Afinal, como é feito um transplante de órgão ou tecido?
O Brasil é referência mundial no financiamento público do transplante de órgão ou tecido, um fluxo que inclui desde a captação de órgãos, até a cirurgia e o uso de medicamentos para rejeição. Leia mais!
Transplante de órgão e tecido é uma estratégia terapêutica em pacientes com doenças que inviabilizam o funcionamento adequado dos órgãos e contribuem significativamente para a piora da qualidade de vida e da antecipação do óbito.
Felizmente, com o avanço das técnicas cirúrgicas e tecnológicas, além das pesquisas de medicamentos para rejeição, as taxas de sobrevida são grandes, desde que assegurados os critérios estabelecidos pela lei brasileira sobre captação e transplante de órgãos.
Existe ainda a questão ética, religiosa e psicológica tratada com o doador em vida ou com a família do potencial doador, em casos de óbito por morte encefálica, trazendo diversas emoções e questionamentos durante o processo.
O assunto é complexo e interessante. Por isso, não deixe de ler esse conteúdo que fizemos. Boa leitura!
Conheça a história dos transplantes
O transplante de órgãos e tecidos foi um desafio na década de 60, instigando médicos estrangeiros e brasileiros a estudar a técnica, prever resultados e acompanhar o paciente ao longo do tempo.
Em 1963, foi realizado nos Estados Unidos primeiro transplante que se tem notícia, porém até 1967 todos foram mal sucedidos e durante esses anos se buscavam as causas desse processo não fortuito.
Em 1968, foi realizado o primeiro transplante no Brasil e até 1972 os cirurgiões ainda não haviam conseguido manter a sobrevida dos pacientes por muito tempo, o que fez muitos se debruçarem nos treinos cirúrgicos com porcos.
Depois de 10 anos, com a inclusão do medicamento ciclosporina para rejeição do enxerto, muitas cirurgias foram bem sucedidas até que, em 1988, foi possível fazer o procedimento cirúrgico intervivos por meio da doação de uma parte do fígado.
Como é operacionalizado o transplante no Brasil?
O Brasil é referência mundial no financiamento público dos transplantes, constituindo o maior sistema público de transplantes, o que por si é um grande orgulho para os brasileiros que dele necessitam.
O Sistema Nacional de Transplante de Órgãos (SNT) é responsável pelos processos relacionados à captação de órgãos, identificação da compatibilidade entre doador e receptor, procedimentos cirúrgicos e dispensação de medicamentos imunossupressores.
Para tanto, existem as equipes clínicas com treinamento humanístico de captação dos órgãos e tecidos, procedimentos que visam inserir o paciente na fila de transplante conforme o quadro clínico e a gravidade e o processo de encaminhamento do órgão ao potencial receptor.
Destaca-se que houve uma evolução na inserção de pacientes na fila de espera, pois antes era por "ordem de chegada" e atualmente é pela gravidade da condição do indivíduo, seguido pela compatibilidade.
Além disso, os critérios de doação foram expandidos, o que aumentam as chances de transplante do órgão, porém os cuidados clínicos e medicamentosos após a cirurgia de transplantação exige monitoramento diferenciado.
Quais são as normatizações brasileiras para o transplante?
Por meio das normatizações brasileiras, é possível realizar o transplante com doadores vivos ou falecidos, após uma análise minuciosa da compatibilidade e da viabilidade do órgão, aumentando, assim, as chances de sobrevida do potencial receptor.
No caso de doador falecido, normalmente vítima de morte encefálica, é fundamental a comprovação mediante exames neurológicos preconizados, atestados por dois profissionais, de que não existe atividade neuronal compatível com a vida.
Os critérios referentes à doação intervivos e de órgãos duplos também são regidos pela Lei 9.434/1997 e o Decreto 9.175/2017. Convém destacar que essa doação é monitorada por meio de exames e preenchimento de formulários atestando a vontade livre e espontânea para o procedimento cirúrgico e os riscos da cirurgia aos pacientes envolvidos.
Como ocorre a retirada de órgãos para transplante
Assim que for diagnosticada a morte encefálica do doador e com o consentimento da família é realizada a cirurgia para retirada dos órgãos e tecidos com possibilidade de doação que será verificada posteriormente.
Todo o processo de retirada é relatado em formulário, considerando peso do órgão, detalhes anatômicos, uso de medicamentos prévios do doador, ficha com as doenças infecciosas existentes e tantas outras informações.
Conforme esse relatório e as informações enviadas a equipe estadual de transplante é feito o encaminhamento para os hospitais onde os possíveis receptores já foram notificados e estão aguardando a realização do teste de compatibilidade.
Nesse sentido, os órgãos viáveis são retirados do doador e seguem caminhos distintos, podendo salvar diversas vidas.
Como é feita a cirurgia de transplantação?
A cirurgia de transplante de órgãos é complexa e exige uma equipe de profissionais treinada e disponível para atuar em qualquer hora do dia ou da noite, visando sempre não sobrecarregar os cirurgiões.
Para tanto, é retirado o órgão inviabilizado do receptor (coração, pulmão, fígado e pâncreas, por exemplo), e depois é inserido o órgão transplantado, fazendo as junções adequadas no sistema circulatório do paciente.
A doação intervivos só se aplica a órgãos duplos, como pulmão e rins, sendo que o processo cirúrgico tem a mesma complexidade. Porém, normalmente em caso de transplante de rim, não é retirado o órgão defeituoso, sendo que o doador ficará com três rins. A retirada de tecidos da pele também é possível e será para uso em enxertos nos pacientes receptores, vítimas de queimaduras graves, por exemplo.
Ao final do processo, o paciente será transferido até a unidade de terapia intensiva para verificação dos parâmetros fisiológicos e bioquímicos e principalmente identificar qualquer possibilidade de rejeição.
Como ocorre o processo pós-transplante?
Após normalizar as condições clínicas do paciente na unidade de terapia intensiva, este será transferido para a enfermaria e posteriormente terá alta e será acompanhado pelas consultas ambulatoriais.
Os pacientes recebem acompanhamento ambulatorial além da dispensação de medicamentos imunossupressores, que são exclusivamente dispensados pelo Componente Especializado de Assistência Farmacêutica (CEAF) do SUS.
Antes da alta hospitalar, o médico deverá preencher os formulários necessários para que o paciente possa se encaminhar até as farmácias publicas do CEAF e solicitar os medicamentos de rejeição e os farmacêuticos farão a análise da documentação enviada.
O transplante de órgão e tecido é uma rotina bem sucedida no Brasil, principalmente no sistema público onde ocorre mais de 90% desses procedimentos As normativas brasileiras preconizam a operacionalização do sistema, a verificação da compatibilidade do órgão e a dispensação de medicamentos para rejeição, atuando assim em todas as etapas do processo.
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