O que são caminhos ou linhas do desejo na Arquitetura?
Descubra a definição desse conceito tão importante e porque tem tanta gente falando sobre nas redes sociais atualmente.

Muitas vezes, enxergamos nossas cidades apenas como um mar de asfalto e concreto com vários pontos de luz. Mas elas não são elementos inanimados no mundo, nem mesmo quando abrimos as janelas durante a madrugada e não vemos nenhum transeunte. Toda cidade, independentemente de seu tamanho, é um lugar vivo, sendo as linhas do desejo uma das maiores provas disso.
Em meio ao que foi racionalmente planejado, surgem alternativas baseadas na emoção, na vontade e, principalmente, na necessidade de quem realmente ocupa cada espaço. Descubra a seguir a definição desse conceito tão importante para a Arquitetura e porque tem tanta gente falando sobre o assunto nas redes sociais atualmente.
O que são as Linhas do Desejo?
Por onde você prefere caminhar? Muitas pessoas preferem trilhar seus próprios trajetos mesmo onde existem passeios, escadas ou simples caminhos com calçamento especificamente para seguir de um ponto a outro. Isso é o que define desejo nesse quesito – essa vontade que, quando em comum, acaba criando uma linha alternativa pelo uso constante.
Em geral, elas se formam por serem a rota mais curta ou mais conveniente para as pessoas, como um caminho com mais sobra por causa da presença de árvores, entre outras situações do dia a dia. Por esse motivo, não podemos entendê-las apenas como meros atalhos, pois representam manifestações físicas do comportamento humano.
Afinal, se apenas uma pessoa trilhar esse caminho alternativo, é improvável que se torne uma linha de desejo explícita. São percebidas quando usadas em conjunto, como um desafio diante do que foi planejado inicialmente por arquitetos e urbanistas. Assim, as linhas do desejo são lições para que soluções mais humanizadas sejam criadas.
Fatores que determinam o comportamento humano
Será que existe um padrão? O fotógrafo Diego Bresani percebeu que sim, enquanto observava a cidade de Brasília para um ensaio. Segundo ele, as linhas do desejo percorridas às 6h da manhã eram formadas por pedestres do sexo masculino, que possivelmente não pertenciam ao Plano Piloto, sendo trabalhadores de cidades satélites.
Já a partir das 7h, ele identificou quais caminhos foram traçados majoritariamente por mulheres, que também se deslocavam para a região para trabalhar todos os dias. Isto é, na capital brasileira, como em outros lugares, há um recorte socioeconômico bastante forte para esse fenômeno urbanístico.
Isso acontece pois o uso de carros entre os bairros do Plano é a regra para seus moradores. Muitas vias de acesso não têm calçada, sendo exclusivas para o deslocamento de veículos.
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Divisões por gênero e raça também podem acontecer, pois as linhas do desejo dizem sobre as necessidades dos pedestres. Por exemplo, lugares com pouca iluminação em regiões mais ermas ou violentas são potencialmente mais perigosas para mulheres que precisam passar por ali com frequência.
Ou seja, embora pareça um assunto sobre estética e design, as linhas do desejo são, na verdade, um tema sociológico sobre o planejamento e ocupação desigual de cidades, bairros e até de instituições. A Universidade de Wisconsin nos Estados Unidos já publicou um artigo sobre os caminhos “não-oficiais” trilhados pelo campus, que não coincidem com a estrutura que foi desenvolvida.


Influência no planejamento urbano e arquitetônico
Como estudante de Arquitetura, vale muito a pena direcionar a sua formação para um viés que sempre considera o quanto um projeto é prático tanto quanto ele é bonito visualmente. Principalmente, considerando que o deslocamento é um direito e a acessibilidade deve ser a regra para que todos sejam incluídos no espaço urbano.
Existem muitas intervenções que podem ser até propostas para um futuro Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Seja para um bairro, um quarteirão, um parque ou até o próprio espaço da sua faculdade, por que não? Tudo isso faz parte do planejamento urbano e envolve conhecimentos arquitetônicos para que as pessoas vivam integradas à cidade.
Utilizamos a palavra soluções exatamente porque sabemos que as linhas do desejo, muitas vezes, surgem em contextos desafiadores. É um trajeto que vai trazer mais segurança aos pedestres, reflorestar uma área desmatada ou ajudar as pessoas a economizarem tempo?
O que as pessoas têm desejado? Arquitetos e urbanistas podem transformar isso em realidade, transformando assim a vida da população.
Linhas do desejo ao redor do mundo
Já mencionamos alguns exemplos por aqui, mas há muitos outros para inspirar você a estudar mais sobre o comportamento humano durante a faculdade. Afinal, uma linha que, depois, fica parecendo um ato de transgressão, pode ser incorporada ao projeto, tornando-o único e exclusivo. Veja abaixo quatro casos famosos que surgiram em diferentes países.
Central Park, Nova York
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Mesmo o mais famoso parque urbano do mundo possuir suas linhas do desejo bastante visíveis. Em geral, elas surgem pela busca dos transeuntes por uma maior conexão com a natureza, o que acaba saindo do que foi planejado para o design original do parque, onde a experiência valorizada é mais visual do que imersiva.
Parque da Cidade, Porto Alegre
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No maior parque urbano da cidade, há linhas do desejo criadas pelos frequentadores para se aproximarem do lago, possivelmente, para descansar embaixo das árvores ou fazer um piquenique no gramado. É evidente a busca por conexões mais rápidas entre as áreas de lazer e, talvez, esses caminhos informais sejam pavimentados, atendendo à demanda natural dos frequentadores no futuro.
Campus da Universidade de Columbus Ohio
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O extenso campus apresenta diversas linhas do desejo, especialmente entre as residências estudantis e os prédios de aula. A universidade, reconhecendo a preferência dos estudantes por trajetos mais eficientes, adaptou várias vias para acomodar esses fluxos.
Hyde Park, Londres
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No icônico parque londrino, as linhas do desejo são claramente visíveis em áreas onde os pedestres cortam caminho através dos gramados para chegar mais rápido aos pontos de interesse. Em alguns casos, ainda é possível ver que, embora os pedestres possam caminhar pelo acostamento da rua pavimentada, muitos preferem seguir pela grama, com mais segurança.
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