Carreira e Mercado

A saúde no interior do Brasil e o exercício da Medicina

Descubra as disparidades em saúde que existem no interior do Brasil e também algumas maneiras de amenizar esta situação pelo exercício da Medicina

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Dores constantes por falta de medicamentos. Uma demora de meses para conseguir a marcação do exame capaz de revelar um diagnóstico assertivo. Finalmente a data se aproxima no calendário. Será preciso uma viagem que levará dias, por água ou por terra, custeada pela Prefeitura. A chegada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) traz alívio e alimenta expectativas. Porém, mesmo depois de tamanha logística, o paciente volta de mãos abanando, pois o médico não apareceu.

Até parece roteiro de filme, com enredo de missão impossível. Mas esta é tão somente a difícil realidade de quem mora no interior do Brasil e tem o direito básico do acesso à saúde negado. Nas próximas linhas, você vai se deparar com as disparidades que existem entre os estados brasileiros e com algumas maneiras de amenizar esta situação pelo exercício da Medicina. Boa leitura!

Realidade da saúde no interior do Brasil

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é o mecanismo utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para mensurar o nível de bem-estar da população de um país. Essa análise é feita a partir de três critérios: renda, educação e saúde que, por sua vez, possuem subcategorias. E é por meio da taxa de expectativa de vida que se dá a avaliação da saúde.

A expectativa de vida é um indicador que está diretamente relacionado ao desenvolvimento socioeconômico. Com um IDH de 0,765, cujo valor é considerado alto, o Brasil ocupa atualmente o 84º lugar do ranking de 188 países. No entanto, esse número não demonstra a realidade de todos os estados do território brasileiro.

Entre as piores taxas de mortalidade infantil está o estado do Amapá, com 23,2 mortes para cada mil bebês de até um ano, seguido por Maranhão (21,3), Rondônia (20), Alagoas (19,5) e Piauí (19,1). Tais números são comparáveis aos de nações subdesenvolvidas, como Nicarágua e Argélia, enquanto os números encontrados nas regiões Sudeste e Sul assemelham-se aos de países desenvolvidos. O último colocado, por exemplo, é o Espírito Santo com 8,8 mortes.

Na prática, essa taxa impacta a expectativa de vida geral e, nesse indicador, a desigualdade entre as regiões não muda muito. Santa Catarina é o estado em que se vive mais, em média até os 79 anos, enquanto os habitantes do Maranhão esperam chegar apenas aos 70, valor apresentado também pelo Cazaquistão (110º).

De acordo com o relatório Painel de Indicadores do SUS, publicado pela Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, "a taxa de mortalidade infantil é um importante indicador do acesso e da qualidade das ações e dos serviços de saúde". Ou seja, tem faltado estrutura e/ou mão de obra para garantir este direito às pessoas que moram no interior do Brasil.

Não à toa, enfermidades que já foram controladas pela Medicina no Sudeste e no Sul ainda existem feito epidemias nas demais regiões. Este é o caso da doença de Chagas, da malária, da tuberculose e da diarreia, fruto da falta de saneamento básico. Segundo o Ministério da Saúde, 99,7% dos 174,5 mil casos de malária no Brasil em 2017 se concentraram em Pará, Amazonas, Rondônia, Acre, Amapá e Roraima.

Distribuição da força médica brasileira

A OMS estabelece que a proporção ideal para que uma população não fique vulnerável é de 2,7 médicos para cada mil habitantes. Este é o número encontrado no Reino Unido, cujo sistema público de saúde fica atrás apenas do brasileiro em tamanho.

Quando o programa Mais Médicos foi lançado em 2013, o Brasil possuía 1,8 médicos para cada mil habitantes, sendo que, em 700 municípios, não havia nenhum profissional residindo na localidade. Desde então, houve um aumento de 69% no número de escolas médicas, para que o nível mundial padrão seja atingido até 2026.

Em 2020, o Conselho Federal de Medicina informou que o país já contava com mais de 502 mil profissionais registrados, o que elevou a relação por habitante para 2,4. Porém, isso não culminou em uma melhor distribuição da força médica pelo território. Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que no Sul e no Sudeste, a proporção é de 3,5, mais que o mínimo necessário.

Cidades mais desenvolvidas em estados de outras regiões até apresentam números melhores e, sem escolha, a população do interior acaba precisando se deslocar rumo às metrópoles em busca de tratamento. Ainda assim, à exceção de Belém e Porto Velho, todas as demais capitais do Norte não têm médicos o suficiente.  

