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TDAH, Autismo e Dislexia: entendendo a diferença entre cada transtorno

Neste artigo, vamos explicar as principais diferenças entre TDAH, autismo e dislexia. Veja as particularidades de cada transtorno.

8
minutos de leitura

Saber as diferenças entre TDAH, TEA e dislexia é importante para direcionar as melhores abordagens e minimizar os impactos desses transtornos. Ainda que tenham similaridades comportamentais, existem algumas peculiaridades que diferenciam esses quadros. Tendo isso em vista, vamos explicar algumas características dessas condições.

Neste texto, saiba o que é o Transtorno de Desenvolvimento, Atenção e Hiperatividade (TDAH), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a dislexia. Ainda, conheça as intervenções mais eficazes e o que fazer para lidar com pessoas que apresentam essas particularidades. Boa leitura!

O que é TDAH?

Caracterizado como um transtorno do neurodesenvolvimento, o TDAH é uma condição que apresenta uma tríade comportamental clássica, assim definida pela Medicina:

  • desatenção;
  • impulsividade;
  • hiperatividade.

As manifestações neurobiológicas do TDAH podem ter causas multifatoriais. No entanto, as heranças familiares e genéticas são as hipóteses mais prováveis. Em geral, o TDAH costuma aparecer na infância, mas os sintomas podem acompanhar a pessoa por toda a vida.

Sinais de TDAH

Não existe uma idade predeterminada para a manifestação dos primeiros sintomas do TDAH. Contudo, as manifestações mais comuns podem ser percebidas até mesmo nos primeiros anos de vida da criança.

Listamos os sinais que ajudam no reconhecimento desse transtorno. Observe:

  • agitação;
  • inquietação;
  • movimentação constante pelo ambiente;
  • hábito de mexer mãos e pés;
  • dificuldade para ficar quieto;
  • fala em excesso;
  • dificuldade de permanecer atento em atividades longas;
  • esquecimento de tarefas escolares e de materiais na própria escola.

Outra característica marcante no TDAH é a impulsividade, que pode se manifestar de diferentes formas em crianças. As mais frequentes são:

  • dificuldade para esperar a sua vez de falar ou brincar;
  • interrupção frequente dos outros;
  • agir sem pensar;
  • dificuldade para se organizar e planejar a rotina;
  • rendimento escolar aparentemente inferior ao esperado para o perfil intelectual.

Vale destacar que, no sexo feminino, os sintomas de hiperatividade e impulsividade são mais brandos. Porém, as meninas são igualmente dispersas e desatentas.

Um estudo afirmou que cerca de 60% das crianças e adolescentes com diagnóstico confirmado de TDAH entrarão na vida adulta com boa parte dos sintomas desenvolvidos na infância. Os mais prevalentes são ligados à desatenção, falta de concentração, hiperatividade e impulsividade.

Fatores de risco

Ainda que o transtorno tenha mais relação com questões genéticas e ambientais, alguns fatores de risco podem elevar as chances de sua ocorrência. Os mais comuns são:

  • baixo peso ao nascer (< 1.500 g);
  • traumatismo craniano;
  • deficiência de ferro;
  • apneia obstrutiva do sono;
  • exposição fetal ao álcool, tabaco e cocaína;
  • experiências adversas na infância.

Diagnóstico e tratamento

O TDAH é um dos transtornos de maior demanda nos atendimentos infantis da atenção primária à saúde. A orientação dos psiquiatras é que ele seja tratado com intervenções múltiplas e combinadas.

Os melhores resultados geralmente ocorrem quando há a combinação de medicamentos para controle dos principais sintomas e psicoterapia. Se houver transtornos de fala, pode-se sugerir o acompanhamento complementar com fonoaudiologia.

TDAH no Brasil

De acordo com estatísticas divulgadas pela Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), a prevalência mundial estimada de TDAH é de aproximadamente 7,2%. Em 2022, foi realizado um estudo epidemiológico no Brasil que incluiu variáveis destinadas a compreender o perfil dos pacientes diagnosticados com esse distúrbio.

Entre os principais fatores avaliados, tivemos:

  • local de residência;
  • mês de atendimento;
  • unidade federativa;
  • faixa etária;
  • raça e gênero.

Os resultados confirmaram que, somente em 2022, foram registrados 229.872 atendimentos ambulatoriais de crianças com TDAH. Pela análise regional, o estudo indicou que há maior prevalência da condição nos estados do Nordeste. No Norte, os números de diagnósticos são menos expressivos, quando comparados às demais regiões brasileiras.

