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Entenda a crise de saúde mental no Brasil

A seguir, apresentamos os dados mais relevantes sobre o impacto da crise de saúde mental no Brasil, assim como as transformações necessárias para mudar este cenário. Confira!

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Quem nunca conviveu com alguém que sofre de burnout, ansiedade ou depressão? Esses transtornos mentais, hoje tão frequentes, já se incorporaram à realidade de famílias e empresas brasileiras - reflexo de uma crise que colocou o Brasil entre os países com piores índices de saúde mental no relatório Global Mind Project.

Prova disso são os mais de 440 mil casos de afastamento do trabalho, que ocorreram somente em 2024, como uma tentativa de encontrar alívio da pressão sentida diariamente para ser produtivo mesmo quando faltam forças até para se levantar da cama. Diante de um problema tão multifacetado, soluções simplistas se mostram ineficazes – apenas mudanças estruturais poderão reverter esse quadro preocupante.

Esta crise tem raízes profundas, alimentadas por diversos fatores sociais e econômicos. A seguir, apresentamos os dados mais relevantes sobre o impacto humano e financeiro da situação, além das transformações necessárias para construir um futuro com melhor saúde mental para todos os brasileiros.

O que é saúde mental?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define bem-estar psicológico como a capacidade de lidar com adversidades cotidianas, exercendo potencialidades individuais e participando ativamente da sociedade. Essa condição é moldada por dimensões econômicas, ambientais e relacionais, indo além da esfera pessoal.

Essas condições clínicas representam alterações neurobiológicas que comprometem funções cognitivas, emocionais e comportamentais em diversos níveis. Podem manifestar-se em qualquer fase da vida, frequentemente associadas a comorbidades físicas e desequilíbrios psicofisiológicos.

Os dados de afastamentos por saúde mental em 2024 revelam um cenário preocupante, com transtornos como ansiedade, depressão e bipolaridade liderando as causas. Em segundo lugar, estão condições graves associadas ao uso abusivo de drogas, como o álcool, e de substâncias psicoativas, como a cocaína.

O que está por trás dessa crise?

Impacto da pandemia

O trauma vivido por causa da Covid-19 deixou uma marca na saúde mental dos brasileiros. Isso tanto pelo luto, que afetou milhares de famílias, quanto pelo medo de que outra pandemia aconteça no futuro. Além disso, o isolamento social prolongado e as mudanças abruptas na rotina após o fim das restrições sanitárias intensificaram casos de ansiedade e depressão.

Insegurança financeira

Desde 2020, houve um aumento de 55% no preço dos alimentos – e essa pressão econômica é um fator que agrava principalmente pessoas com transtornos mentais. Afinal, o acesso a psicólogos, psiquiatras e medicamentos controlados também custa dinheiro. Sem falar que muitos brasileiros enfrentam incertezas diárias por trabalharem de forma informal, sem carteira assinada.  

Sobrecarga de trabalho

Toda esse estresse financeiro leva muitas pessoas a aceitarem jornadas excessivas, com dois ou mais empregos. Somado a isso, há também o problema da alta pressão por produtividade, com metas irreais, que transformam os ambientes laborais em espaços desgastantes, onde muitos sofrem com burnout.

Fatores sociais

As mulheres sofrem desproporcionalmente, acumulando duplas ou triplas jornadas entre trabalho, casa e cuidados familiares. A desigualdade salarial e a violência de gênero aprofundam ainda mais essa situação, embora 49,1% dos lares são sustentados por elas. Além disso, há ainda o racismo estrutural, que resulta em taxas de suicídio 45% maiores em pessoas pretas do que entre pessoas brancas.  

Excesso de tecnologia

O acesso constante à tecnologia tem levado muitas pessoas à dependência digital, que afeta a qualidade do sono e reduz o contato direto com outras pessoas na vida real. Outro malefício desse vício é o constante estado de alerta, pelo acompanhamento de notícias ruins sem filtro, e de comparação, que acarreta na autodepreciação, pela influência das redes sociais.  

Isolamento social

As relações sociais e familiares têm um papel crucial na saúde mental das pessoas, pois são fonte de apoio e bem-estar emocionais, cujos alicerces são a comunicação aberta, o cuidado e o afeto.  No entanto, muitos lares e relações disfuncionais no ambiente de trabalho, onde marcados por conflitos, fazem com que as pessoas se isolem socialmente, aumentando o risco de desenvolver transtornos mentais e de abuso de substâncias.

Alimentos ultraprocessados

Por fim, mas não menos importante, estão os alimentos ultraprocessados. Uma vez que são geralmente ricos em gorduras saturadas, açúcares refinados e aditivos, e diversos estudos sugerem que uma dieta com excesso de gorduras saturadas, açúcares refinados e aditivos pode afetar a saúde mental. Segundo o relatório, mais da metade dos que comem ultraprocessados diariamente está na categoria “angustiados” ou “se debatendo”.

Consequências da crise de saúde mental no Brasil

Os dados do Ministério da Previdência revelam um recorde de 472.328 licenças médicas por transtornos mentais em 2024, representando um aumento alarmante de 68% em relação ao ano anterior. Esse cenário gerou um custo de aproximadamente R$ 3 bilhões em benefícios nesse mesmo ano, com uma média de R$ 1,9 mil/mês por afastamento.

A Organização Mundial da Saúde estima que a depressão e ansiedade causem perdas globais de US$ 1 trilhão anuais em produtividade. No Brasil, a crise da saúde mental se reflete não apenas nos cofres públicos, mas na deterioração da qualidade de vida e da capacidade laboral de milhares de brasileiros, às vezes, de forma permanente.  

O que pode ser feito?

Recentemente, houve a atualização da NR-1, que representa um avanço ao incluir a fiscalização de riscos psicossociais como assédio, metas abusivas e jornadas excessivas. No entanto, a falta de clareza sobre sua implementação prática e a limitação das multas ainda deixam dúvidas sobre o quão eficaz será essa medida.  

É urgente expandir o acesso a psicólogos e psiquiatras pelo SUS para garantir tratamento adequado para toda a população. Afinal, como demonstram os dados, a pressão econômica é um dos principais fatores por trás dos altos índices de depressão e ansiedade, entre outros transtornos mentais. Ou seja, os mais afetados são os que pertencem às classes mais baixas da população.

Mas, para que mais pessoas procurem ajuda, também são necessárias políticas públicas com foco na prevenção, com campanhas de conscientização que busquem quebrar estigmas. Além disso, as empresas precisam adotar modelos de gestão humanizada, oferecendo suporte psicológico e jornadas de trabalho mais sustentáveis.

Essa mudança, aliada a uma cultura organizacional que valorize a saúde mental, pode reduzir significativamente os afastamentos e melhorar a qualidade de vida no trabalho. Isso sem deixar de lado a produtividade, pois a substituição de profissionais também causa perdas financeiras para qualquer negócio.  

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