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Medicina Inclusiva: avanços no atendimento médico humanizado

Aprofunde seus conhecimentos sobre quais são os atuais desafios e avanços da cultura da Medicina Inclusiva como padrão do atendimento médico.

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“Fazer parte de um grupo ou de um todo; juntar; compreender”. Estes são alguns dos significados da palavra incluir. Basicamente, Medicina Inclusiva é um nome que foi criado para traduzir como a prática médica sempre deveria ter sido. Afinal, a profissão é sobre combater doenças, promover bem-estar, administrar cuidados e pesquisar soluções em saúde. Tudo isso com o objetivo de garantir mais qualidade de vida às pessoas.

Porém, as deficiências na formação da nossa sociedade geraram desigualdades de tratamento também neste setor básico. Assim, nem todos os brasileiros têm suas necessidades supridas em sua integridade quando o assunto é atendimento médico.

Só que o problema do preconceito não é uma exclusividade do Brasil e, de certa forma, isso é uma boa notícia, sabe por quê? A exclusão na saúde também aconteceu nos outros países sem exceção ao longo de sua história. E isso significa que, se alguns deles já conseguiram reverter esta situação, nós também podemos.

A seguir, você vai poder aprofundar seus conhecimentos sobre quais são os atuais desafios e avanços da implantação da cultura da Medicina Inclusiva como padrão do atendimento médico. Além, claro, de descobrir como poderá fazer a diferença desde a sua graduação.

Boa leitura!

Desafios da inclusão no atendimento médico 

O primeiro desafio para qualquer minoria é a falta de preparo dos profissionais que vão atendê-las. Até hoje, é comum a desinformação quanto às particularidades da comunidade LGBTQIAPN+, das pessoas pretas, dos povos originários e das pessoas com deficiência.

Isso porque quase todos os livros de Medicina não abordam tais assuntos em sua integridade. Por exemplo, a anatomia dos corpos transexuais, que são alterados com a terapia hormonal e/ou com cirurgias, e a genética e epidemiologia da saúde indígena são dois casos invisibilizados.

A ausência de disciplinas específicas faz com que médicos recém-formados cheguem despreparados ao mercado de trabalho. Além do conhecimento técnico, abordar os diferenciais da saúde de cada minoria também garante a promoção de um atendimento humanizado.

A humanização prevê colocar o paciente no centro do atendimento, não a doença. Logo, para lidar com alguns tipos de pacientes excepcionais, também deveriam ser ensinados:

  • Conceitos da educação sexual;
  • Língua brasileira de sinais (Libras);
  • Aspectos e consequências do racismo estrutural;
  • Sociologia, para uma melhor compreensão dos contextos socioeconômicos.

Existem diversos desafios neste âmbito. Para citar alguns: prontuários e questionários excludentes; comportamentos preconceituosos; clínicas com arquitetura sem acessibilidade para recepcionar pessoas com mobilidade afetada, entre outros.

Outro obstáculo comum na vida de pessoas com deficiência é a ausência de tecnologia assistiva, como próteses e cadeiras de rodas motorizadas para auxiliá-las. Mas nem todos resultam da falta de conhecimento básico.

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Avanços na humanização e na acessibilidade

Ainda há muito a ser feito para garantir que todos os grupos minoritários da nossa sociedade tenham acesso à saúde. No entanto, alguns avanços já têm sido implementados para melhor atender essas pessoas. Apresentamos alguns deles abaixo.

Reconhecimento do estado psicológico

Na hora de acolher um paciente que enfrenta preconceitos e violências com frequência, não basta partir apenas de seu estado físico. Reconhecer desconfortos de ordem psicológica pode proporcionar muitos insights sobre como agir de forma humanizada.

Por meio de pequenas interações, muitos médicos têm conseguido criar laços de confiança com seus pacientes - e esta conexão é o que muitas vezes vai garantir o sucesso de um tratamento ou a aceitação de uma mudança de hábito.

Promulgação da LGPD

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) foi um avanço significativo também para o setor da saúde, porque ela confere maior transparência e segurança às pessoas ao proteger suas privacidades.

No caso das minorias, a preservação de aspectos sensíveis sobre a sua personalidade e o seu estado de saúde, é o que vai impedir, muitas vezes, que sofram violências tanto no ambiente hospitalar quanto fora dele.

Cotas raciais, campanhas e a interiorização do ensino privado

Não existe Medicina Inclusiva para pacientes se o próprio curso não tem representatividade para formar profissionais. Uma prova clara disso são as universidades que adotam programas, palestras e/ou disciplinas específicas de saúde após receber o pedido de um aluno que pertence a uma minoria.

Além disso, um médico com conhecimento de caso por vivência é muito mais qualificado para compreender a situação de uma pessoa e ganha mais credibilidade aos olhos dela. Isso facilita a anamnese e a criação do vínculo humanizado entre as duas partes.

As cotas foram fundamentais na viabilização do aumento do número de médicos e médicas pretos no Brasil. Já no caso dos estudantes indígenas, envolvidos desde a infância em medidas de prevenção e controle de doenças tropicais, houve outro fator mais decisivo.

Visto que eles estão mais presentes em faculdades particulares, a interiorização do ensino privado têm transformado o cenário da saúde. E, para as pessoas com deficiência, a campanha do Conselho Federal de Medicina (CFM) contra o capacitismo é a ação que tem aberto mais portas.

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Capacitação pela Medicina Inclusiva desde a faculdade 

Você pode se capacitar de acordo com a Medicina Inclusiva. O primeiro passo é buscar desenvolver soft skills tais qual a escuta ativa, a comunicação não violenta e a empatia. Desse modo, embora seja impossível sentir exatamente a discriminação que o seu paciente sofre no seu dia a dia, você vai atendê-lo com um olhar muito mais humanizado.

Enquanto faz isso, participe de rodas de conversa e eventos promovidos por essas pessoas e procure conhecer melhor suas culturas. Tenha em mãos também o nosso Glossário LGBTQIAP+ para não cometer erros que possam constranger seu paciente no período de clínica-escola

Como mencionamos anteriormente, seja proativo em propor discussões em sala de aula sobre esse assunto. Tudo isso vai capacitar você e os seus colegas na Medicina Inclusiva.

E, já que estamos falando de disciplinas da faculdade, você sabe o que ainda falta ser incluído na disciplina de Saúde da Mulher? Não? Então, acesse o artigo para aprender tudo sobre o assunto!