Há predominância do transtorno entre os meninos, e a faixa etária mais afetada foi a de 5 a 9 anos. A pesquisa destacou que há muita desigualdade no acesso ao diagnóstico e tratamento do TDAH. Nos estados do Sudeste e Sul, a assistência à saúde mental é mais abrangente, o que amplia as possibilidades de diagnóstico do transtorno.  

O que é autismo (TEA)?

As principais características do TEA incluem a dificuldade de comunicação, de socialização e o comportamento limitado e repetitivo. No entanto, esses sintomas variam conforme o nível de comprometimento.

Portanto, o TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento, sendo classificado em três tipos:

  • nível 1: os indivíduos apresentam dificuldades sociais notáveis e podem exibir comportamentos repetitivos e interesses restritos;
  • nível 2: têm déficits mais significativos na comunicação verbal, interação social e comportamento. Podem necessitar de apoio para as atividades de rotina;
  • nível 3: caracterizado por déficits graves na comunicação e interação social. Requer maior suporte para atividades simples e cuidados pessoais.

Fatores de risco

Embora se manifestem principalmente na infância, os transtornos do espectro autista tendem a persistir na adolescência e na idade adulta. Em geral, os sintomas de TEA são reconhecidos nos primeiros 5 anos de vida.

As causas do autismo ainda não estão totalmente esclarecidas. Porém, a hipótese mais provável é a relação com herança genética e maternidade ou paternidade tardia. Logo, os fatores de risco são histórico familiar e gestação após os 40 anos de idade.

O avanço nas tecnologias diagnósticas possibilitou o acesso ao diagnóstico precoce. Além disso, a maior disseminação de informações sobre o autismo contribuiu para a descoberta do transtorno em jovens e adultos.

Diagnóstico e tratamento

O TEA é um transtorno que ainda não tem cura. Contudo, é possível tratar os sintomas com terapias combinadas. Os medicamentos devem ser usados somente em caso de necessidade, quando os sintomas do autismo sinalizam a necessidade de um controle maior.

Por ter um espectro amplo e variado, o tratamento para o autismo deve ser específico e individualizado. Inclusive, compreender o que é o autismo permite abordar melhor as estratégias para reduzir o impacto dos sintomas, considerando que pessoas com TEA são mais suscetíveis a alergias e doenças crônicas.

Nesse processo, é importante estimular a participação ativa dos pais, envolver os familiares mais próximos e oferecer um suporte mais completo com diferentes profissionais. O acompanhamento médico e psicológico é fundamental. Outras áreas importantes para suporte são a pedagogia e a fonoaudiologia.

Autismo no Brasil

Divulgados no site Terra, os dados a seguir foram extraídos do estudo “Retratos do Autismo no Brasil", publicado em 2023. O primeiro deles destaca a projeção do número de autistas no país: estima-se que até 6 milhões de pessoas tenham TEA no Brasil.

Em 2023, o número de matrículas de portadores de TEA aumentou 48%, passando de 429 mil para 636 mil — um aumento de 48%. Desse modo, o Brasil está seguindo as tendências mundiais, já que o número global de diagnósticos de autismo está aumentando de forma acelerada.

O estudo mencionado foi realizado em diversos estados brasileiros, contando com a participação de 2 mil pessoas, entre autistas e cuidadoras. Os participantes foram homens e mulheres de diferentes faixas etárias.

Observe alguns dados relevantes extraídos do material:

  • 65% dos respondentes eram mulheres na faixa etária entre 25 e 34 anos;
  • 24,2% afirmaram ser autistas e pessoas cuidadoras de outro TEA;
  • 49% afirmaram ter alguma doença crônica ou secundária;
  • as doenças relatadas mais comuns foram as gastrointestinais (16%), as respiratórias (10%) e a obesidade (6%);
  • 7,26% dos autistas alegaram que já atentaram contra a própria vida, e 17,29% têm familiares com ideação ou suicídio concretizado.

O que é dislexia?

A dislexia é um transtorno específico de aprendizagem, sobretudo de origem neurobiológica. Em geral, o quadro é caracterizado por dificuldades que envolvem o reconhecimento ou a fluência das palavras. Muitas vezes, a pessoa apresenta problemas de decodificação também.

Especialistas afirmam que essas dificuldades geralmente decorrem de dificuldades no componente fonológico da linguagem, podendo comprometer habilidades cognitivas. Com isso, elas podem surgir de forma inesperada, independentemente da idade.

Outro fator relevante é que as características da dislexia são específicas e se diferem dos demais distúrbios do neurodesenvolvimento. No entanto, suas manifestações não apresentam diferenças significativas entre a infância e a vida adulta.

