Setembro Amarelo: saúde mental e cuidados para pacientes LGBTQIAP+ que precisam do SUS
Entenda por que pacientes LGBTQIAPN+ são mais vulneráveis ao suicídio e os cuidados que você deve ter ao trabalhar no SUS.
A função do Setembro Amarelo é conscientizar as pessoas quanto aos cuidados destinados à saúde mental e a sua importância para a prevenção ao suicídio. São conduzidas ações educativas e eventos para quebrar o estigma que existe sobre o assunto, e fazer com que possíveis vítimas sintam-se acolhidas em vez de julgadas.
Infelizmente, um dos grupos que mais morrem em decorrência disso é composto por jovens. Segundo o Ministério da Saúde, o suicídio é a 4ª causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos na América atualmente.
Outro dado alarmante dentro deste recorte social é o de que 62,5% das pessoas nessa faixa etária que são LGBTQIAPN+ já pensaram em suicídio. Essa descoberta veio à tona pela revista Pediatrics e levanta um problema ainda maior: será que esse público encontra o tratamento específico de que necessitam quando vão pedir ajuda?
A seguir, você vai entender os porquês que colocam essa minoria em maior vulnerabilidade em relação ao suicídio. Além disso, também abordaremos as atitudes que deverá desenvolver durante a faculdade para tornar-se um profissional da saúde capaz de fazer a diferença na vida dessa comunidade.
Principais causas de suicídio
Em sua maioria, estão ligadas a transtornos mentais e de personalidade, sendo alguns deles: a depressão, o transtorno bipolar, o borderline e a esquizofrenia, por exemplo. Todos eles podem levar a pensamentos suicidas e comportamentos autodestrutivos a depender do quadro em que o paciente se encontra e do quanto o seu tratamento está fazendo efeito.
Além disso, contextos sociais difíceis como os que incluem violência doméstica, desemprego e desigualdade educacional podem aumentar o risco de suicídio. Fatores como esses têm impactos diferentes dependendo do gênero e da situação econômica, pois incidem diretamente na facilidade que a pessoa tem de procurar e de conseguir ajuda adequada.
Tanto os transtornos de nascença quanto os adquiridos sofrem piora quando o paciente enfrenta problemas em sua vida pessoal ou no trabalho, por exemplo. Assim, uma pessoa bipolar em um contexto social onde ela não consegue se sustentar e está em constante luta por sobrevivência tem maiores chances de atentar contra a própria vida.
Da mesma forma, um jovem que é violentado dentro de casa pode desenvolver ansiedade por causa dessa situação que, inevitavelmente, o faz cada vez mais ansioso, visto que há o anseio urgente de alterar a sua realidade. A falta de resolução para essa urgência também é um gatilho maior para o suicídio.
Por fim, outro fator que está diretamente associado a isso são os distúrbios comportamentais desenvolvidos como uma forma de lidar com todas essas questões. Estamos falando sobre o alcoolismo, entre outros tipos de abuso de substâncias, que prejudicam ainda mais a saúde física e mental, criando um ciclo vicioso.
Por que os pacientes LGBTQIAPN+ são mais vulneráveis?
Quem pertence à comunidade LGBTQIAPN+ enfrenta uma série de desafios únicos que aumentam sua vulnerabilidade ao suicídio. A discriminação e o estigma social são fatores significativos, muitas vezes levando a experiências de exclusão e violência física, moral e emocional, fomentadas pelo preconceito.
Esses impactos podem criar um ambiente de opressão que prejudicam a saúde mental, alterando o seu estado com sentimentos de desesperança. Além disso, a orientação sexual ou identidade de gênero pode ser motivo de bullying escolar, gerar conflitos familiares, e atuar como um obstáculo na formação de amizades e na busca por emprego.
A falta de aceitação familiar e social é uma preocupação crítica. Muitos indivíduos LGBTQIAPN+ enfrentam rejeição e falta de apoio de suas famílias e comunidades, o que pode intensificar sentimentos de solidão e desamparo.
Essa rejeição frequentemente resulta em problemas financeiros e falta de acesso a serviços essenciais, agravando ainda mais a sua vulnerabilidade. As consequências dessa rejeição podem acarretar uma série de dificuldades pessoais e profissionais que contribuem para o estresse emocional e mental.
Além disso, a invisibilidade e a falta de representação adequada nas políticas de saúde e serviços de apoio contribuem para a marginalização dessa população. Muitos serviços de saúde não estão preparados para lidar com as necessidades específicas dos pacientes LGBTQIAPN+, o que pode levar a um atendimento que acaba afastando a pessoa do autocuidado.
Sem falar que, as próprias questões relacionadas à identidade de gênero e orientação sexual podem ser estressantes uma vez que vivemos em uma sociedade heteronormativa. Assim, o processo de autodescoberta e a luta por aceitação podem gerar ansiedade e depressão, especialmente em um ambiente hostil.
Formação e sensibilização para profissionais do SUS
Muitos profissionais ainda carecem de conhecimento sobre questões de identidade de gênero e orientação sexual, o que pode levar a práticas discriminatórias e desinformadas. A boa notícia é que hoje tornou-se muito fácil se capacitar para atender pacientes LGBTQIAPN+ de forma humanizada.
Basta pesquisar na internet. Aqui estão, por exemplo, nove atitudes que você deve cobrar e aplicar no seu dia a dia:
- Rejeitar a heterocistnormatividade como padrão;
- Perguntar as preferências de tratamento dos pacientes;
- Aprender palavras de uso comum na comunidade;
- Oferecer um ambiente acolhedor;
- Apresentar-se como um aliado;
- Abandonar expressões preconceituosas;
- Tomar posição contra a LGBTfobia;
- Reportar casos de preconceito aos superiores.
Como psicólogo do Sistema Único de Saúde (SUS), você verá que existem diversas iniciativas voltadas para a saúde mental dos pacientes LGBTQIAP+. Programas de apoio psicológico e serviços especializados, como os Centros de Referência em Saúde Mental (CRSM), oferecem suporte específico para esses pacientes.
É fundamental estar atento às mudanças comportamentais que podem sinalizar risco de suicídio, como tristeza profunda, perda de interesse por atividades, e isolamento. Pacientes em risco podem também apresentar:
- Alterações no ciclo de sono
- Falta de apetite ou alimentação excessiva;
- Aumento no consumo de álcool e tabaco;
- Uso de drogas ilícitas.
Reconhecer esses sinais é crucial para um atendimento eficaz e para a implementação de intervenções precoces. Além disso, há muitos mitos relacionados ao suicídio que podem desviar o encaminhamento para o tratamento necessário.
Perguntar sobre suicídio não induz o paciente a esse comportamento, mas sim demonstra preocupação e pode fortalecer o vínculo com o profissional. Além disso, todas as ameaças devem ser levadas a sério. Muitas pessoas que tentam ou cometem suicídio haviam previamente comunicado suas intenções de alguma forma.
Aos demais profissionais da saúde, que não vão atuar no tratamento psicológico do paciente LGBTQIAPN+, a formação e a sensibilização são necessárias para tratá-lo da forma correta. Afinal, o ato de ir a um centro de saúde buscar ajuda não é fácil, e pequenas atitudes podem fortalecer o sentimento de segurança dessas pessoas, que não estão acostumadas a sentirem-se assim.
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