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Como o médico pode e deve atuar em casos de tragédias ambientais

Entenda como é a atuação da FN-SUS quando acontece uma tragédia ambiental e o papel dos médicos que se voluntariam a participar dela.

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O Rio Grande do Sul foi completamente tomado por enchentes no último mês, o que colocou vários municípios em emergência. Cerca de 20 hospitais foram atingidos pelas águas, afetando ainda mais a capacidade local de atender às pessoas que estavam por lá.

De acordo com o Ministério da Saúde, em 15 dias, a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) ultrapassou 3,5 mil atendimentos no estado.

Talvez, esta seja a primeira vez que você esteja lendo sobre esse programa que já existe há mais de uma década. A seguir, contamos em detalhes como é a sua atuação e o papel dos médicos que se voluntariam a participar dela.

O que é a Força Nacional de Saúde do SUS?

Criado em 2011, a Força Nacional do SUS é um programa de cooperação que entra em ação com medidas de prevenção, assistência e repressão em momentos críticos. Podem ser epidemias, tragédias ambientais ou desastres causados pelo próprio ser humano.

Antes da atual missão no Rio Grande do Sul, a FN-SUS atuou em outros quatro eventos de grande impacto, que deixaram a população de um município, distrito ou estado desassistida.  Um deles também foi em terras gaúchas, na cidade de Santa Maria, onde ocorreu o incêndio da boate Kiss.

A Força Nacional do SUS é acionada quando o município ou o estado solicitar o apoio do Ministério da Saúde após decretar emergência, calamidade ou desassistência. Assim, inicia-se um movimento denominado “missão exploratória”.

Estamos falando do envio de uma equipe ao local afetado para fazer um diagnóstico da rede de saúde. A partir daí, as autoridades são informadas quanto se a necessidade de apoio existir em relação a equipamentos, insumos e/ou profissionais.

Agora, vamos apresentar a você os braços da FN-SUS, onde médicos podem se voluntariar para ajudar. Continue a leitura no próximo tópico.

Serviço aeromédico

Em muitos casos, como é o do Rio Grande do Sul, pode haver pessoas presas em lugares sem acesso por terra temporariamente. A aeronave médica é capaz de chegar até esses pontos mais remotos e garantir o tratamento imediato com os primeiros socorros.

Mas, mais do que isso, esse veículo funciona como uma espécie de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), com suporte para manter o quadro de saúde da vítima estável durante todo o trajeto. A agilidade dessa transferência é fundamental para aumentar as chances de salvamento.

No entanto, mesmo as piores tragédias ambientais podem não deixar tantas vítimas com ferimentos externos, mas sim com questões psicológicas. É diferente do que está acontecendo na Palestina, por exemplo, onde os bombardeios, quando não são fatais, mutilam suas vítimas.

Hoje, a maior carência da população sulista é por psiquiatras e psicólogos para lidar com as perdas materiais e humanas da tragédia climática. A aglomeração de pessoas também é um problema tendo em vista a aproximação do inverno, quando sobem os casos de infecções respiratórias.

Leia também: Como as crises humanitárias e as guerras afetam a psique humana

Hospitais de campanha

De início, os médicos precisam trabalhar de acordo com o protocolo Simple Triage and Rapid Treatment (START) – que é dedicado a qualquer evento com múltiplas vítimas. Pode ser um terremoto, acidente de trânsito, deslizamento de terra, enchente ou qualquer outro tipo de desastre.

Não importa a origem, o procedimento é o mesmo: fazer uma triagem rápida e precisa, pois é impossível atender 100% das vítimas nessas situações. Então, elas são separadas com pulseiras de quatro cores diferentes para cada nível de gravidade.

Dez segundos são necessários para essa avaliação de prioridades em situação emergencial. Principalmente, quando se trata de um evento que deixa ferimentos visíveis, como um corte na cabeça e uma fratura exposta.

Outro exemplo é a profundidade de uma queimadura em casos de incêndios. Médicos formados são capazes de identificar se é uma lesão de primeiro, segundo ou terceiro grau rapidamente.

Nos hospitais de campanha, os profissionais também devem fazer uma boa gestão de recursos. Seja de medicamentos, EPIs ou mesmo insumos, como gazes e suturas, tudo precisa ser utilizado sob real necessidade.

Alguém também deve ser responsável por manter o controle das entradas e saídas para que qualquer falta seja prevista com maior antecedência. A FN-SUS direcionou a cada hospital 13 profissionais para rodar 24h, atendendo a população como se fosse uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

Além disso, como mencionamos anteriormente, existe o risco de surtos de doenças acontecerem por contaminação pela própria tragédia ambiental ou entre pessoas. Sabe-se que as águas de enchentes são contaminadas pelos canais esgoto, portanto, podem conter a bactéria da leptospirose, por exemplo.

É de responsabilidade da eSF que atende o local implementar medidas preventivas de responsabilidade sanitária mesmo se tratando de um evento atípico. De modo geral, tanto os médicos quanto a estrutura do hospital devem se modificar constantemente para garantir a execução dos atendimentos.

Equipes volantes

Essa é outra real possibilidade de trabalho para os médicos quando um lugar está em emergência. Enquanto os hospitais de campanha são fixados onde pode-se receber um maior volume de pessoas e não há risco de novo desastre, as equipes volantes podem se deslocar até vítimas mais distantes.

São grupos compostos por médicos e enfermeiros. Ao Rio Grande do Sul, foram enviadas cinco com três profissionais cada. Eles preparam suas mochilas com remédios e passam seus dias tratando casos mais crônicos ou de pessoas acamadas.

É preciso ter uma comunicação eficaz e uma boa liderança para trabalhar nessas equipes e coordená-las para a melhor execução de suas funções. Novamente, a boa gestão de recursos também é essencial nesse cenário caótico, onde a mínima organização traz muitos benefícios.

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