Fatores de risco

Assim como as outras disfunções neurocerebrais, a dislexia também é influenciada por questões genéticas. Há evidências de que alguns fatores, como déficit de atenção, escolarização inadequada, problemas psicoemocionais e outros transtornos psiquiátricos, reforcem os riscos de dislexia.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da dislexia é clínico, ocorrendo por meio da análise do histórico do paciente e da intensidade dos sintomas mais característicos da doença. A avaliação do indivíduo requer participação e opinião multiprofissional. Neurologistas, psicólogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos também devem integrar a equipe.

O tratamento é multidisciplinar: além dos profissionais de saúde, é preciso envolver a família e a escola. Medicamentos para a ansiedade podem ser necessários, mas devem ser utilizados somente com acompanhamento médico.

Sinais de dislexia

Abaixo, listamos as principais manifestações que exigem atenção dos pais e professores quanto à suspeita de dislexia. Confira:

  • dificuldade no domínio da leitura e da escrita;
  • conhecimento pobre de rima;
  • aliteração;
  • desatenção e dispersão;
  • dificuldade em copiar de livros, de lousas e de fazer tarefas de casa;
  • dificuldade na coordenação motora;
  • desorganização da rotina, perda e esquecimento de pertences;
  • confusão para distinguir esquerda e direita;
  • dificuldade em interpretar mapas e dicionários.

Dislexia no Brasil

Dados da BVMS apontam que há cerca de 7,8 milhões de brasileiros com dislexia. Esse número representa em torno de 4% da população do nosso país. Esse percentual é significativo, já que a dislexia é um distúrbio com diagnóstico difícil.

Independentemente da idade do paciente, o ideal é estabelecer o diagnóstico quanto antes. Isso evita a atribuição de rótulos negativos, bullying e outras situações que depreciam a autoestima de quem enfrenta essa condição.

Somado a isso, a educação preventiva e a disseminação de conhecimento sobre a dislexia são cruciais. Elas ajudam na ampliação do acesso às informações necessárias para a correta identificação do quadro e geram benefícios significativos na redução dos prejuízos psicológicos aos pacientes.

Quais são as principais diferenças entre TDAH, TEA e dislexia?

TDAH x TEA

Identificar essas diferenças contribui para uma decisão mais acertada quanto ao tipo de assistência que trará melhores resultados. Para tanto, observe os dados abaixo:

  • o TDAH se manifesta com desatenção, hiperatividade e impulsividade. Já o TEA envolve dificuldades de comunicação e linguagem;
  • o autista se apega a rituais de organização, enquanto o TDAH é mais impulsivo e energético;
  • o autista consegue manter o hiperfoco. Por outro lado, no TDAH, predomina a desatenção;
  • o TEA tem dificuldade de interação social, enquanto o TDAH pode se infiltrar nos grupos, mesmo sem ser convidado.

TDAH x dislexia

Para diagnosticar esses dois transtornos, a avaliação dos sinais ajuda a diferenciar os quadros. Veja:

  • enquanto na dislexia há dificuldade na memorização de atividade verbal, no TDAH, há apenas a dificuldade na memorização não verbal;
  • diferentemente do TDAH, quem tem dislexia não consegue memorizar canções e perceber rimas;
  • o disléxico tem muita dificuldade com provas escritas, enquanto as pessoas com TDAH não apresentam esse problema.

TEA x dislexia

Uma das principais diferenças entre o TEA e a dislexia se encontra no padrão do transtorno. O autismo é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento, cujos portadores podem ter, inclusive, altas performances. Já na dislexia, existe o déficit de aprendizagem.

Inclusive, indivíduos com TEA podem apresentar um tipo específico de dislexia — a hiperlexia. Essa condição se caracteriza pela habilidade precoce de leitura, que o autista desenvolve de forma autodidata, mesmo sem ter sido formalmente ensinado. No TEA, a dislexia é preocupante quando o distúrbio é de grau avançado.

Outro aspecto que envolve o cuidado com o TDAH, o TEA e a dislexia é a necessidade de priorizar a educação inclusiva. Igualmente relevante é conscientizar a população sobre a importância de aprender a lidar com pessoas com diferentes transtornos. O cuidado profissional especializado, a inserção social e as oportunidades de trabalho são medidas que podem viabilizar boas soluções.

Como vimos, é importante reconhecer as particularidades que envolvem transtornos como o TDAH, o TEA e a dislexia. O uso de métodos diagnósticos mais eficazes é essencial para a intervenção precoce. Desse modo, é possível amenizar os sintomas desses quadros e promover o maior bem-estar dos pacientes.

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