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O papel da Medicina no combate ao racismo

Qual é o panorama do racismo nas faculdades de Medicina e nos hospitais? Leia este post e entenda o papel do médico no combate ao racismo e quais ações podem ajudar.

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Após a libertação dos escravos, que ocorreu em 1988, o Brasil não criou políticas públicas de combate ao racismo para integrar esses indivíduos na sociedade. Diante disso, houve o segregamento estrutural e institucional daqueles que antes eram escravos.

O nosso país, portanto, tem um longo histórico de racismo estrutural, sendo o último país da América a colocar um fim na escravidão, o que impacta diretamente no acesso à saúde. Durante o período colonial, mais de 4 milhões de pessoas foram trazidas à força da África, deixando cicatrizes profundas por ter sido, o tráfico negreiro, maior do que em qualquer outro país do mundo.

Deseja compreender qual é o papel da Medicina no combate ao racismo? Continue a leitura e saiba mais sobre o tema!

Compreenda o atual panorama sobre o racismo no Brasil

Muitos brasileiros acreditam que a discriminação não é uma questão racial e sim de classe social. Afinal, a população brasileira gosta do carnaval, da cultura negra e do samba. No entanto, são poucos os que participam das manifestações contra o genocídio dos negros.

Por isso, grande parte dos mestiços têm dificuldades para aceitar a sua descendência, o que felizmente vem mudando, como demonstra o Censo 2022, no qual, pela primeira vez, desde 1991, a maior parte da população do Brasil se declarou parda.

Incidência de racismo

Uma pesquisa recente apontou que mais de 50% dos brasileiros já presenciaram cenários discriminatórios no nosso país. A análise envolveu todas as regiões do país e mais de 2 mil pessoas tiveram a oportunidade de se manifestar. Mais de 80% dos entrevistados afirmou que percebe o Brasil como uma nação racista.

Em relação aos questionamentos sobre a abordagem policial, 84% das pessoas informaram acreditar que os brancos são tratados de modo diferente dos negros. Infelizmente, 79% dos entrevistados acredita que os policiais se baseiam nas vestimentas, tipo de cabelo e cor da pele para abordar os cidadãos em virtude de suspeitas de crimes.

Porcentagem da população afetada

Conforme a pesquisa, as manifestações racistas são percebidas em virtude de violência física, segundo 39% dos entrevistados. Mais de 40% respondeu que há tratamento desigual, ofensas e xingamentos. Por outro lado, 66% disse ter presenciado violência verbal devido à raça. Sendo assim, uma parcela significativa da população brasileira é afetada.

Entre todos os entrevistados, 38% acredita ter sofrido racismo e indicaram que a discriminação ocorreu em ambientes de ensino, como universidade, faculdade e escola. Quase 20% sofreram preconceito em virtude da cor da pele em estabelecimentos comerciais, 28% em locais públicos e 29% no trabalho. Isso demonstra que a educação antirracista deve iniciar durante a infância.

Principais evoluções ocorridas

No ano de 1871, foi criada a primeira legislação que declarou que todos os filhos de escravos nascidos após a sua aprovação deveriam ser libertos. Em 1885, o Brasil publicou a Lei dos Sexagenários, que libertou os negros com mais de 60 de idade. A abolição da escravidão em 1888 acabou apenas com a segregação legal.

Contudo, o racismo persistiu após a abolição das práticas de escravidão. As hierarquias raciais já estavam estabelecidas e permaneceram fortes. Os negros brasileiros recém-libertados foram deixados sem educação, terras e dinheiro para criar uma vida. Eles foram desfavorecidos, sem trabalho e sem abrigo, e assim, surgiram as desigualdades entre brancos e afrodescendentes.

Na década de 1990, as organizações não governamentais (ONGs) e as organizações internacionais trouxeram a consciência negra e as questões da desigualdade racial para as discussões nacionais. Em 2001, ocorreu a conferência de Durban, atraindo grande atenção das lideranças políticas, e em 2003 foram iniciados os programas de ação afirmativa.

Entenda a incidência do racismo na Medicina

O racismo ajudou a moldar a estrutura das Ciências Médicas no Brasil e os ditados racistas perduram até hoje. Nessa área, as denúncias de preconceito racial envolvendo profissionais da saúde são bastante comuns. A conscientização, lamentavelmente, ainda precisa ser trabalhada para acolher bem os futuros médicos afrodescendentes. Veja, a seguir, outros dados relevantes sobre o assunto!

Ambiente acadêmico

Quando os estudantes negros ingressam nas faculdades, frequentemente são vítimas de pegadinhas racistas nas instituições. Na faculdade de Medicina, apenas 2,7% dos alunos são pardos ou negros, embora mais da metade da população brasileira seja constituída por afro-brasileiros. Uma minoria de pessoas autodenominadas negras consegue se formar no ensino superior.

Consultórios médicos

A Medicina ainda é uma profissão de elite e esses indivíduos têm um projeto de vida, fazem o curso por status, para ganhar dinheiro, ou pertencer a um grupo. Nesse sentido, elas não são preparadas contra o racismo na formação acadêmica. Além disso, muitos brasileiros ainda não estão preparados para chegar nos consultórios médicos e receber atendimento de um profissional negro.

Hospitais

A sociedade brasileira foi estruturada pelo racismo e os profissionais de saúde apenas fazem parte dessa cadeia que envolve questões culturais. Nos hospitais, poucos são os médicos afrodescendentes porque os negros precisam enfrentar o racismo perpetrado desde o ensino fundamental.

Saiba qual é o papel do médico diante do combate ao racismo

O preconceito em relação à cor é uma ameaça à saúde pública. O papel dos médicos diante desse cenário é fazer esforços dentro das organizações onde atuam na eliminação das práticas racistas e discriminatórias em seu ambiente de trabalho. É fundamental que trabalhem tratando conscientemente os afrodescendentes com respeito. Observe, abaixo, algumas dicas para diminuir os preconceitos implícitos!

Não ter uma conduta segregativa

Os médicos devem adotar uma conduta receptiva, livre de preconceitos e qualquer tipo de discriminação. No ambiente de trabalho, deve-se evitar qualquer tipo de comentário depreciativo ou a manifestação de opinião segregativa. Como profissionais de saúde, há frases e palavras que não podem ser ditas, pois, caso contrário, ofenderão grupos de pacientes.

Acolher as vítimas

Um bom médico precisa adotar uma abordagem que elimine as barreiras aos cuidados, que geram resultados negativos à saúde dos pacientes. A sua função é acolher os afrodescendentes, usar a empatia e tentar compreender os sentimentos de quem já foi vítima de preconceitos. Os médicos precisam lidar com essas questões e se dispor a auxiliar.

Conscientizar demais colegas

Ainda existem muitos profissionais de saúde que acreditam que os negros são mais resistentes à dor. Os acadêmicos de Medicina e os médicos em geral precisam trabalhar com iniciativas antirracistas para conscientizar os seus colegas de profissão. Não é preciso ser rude, mas abordar a realidade brasileira e expor a sua opinião com delicadeza.


Compreendeu o papel da Medicina inclusiva no combate ao racismo?

Aproveite todos os seus conhecimentos, estimulando outras pessoas a modificar seus hábitos e conceitos em relação aos afro-brasileiros. Os preconceitos, na maioria das vezes, têm a sua origem na cultura e falta de informação. Os médicos são atores indispensáveis para erradicar as consequências da discriminação racial na Medicina, para que ela se torne cada vez mais humanizada e inclusiva.

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