os resultados mais promissores têm sido obtidos com o uso de porcos geneticamente modificados. Devido à similaridade anatômica e fisiológica com os humanos, os órgãos de suínos têm sido bem aceitos em transplantes.

Vamos apresentar um breve panorama sobre o tema e sua história ao longo do tempo. Saiba como são realizados os xenotransplantes, as diferenças em relação aos transplantes com órgãos humanos e os cuidados envolvidos nessa prática. Boa leitura!

O xenotransplante ao longo da história

Ao longo da história, o transplante de órgãos sempre envolveu um trabalho multidisciplinar, que integra médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outras áreas. Nos últimos anos, o xenotransplante tem sido bastante estudado, já que oferece múltiplas possibilidades de reduzir a fila de transplantes.

Na década de 1990, os xenotransplantes foram proibidos devido a preocupações com a saúde. As autoridades de vigilância sanitária temiam o risco de infecção por retrovírus provenientes de animais. Assim, o transplante com órgãos de animais foi proibido em escala mundial, e em alguns países, a suspensão durou mais de uma década.

Atualmente, as pesquisas sobre xenotransplante têm avançado significativamente e são bastante promissoras nos grandes centros internacionais. Embora ainda seja um tratamento médico experimental, as perspectivas de sucesso são altas.

Recentemente, a Universidade de São Paulo (USP) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) assinaram um acordo para investimento de R$10 milhões em pesquisa em xenotransplantes, segundo o Jornal da USP. Para o Brasil, esse é um avanço significativo, pois coloca o país em destaque nessa área em toda a América Latina.

Como é feito o transplante de órgãos de animais

Com o avanço da engenharia genética, os cientistas conseguiram superar vários obstáculos nos xenotransplantes. Agora é possível silenciar os genes dos suínos que causam rejeição em humanos. Esses processos são realizados seguindo rigorosos padrões de biossegurança, semelhantes aos aplicados na medula óssea.

Como se trata de uma pesquisa experimental, ainda não se sabe exatamente quantos genes precisam ser silenciados para garantir um transplante mais seguro. No entanto, isso é apenas uma questão de tempo, já que há uma intensa "corrida científica" para alcançar essa descoberta.

Embriões geneticamente modificados

Com base na nova técnica de engenharia genética, os pesquisadores realizam a inativação do retrovírus suíno. Utilizando metodologias de fertilização in vitro, eles manipulam o DNA do ovo fecundado antes de transformá-lo em embrião.

Esse processo consiste na remoção de parte da cadeia genética que produz enzimas e proteínas responsáveis pela rejeição em humanos. Em seguida, os materiais geneticamente modificados são introduzidos em porcas, que atuam como “barrigas de aluguel”.

Os embriões modificados desenvolvem-se em filhotes aptos para doação de órgãos para humanos. Para evitar contaminação, as porcas e os filhotes são alocados em ambientes completamente estéreis.

Diferenças para os transplantes com órgãos humanos

Segundo os pesquisadores, os testes com órgãos de porco são justificados pela semelhança anatômica e genética desses animais com os humanos. A disponibilidade limitada e os problemas de rejeição com órgãos humanos tornam os xenotransplantes uma alternativa viável.

Os órgãos de porcos, como rim, coração e fígado — os mais necessários para transplantes no Brasil e no mundo — são bastante semelhantes aos humanos, aumentando a probabilidade de sucesso nesses procedimentos.

Outro ponto relevante é a disponibilidade e o rápido crescimento dos suínos. Eles atingem a idade e o peso adulto rapidamente e, por não estarem em risco de extinção, isso torna os xenotransplantes uma solução promissora para o futuro da Medicina.

Silenciamento dos genes de rejeição

Em linhas gerais, a rejeição é a principal dificuldade associada ao transplante de órgãos de porcos em humanos. Isso ocorre devido a certos antígenos específicos dos suínos que são incompatíveis com o organismo humano.

Por isso, as pesquisas estão focadas em mecanismos para “silenciar” esses genes e, assim, reduzir os riscos de rejeição. Além disso, problemas como contaminação e o desenvolvimento de doenças também estão sendo cuidadosamente abordados para otimizar esses procedimentos.

Experiência bem-sucedida nos EUA

Nos últimos anos, alguns procedimentos trouxeram resultados promissores para os seus idealizadores, como também para os pacientes. Nos Estados Unidos, por exemplo, em abril de 2024, foi realizado o primeiro transplante bem-sucedido do planeta.

Um paciente de 62 anos, com insuficiência renal crônica, conseguiu abandonar a hemodiálise ao receber um rim de porco geneticamente modificado. Esse feito ganhou notoriedade e foi visto com bons olhos para as demais instituições que seguem com pesquisa nessa linha.

Portanto, esse transplante com órgãos de animais trouxe novelas esperanças para um grande público que necessita de transplante de órgãos. A cirurgia teve 4 horas de duração e foi realizada pela equipe médica de um hospital em Boston, vinculado à Universidade Harvard.

Biossegurança nos xenotransplantes

Temáticas como o transplante de órgãos envolvendo humanos e tecidos de animais costumam ser cobradas nos vestibulares de Medicina. Portanto, convém estar sempre atento a esses assuntos, sobretudo se você almeja atuar como médico desse nicho.

Em tese, esse é um procedimento delicado, regido por legislações específicas, como a Lei 9.434/1997. Com o avanço das ciências médicas, os transplantes ganharam maior notoriedade. Portanto, o uso de novas tecnologias médicas otimizaram os processos que envolvem transplante com órgãos de animais. Para isso, medidas de segurança e a atenção à bioética são parte integrante desses procedimentos.

Por fim, os xenotransplantes com suínos podem ser a alternativa da ciência na escassez de órgãos para essa finalidade. No Brasil, há mais de 32 mil pacientes na fila de espera por um rim. Logo, isso representa tanto um avanço expressivo da Medicina quanto um fio de esperança para quem tem doença renal grave.

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