Superação: médicos com deficiência encontram espaço no mercado
Conheça um pouco mais sobre a realidade de estudantes de Medicina e médicos com deficiência neste artigo!
Foi a partir de uma campanha iniciada dentro do Conselho Federal de Medicina (CFM) que a bandeira contra o capacitismo no meio médico ganhou força. Até 2019, havia 512 médicos com deficiência registrados no Brasil. Ao todo, 45 milhões de brasileiros vivem essa realidade no país.
Por meio do levantamento, descobrimos os tipos de obstáculos que eles enfrentam em seu dia a dia. Segundo o CFM:
- 95 são cegos ou têm baixa capacidade visual;
- 91 são surdos ou têm capacidade auditiva reduzida;
- 287 têm sua movimentação comprometida.
Outros 77 indicaram possuir “outras deficiências”, mas não especificaram, pois o questionário da pesquisa foi limitado às opções listadas. Provavelmente, as informações acima colocaram uma pulga atrás da sua orelha.
Como seria ser atendido por um médico cego? E por um paraplégico? Será que tem diferença?
Foi para tirar essas e outras dúvidas que escrevemos este artigo. Faça bom proveito!
O que diz o Código de Ética Médica (CEM)?
Após três anos de debates sobre acessibilidade e outras pautas, em 2019, foi estabelecido um novo Código de Ética Médica. Nele, ficou estabelecido que:
É direito do médico com deficiência ou com doença, nos limites de suas capacidades e da segurança dos pacientes, exercer a profissão sem ser discriminado.
E isso não é exclusividade do Brasil. Na verdade, a alteração alinhou o CEM à convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2008, que aborda os direitos dessa parcela da população.
Inclusão no Ensino Superior
Existem requisitos de acessibilidade para que um curso seja reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). Assim, as instituições de ensino superior (IES) precisam incluir em seus projetos de construção estruturas que possibilitem a circulação de estudantes com deficiências motoras, como rampas de acesso e banheiros adaptados.
E como ficam as faculdades mais antigas? Mesma coisa: a portaria do MEC exige a remoção de quaisquer barreiras arquitetônicas que impeçam ou dificultem o acesso de seus estudantes.
Além disso, equipamentos adaptados e regras específicas para alunos com deficiência visual ou auditiva também devem ser adotadas pelas IES. Por exemplo, para ser credenciada, a instituição precisa contar com impressora braile acoplada ao computador, intérprete de língua de sinais, entre outras adaptações.
Capacitismo no curso de Medicina
Apesar de existirem entidades e documentos para defendê-los, existem muitos obstáculos desde o início da formação médica. Para muitos, o primeiro desafio é conseguir concluir a graduação em Medicina.
A imagem dos médicos no senso comum é de que eles devem ser curandeiros infalíveis, o que por vezes reforça o preconceito denominado capacitismo. Ou seja, há uma desvalorização e desqualificação das pessoas devido à sua deficiência.
Quando a nova resolução do CEM foi pauta em vários jornais, alguns relatos preocupantes vieram à tona. Um estudante contou ter sofrido preconceito por parte dos próprios colegas de classe, sendo excluído dos grupos durante o Internato por ser paraplégico.
Outro entrevistado afirmou ter descoberto em suas pesquisas que nos programas de pediatria, por vezes, residentes com deficiência eram instruídos a desistir da especialização. Depois de formados, a discriminação ainda persistia em prontos-socorros e ambulatórios.
Médicos deficientes quebrando paradigmas
Em instituições que contam com corpo docente inclusivo e possuem regras internas contra a discriminação, a proatividade dos estudantes de Medicina com deficiência surte efeito. É o caso de uma aluna que contou em entrevista ao Estado de Minas como adaptou seus estudos.
Antes que o semestre letivo se inicie, ela já está correndo atrás dos professores com quem vai ter aula para avisá-los sobre suas necessidades específicas. Eles devem ficar sempre de frente e evitar caminhar pela sala, pois, devido à perda de audição grave, ela depende da leitura labial para absorver o conteúdo.
Nas aulas ministradas de forma on-line para sua turma, a aluna solicitou para que eles mantivessem as câmeras sempre abertas e garantissem uma boa qualidade de áudio. Os professores também se disponibilizaram para tirar suas dúvidas por telefone.
Outra peça de papel fundamental na graduação dessa aluna foi a colaboração de seus colegas, com quem compartilha anotações e experiências. Sem falar dos monitores que ela consulta quando precisa.
Um de seus professores também foi entrevistado e contou como foi a experiência. Para ensiná-la sobre os sons que o corpo humano emite naturalmente e as diferenciações existentes para os casos de enfermidades, ele precisou encontrar novos métodos de auscultação. São atitudes assim que tornam possível a inclusão de médicos com deficiência no mercado de trabalho.
Entre os 512 médicos que mencionamos antes, tem profissional que ficou carinhosamente conhecido pelos pacientes como “o da cadeira de rodas”. Em 2019, mais de 15 mil pessoas foram atendidas por Marcos Vinícius Nunes da Silva na clínica popular que fundou. Sua rotina é conduzida sobre cadeiras elétricas ou manuais e com a adaptação dos leitos à sua altura.
Também foi divulgado o trabalho de um médico paraplégico na linha de frente da pandemia. Mesmo sendo parte do grupo de risco estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Heider Irinaldo Ferreira trabalhou nas enfermarias de isolamento, inclusive, entubando pacientes.
E tem também endocrinologista cego, sabia? Com equipamentos adaptados e aproveitando o máximo de seus outros sentidos, Ricardo Ayello Guerra consegue atuar em dois hospitais e um consultório, oferecendo mais saúde e bem-estar diariamente para várias pessoas.
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