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Atenção Primária à Saúde: Como agir diante de um quadro de desnutrição

Identificar quadros de desnutrição é uma das funções do atendimento em APS. Saiba como fazer e veja cinco recomendações de combate ao problema.

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Embora a desnutrição seja definida como uma doença multifatorial, é bastante factível afirmar que grande parte dos quadros de desnutrição relatados no país e no mundo têm raiz na pobreza; em alguns casos, contudo, os maus hábitos alimentares podem influenciar o estado nutricional.

Dados divulgados em novembro de 2021, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, e coletados junto ao Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), do Ministério da Saúde, indicaram que apenas 1 em cada 4 crianças atendidas nos Serviços de Atenção Básica do país faziam, no mínimo, três refeições por dia. Em percentual, isso corresponde a 26% das crianças do país.  Os dados foram coletados durante janeiro e outubro de 2021 e consideraram crianças com idades entre 2 e 9 anos. 

Por outro lado, é necessário considerar também a má qualidade do alimento ingerido. De acordo com dados desse mesmo levantamento, o percentual de crianças que consomem alimentos ultraprocessados é de 85%, bastante superior ao do consumo de frutas e verduras, que chegam aos 77% e 66%, respectivamente.

Como resultado desses e de outros fatores, dados parciais do DataSus (jun/2021) indicam que, entre a população geral, 4.540 pessoas morreram vítimas da desnutrição. Além de estar diretamente associada à mortalidade, o Ministério da Saúde alerta para o fato de que a desnutrição está ligada à ocorrência de doenças infectocontagiosas, prejuízos de desenvolvimento psicomotor (quando ocorre desde a infância), baixo rendimento e capacidade produtiva (na vida adulta).

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Reconhecimento do quadro de desnutrição e abordagem na APS

Uma das premissas da Assistência Primária à Saúde é atuar para oferecer todos os serviços capazes de prevenir e tratar doenças. No Brasil, esse atendimento se dá prioritariamente pela Estratégia Saúde da Família (ESF), composta por equipes de multiprofissionais que implementam e dão continuidade a programas da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). O objetivo é que, por meio desses programas, sejam reduzidos índices de problemas como:

  • Mortalidade infantil;
  • Mortalidade por infecções respiratórias;
  • Diarreia;
  • Doenças cerebrovasculares e cardiovasculares.

Isso significa que o profissional que atua no atendimento ao paciente que chega à porta de entrada, ou seja, à APS, precisa agir em parceria com os agentes de ESF a fim de obter os resultados esperados, visto que os quadros de desnutrição têm, em sua maioria, problemas sociais de grande escala envolvidos.

Avaliação nutricional na prática

O Ministério da Saúde recomenda o uso de algumas ferramentas para a avaliação do estado nutricional dos pacientes que chegam à APS. Essa vigilância consiste na coleta de informações como peso, altura, marcadores de consumo e outros indicadores.

Esse levantamento tem o objetivo de contribuir tanto para a conduta do profissional com relação ao paciente quanto para ajudar a esfera federal a monitorar o estado nutricional da população, já que é solicitado que esses dados sejam informados, por cada município, ao SISVAN.

Veja com mais detalhes das variáveis analisadas durante a avaliação nutricional para crianças acima de dois anos e população adulta e idosa:

  • Estado nutricional de acordo com IMC;
  • Baixo peso;
  • Eutrofia;
  • Sobrepeso;
  • Obesidade;
  • Marcadores de consumo alimentar;
  • Hábito de realizar, ao menos, 3 refeições por dia;
  • Hábito de realizar refeições assistindo à tv;
  • Consumo de feijão;
  • Consumo de frutas;
  • Consumo de verduras e de legumes;
  • Consumo de hambúrguer e/ou embutidos;
  • Consumo de bebidas adoçadas;
  • Consumo de macarrão instantâneo, salgadinho de pacote ou biscoito salgado;
  • Consumo de biscoito doce, recheado ou guloseimas.

Para crianças menores de 2 anos, os indicadores incluem avaliação de:

  • Aleitamento materno exclusivo até 6 meses de idades;
  • Aleitamento materno continuado;
  • Introdução alimentar;
  • Diversidade alimentar mínima;
  • Frequência mínima e consistência adequada;
  • Consumo de alimentos ricos em ferro;
  • Consumo de alimentos ricos em vitamina A.

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5 recomendações a partir dos dados sobre marcadores de consumo alimentar

Em seu guia intitulado Orientações para Avaliação de Marcadores de Consumo Alimentar na Atenção Básica, o Ministério da Saúde faz algumas recomendações com base em possíveis respostas que podem ser oferecidas pelos pacientes avaliados.

Abaixo, você confere algumas dessas recomendações:

  1. Ausência de aleitamento exclusivo antes dos 6 meses do bebê – Recomenda-se desestimular a oferta de outros alimentos à criança e incentivar a oferta exclusiva do leite materno, desaconselhando, inclusive, a oferta de água ou chás.
  2. Falta da introdução de alimentos pastosos de sal na dieta da criança após os seis meses – Esclarecer que a partir dessa idade as necessidades nutricionais são outras e é fundamental que a criança receba, além do leite materno, papa salgada com alimentos do grupo de cereais e tubérculos, um alimento do grupo de legumes e verduras, e outro de origem animal.
  3. Ausência das três principais refeições ao longo do dia – O profissional deverá orientar a manutenção de, ao menos, três refeições diárias (café da manhã, almoço e jantar), com recomendação de acréscimo de lanches nos intervalos das refeições que sejam à base de frutas frescas ou secas, iogurtes ou oleaginosas.
  4. Identificação do consumo frequente/recente de hambúrguer e/ou embutidos – Esclarecer que produtos processados têm níveis elevados de gordura saturada e sódio e devem ser evitados. Em substituição a esses alimentos, deve-se recomendar o consumo de carnes brancas, carnes vermelhas magras ou ovos.
  5. Confirmação do consumo de doces, guloseimas e/ou biscoitos recheados – Orientar sobre o excesso de gorduras e açúcar presente nesse tipo de alimento e estimular o consumo de frutas in natura e suco, sem adição de açúcar, em substituição. 

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