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Superfecundação heteroparental: como é possível engravidar de “dois pais” ao mesmo tempo?

A superfecundação heteroparental é o assunto do momento, e nós estamos aqui para explicar a você tudo sobre este raro fenômeno.

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A superfecundação heteroparental é o assunto do momento, mas o nascimento de gêmeos é sempre uma fonte de curiosidades e situações improváveis. É possível, por exemplo, que sejam idênticos ou não por meio de uma gestação univitelina ou bivitelina, respectivamente.

Há também o questionamento sobre quem nasceu antes e, caso o parto aconteça em 31 de dezembro, é possível que cada um nasça num ano diferente. Mas a possibilidade de gêmeos terem pais diferentes pouca gente conhecia até 2024 – quando a série brasileira Pedaço de Mim estreou na Netflix.

Alerta de spolier: a trama conta a história de uma mulher que engravida de dois homens ao mesmo tempo. Quer saber como isso é possível? Então, continue a leitura!

O que é a superfecundação heteroparental?

Trata-se de um fenômeno raro em que gêmeos fraternos, também conhecidos como dizigóticos, têm pais biológicos diferentes. Esse evento ocorre quando uma mulher libera múltiplos óvulos durante um ciclo menstrual e esses óvulos são fertilizados por  espermatozoides de diferentes parceiros sexuais.

A ocorrência desse tipo de gestação é extremamente incomum, com estudos indicando que a frequência é muito baixa. É tão raro que, de acordo com a Sociedade Internacional de Estudos de Gêmeos, foram encontrados apenas três casos de superfecundação heteroparental em um banco de dados com 39 mil registros de testes de parentesco.

Como a superfecundação heteroparental acontece?

Tal evento é uma condição rara por alguns motivos, sendo um deles a necessidade de dois óvulos maduros estarem disponíveis para fecundação em um mesmo ciclo menstrual. Isso é difícil ocorrer porque, em geral, a espécie humana libera apenas um óvulo maduro a cada ovulação.

No entanto, na expectativa biológica de que um único bom óvulo se desenvolva, o corpo inicia esse processo em muitos outros para aumentar as chances de reprodução. Assim, 100 óvulos podem começar juntos, mas o mais provável é que apenas um torne-se apto a fecundar enquanto os outros morrem.

Além disso, a pessoa tem que ter tido relações sexuais com dois homens diferentes para que cada um dos espermatozoides fertilize um dos óvulos disponíveis em um espaço muito curto de tempo. É preciso que aconteça dentro do período fértil - cerca de uma semana.

Isso porque os espermatozoides podem sobreviver no trato reprodutivo feminino por até cinco dias. Já o óvulo permanece viável por cerca de 12 a 24 horas após a ovulação.

Número de gêmeos tem aumentado muito

De acordo com uma pesquisa da Universidade de Oxford, houve um aumento de pelo menos 10% na incidência de gêmeos em mais de 70 países ao longo de 30 anos, com alguns países apresentando um crescimento de até 30%. Esse fenômeno pode ser atribuído a várias mudanças sociais e científicas significativas, incluindo as mudanças na idade das mães e os avanços na ciência médica.

A contribuição do adiamento da gravidez, que aconteceu muito a partir do processo de emancipação feminina, é explicada por meio de um hormônio. Com o envelhecimento, a espécie humana produz mais hormônio folículo estimulante (FSH) para compensar a diminuição do estoque de óvulos com o tempo.

Esse aumento na produção de FSH leva a uma maior ativação dos ovários, com mais óvulos sendo preparados para a fecundação, e, portanto, a uma maior chance de ovular múltiplos óvulos. Um estudo de 2016 revelou que o adiamento da gravidez contribuiu para 38% dos nascimentos de múltiplos entre mulheres negras e 24% entre mulheres brancas.

Além das mudanças na idade em sua maioria das mães, as inovações na Medicina reduziram muito a mortalidade materna e infantil nas últimas décadas. Visto que a gravidez de gêmeos envolve mais riscos para todos os envolvidos, os progressos alcançados no pré-natal e no pós-parto favoreceram este cenário.

Fertilização in vitro e a ocorrência de gêmeos

Outro fator que explica esse aumento é que os tratamentos de fertilização in vitro (FIV) ficaram mais acessíveis nesses últimos 30 anos. Na FIV, os óvulos e espermatozoides são unidos em laboratório para criar embriões, que são então cultivados por alguns dias antes de serem transferidos para o útero.

A fim de maximizar as chances de sucesso do tratamento, é comum transferir mais de um embrião para o útero, o que aumenta a probabilidade de uma gravidez múltipla. Consequentemente, as chances de haver uma gravidez gemelar ou até mesmo trigemelar, com o nascimento de gêmeos e trigêmeos, é muito maior.

Os índices hoje são, inclusive, superiores ao que é recomendado pela (Rede Lationamericana de Reprodução Assistida (Red LARA). Segundo a entidade, a taxa de gestações gemelares não deve ultrapassar 20% e a de trigemelares não deve ser maior que 1%. No entanto, dados de 2014 revelaram taxas de 35,2% e 2,2%, respectivamente.

No entanto, a superfecundação heteroparental in vitro é proibida. Segundo uma resolução de 2022 do Conselho Federal de Medicina (CFM), embriões formados por gametas de pacientes ou doadores distintos devem ser transferidos com origem única para garantir a segurança dos descendentes e a rastreabilidade.

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