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O que a situação Yanomami revela sobre a saúde no interior do Brasil

A situação Yanomami trouxe à tona questões que impactam o interior do Brasil como um todo. Entenda mais sobre o assunto neste artigo!

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Em 2023, o Ministério da Saúde declarou estado de emergência de importância nacional sobre a total desassistência sanitária que o povo Yanomami está vivendo em seu próprio território. A área demarcada abriga 370 comunidades, que apresentaram elevados níveis de mortalidade por doenças evitáveis, desnutrição e violência nos últimos anos.

Embora tenham sido reveladas situações específicas de negligência nesse caso, a situação Yanomami trouxe à tona questões que impactam o interior do Brasil como um todo. Para entender mais sobre isso, continue a leitura até o fim.

O que são doenças evitáveis?

São denominadas doenças evitáveis aquelas que podem ser facilmente prevenidas, totalmente ou em parte, a partir da disponibilidade de serviços de saúde, como vigilância sanitária, unidades de atenção básica, vacinação e saneamento. Hoje, entre as principais doenças evitáveis estão:

  • Pneumonia;
  • Diarreia;
  • Malária;
  • Leishmaniose;
  • Leptospirose;
  • Chagas;
  • Dengue;
  • Poliomielite;
  • Sarampo;
  • Gastroenterite.

No entanto, uma vez que a Medicina está sempre evoluindo, tais critérios estão em constante expansão. Isso porque o avanço da tecnologia e dos estudos acadêmicos possibilita mais formas de prevenção.

Um exemplo simples é o autocuidado com uma alimentação saudável e a prática de exercícios físicos, que antigamente não eram hábitos tão valorizados. Nesse sentido, o problema em relação às doenças evitáveis reside na falta de acesso a recursos e à informação, que precisam ser democráticos e universais.

Situação da saúde no território Yanomami

Entre 2019 e 2022, 570 crianças de até cinco anos morreram de doenças evitáveis no território Yanomami, número que representou um aumento de quase 30%, quando comparado ao período de 2015 a 2018. Outras 99, com idade de um a quatro anos, morreram somente no ano passado, por desnutrição, pneumonia e/ou diarreia. 

As equipes do Ministério da Saúde também encontraram idosos em estado grave de saúde devido à desnutrição, à infecção por malária e infecções respiratórias agudas, entre outros problemas. Apesar da população contar com cerca de 30 mil pessoas, entre 2020 e 2021, foram registrados mais de 40 mil casos de malária no local, segundo o Sistema de Informações de Vigilância Epidemiológica (Sivep).

Leia também: Atenção Primária à Saúde: Como agir diante de um quadro de desnutrição

Fatores que favorecem a transmissão de doenças 

Quem lembra das aulas de História do ensino médio ou do cursinho pré-vestibular sabe que, quando os colonizadores chegaram ao Brasil, muitos povos originários foram dizimados por conta da proliferação de doenças. Isso aconteceu porque seus sistemas imunológicos nunca haviam entrado em contato com os agentes etiológicos que se encontravam na Europa e, portanto, não conseguiam combatê-los. 

Inclusive, na América do Sul, o vírus da varíola foi utilizado como arma biológica pelos espanhóis que integraram a navegação de Francisco Pizarro, que mandou entregar roupas infectadas aos indígenas. E, na América do Norte, isso também foi feito com cobertores, a mando do general inglês Jeffrey Amherst.

Em resumo, a diferença imunológica ainda existe, e é por isso que a invasão das áreas demarcadas por garimpeiros ilegais é tão grave. Sem falar que, a própria atividade propicia a reprodução dos mosquitos que carregam o vírus da malária, pois a exploração deixa para trás crateras que acumulam água parada. 

Além disso, forma confirmados casos de violência sexual na região. Ou seja, o potencial de acontecerem infecções sexualmente transmissíveis (IST) aumentou, sem falar que, tal insegurança fez com que muitas mulheres evitassem sair de suas aldeias, prejudicando a produção de alimentos para a subsistência das comunidades. 

Por fim, o garimpo ilegal ainda utiliza de métodos rudimentares para a exploração de recursos, o que causa a contaminação de rios com metais pesados. Tudo isso afeta a abertura de roças, a caça, a pesca e a coleta de frutos próprios para o consumo. Com isso em vista, não surpreende os números da desnutrição do povo Yanomami.

Saiba mais: A saúde no interior do Brasil e o exercício da Medicina

Panorama geral da saúde no interior do Brasil

Infelizmente, outras várias populações sofrem com a falta de acesso à saúde, recursos tecnológicos e informação. Entre as piores taxas de mortalidade infantil está o estado do Amapá, com 23,2 mortes para cada mil bebês de até um ano, seguido por Maranhão (21,3), Rondônia (20), Alagoas (19,5) e Piauí (19,1).

Tais números são comparáveis aos de nações subdesenvolvidas, como Nicarágua e Argélia, enquanto os números encontrados nas regiões Sudeste e Sul assemelham-se aos de países desenvolvidos. 

De acordo com o relatório Painel de Indicadores do SUS, publicado pela Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, “a taxa de mortalidade infantil é um importante indicador do acesso e da qualidade das ações e dos serviços de saúde” . Ou seja, tem faltado estrutura e/ou mão de obra para garantir o direito às pessoas que moram no interior do Brasil.

Médicos que atendiam no território Yanomami relataram que postos de saúde foram fechados ou abandonados e houve redução do número de atendimentos nos que conseguiram permanecer em funcionamento. Auditorias feitas pela administração federal confirmaram outras várias falhas na assistência básica, como a entrega de medicamentos próximos à data de vencimento, descumprimento de jornadas de trabalho e escassez de equipamentos. 

Interiorização da Medicina 

É a vontade de mudar tal realidade que nos move. Mais do que atendimento em saúde, todos merecem ser atendidos de forma humanizada, o que depende necessariamente que os profissionais conheçam a realidade de seus pacientes a fundo. 

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