Saúde Pública x Saúde Suplementar

No Brasil, o acesso à saúde é um direito de todo cidadão, garantido pela Constituição Federal. Por esse motivo, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi estruturado para oferecer atendimento médico ambulatorial, medicamentos, vacinas, exames laboratoriais, transplantes, internação hospitalar, entre muitos outros serviços, de forma gratuita e universal.

Tudo isso é o que está contemplado em “saúde pública”. Em complemento a esse sistema, existe o que chamamos de “saúde suplementar” ou rede privada, que compreende os planos de saúde e os hospitais e clínicas particulares. Atualmente, 75% dos brasileiros dependem exclusivamente do SUS, enquanto o restante da população utiliza a outra opção.

Porém, o SUS não se resume à assistência direta. Políticas públicas de vigilância sanitária e epidemiológica, de saneamento básico e de trabalho pela redução da mortalidade também fazem parte do escopo de suas responsabilidades. Logo, o grande questionamento em relação à precariedade da infraestrutura no interior não se deve à ausência de um bom projeto, mas à falta de investimentos.

Anualmente, a saúde suplementar investe cerca de 87% do valor destinado pelo Estado à rede pública para atender um terço da população brasileira. Ou seja, a quantia gasta por paciente é três vezes maior.

Além disso, parte da verba do SUS é destinada a suprir os custos de viagem de pessoas que moram no interior e precisam buscar atendimento em outras cidades. Isso acontece desde 1999, quando uma portaria instituindo o Tratamento Fora de Domicílio (TFD) foi aprovada. Embora já exista há 23 anos, esta solução deveria ser provisória, sendo descontinuada quando todos os municípios tivessem condições de suprir as necessidades de seus habitantes.

Programas Mais Médicos (PMM) e Médicos pelo Brasil

Desde 2019, os dois programas governamentais existem paralelamente, oferecendo bolsas para que mais profissionais iniciem suas carreiras cumprindo a missão de levar a Medicina para o interior do país. A intenção, porém, é de que no futuro o Médicos pelo Brasil substitua permanentemente o PMM.

Ambos têm por objetivo fortalecer a Atenção Primária à Saúde (APS) no país, pois é nesta fase do acompanhamento que pode atender de 80% a 90% dos problemas de saúde ao longo da vida de uma pessoa. A situação de vulnerabilidade de muitos povos é uma questão de caráter emergencial e, portanto, recebe prioridade.

Todavia, melhorar as condições gerais dos serviços na rede pública também é uma meta, para que índices maiores de expectativa de vida entre os brasileiros que residem no interior sejam conquistados. Em seis anos, o Mais Médicos ajudou cerca de quatro mil municípios e 34 distritos indígenas, mas ainda há bastante a ser feito pelo novo programa.

Conheça os valores dos salários-base e dos incentivos destinados aos profissionais inscritos no programa, além dos pré-requisitos necessários para participação clicando aqui.

Profissão humanitária

As definições de médico e humanitário são bastante parecidas. Enquanto um se compromete à aplicação de cuidados aos doentes, sem nunca causar dano ou mal; o outro se dedica a promover o bem-estar dos seres humanos, assim como o avanço das reformas sociais. Por sorte, já existem várias pessoas que decidiram exercer estes dois papéis por meio de suas carreiras.

Doutores da Amazônia e Doutores das Águas, por exemplo, são duas organizações sem fins lucrativos que buscam levar a Medicina às populações mais vulneráveis da região Norte do Brasil. Ao pesquisar sobre estes projetos, você vai se emocionar vendo quanto alívio é possível levar para centenas de brasileiros a partir dos conhecimentos adquiridos durante a sua formação superior.

A interiorização do ensino e da prática médica é uma missão da Afya. Em 2022, inauguramos dois novos centros universitários no Amazonas: o ITPAC Manacapuru e o ITPAC Itacoatiara. Os estudantes que se formarem nestas instituições terão profunda conexão com a comunidade local desde a graduação, o que garantirá a oferta de um atendimento mais humanizado.

Se você se identificou com esta causa e quer fazer parte da mudança da saúde no interior do Brasil, siga o perfil Faça Medicina nas redes sociais. Assim, você não perderá o prazo de inscrição para o próximo vestibular das unidades Afya na Região Norte e Nordeste.

Baixe agora nosso Manual da Carreira Médica. Com este material em mãos, você estará preparado para as próximas etapas após sua graduação!