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O TDAH pode afetar minha carreira médica?

Se já foi diagnosticado ou suspeita que tenha TDAH e teme que isso vai atrapalhar seu sonho de ser médico, então, esse post é para você. Confira!

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Crescer com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é se sentir constantemente um peixe fora d’água. Atividades que são supersimples para os outros, para você, são um desafio imenso, pois não consegue acompanhar o ritmo de seus colegas e, muitas vezes, passa por situações de constrangimento.  

É como se a sua cabeça fosse uma TV trocando de canais repetidas vezes sozinha e de forma aleatória. Não dá para acompanhar nada direito, o que acaba sendo um gatilho para a ansiedade.  

Já se sentiu assim e teme que isso é um obstáculo para alcançar o seu sonho de ser médico? Então, esse post é para você. Trouxemos abaixo a palavra de um profissional que conhece muito bem a sua realidade para te ajudar em sua jornada pela Medicina, que tem tudo para ser um sucesso.

O que é o TDAH e como afeta a atenção

Primeiramente, vamos esclarecer do que se trata esse distúrbio mental, que ganhou as redes sociais nos últimos tempos. “O que nós chamamos de TDAH é, na verdade, um transtorno do controle dos impulsos. É por não conseguir controlar certos impulsos que a gente perde a atenção e o foco naquilo que a gente tinha selecionado”, explica o Dr. João Dupin, psiquiatra pela FHEMIG.

Na prática, para ter atenção, precisamos bloquear da nossa consciência os estímulos irrelevantes ao nosso redor. Estamos falando tanto de estímulos externos, como uma buzina de carro ou uma música, quanto dos internos, como os nossos pensamentos e lembranças.  

Quem tem TDAH não consegue ativar esse bloqueio sem o auxílio medicamentoso. Assim, o seu comportamento padrão se torna extremamente distraído e reativo, estando muito mais suscetível ao meio onde está inserido do que as pessoas neurotípicas.  

Como é a jornada do estudante de Medicina com TDAH

A jornada de um estudante de Medicina com TDAH pode ser desafiadora, mas há caminhos que facilitam o processo. Um deles é encontrar áreas de interesse, pois você conseguirá manter motivação e atenção amplificadas. Como destacou o Dr. João Dupin, "naquilo que você sente prazer, você consegue manter muito mais foco", o que facilita o processo de aprendizado.

Assim, sua primeira estratégia para lidar com a desatenção será explorar diferentes matérias e práticas médicas. Isso vai te ajudar a descobrir pelo que você é realmente apaixonado na Medicina.

O Dr. João Dupin também compartilhou sua experiência de como encontrou a sua especialidade ideal, destacando que “na Psiquiatria eu via apenas o que era do meu grande interesse”. Esse tipo de paixão é crucial para quem tem TDAH, pois a vontade é um fator chave para o aprendizado contínuo.

Quanto às disciplinas que você não gosta, seus maiores aliados será tudo que você odeia: prazo, vigilância, cobranças e rigor. Dr. João contou que foi após uma má apresentação durante uma aula onde os alunos eram sorteados para apresentar um seminário que ele passou a ter todo o conteúdo na ponta da língua para que, na próxima vez, provasse ao professor que tinha melhorado.

Além disso, contar com uma rede de apoio é essencial. Muitos estudantes com TDAH encontram suporte significativo em familiares, colegas ou até mesmo em cursinhos especializados. Dr. Dupin, por exemplo, reconhece que o apoio de suas irmãs, também médicas, no curso, foi fundamental para o seu sucesso.  

A busca por grupos de estudo ou colegas que possam servir de âncoras de motivação e organização é uma excelente estratégia. Ter pessoas com quem compartilhar os estudos e trocar ideias não só mantém a organização, mas também evita a procrastinação, algo comum entre aqueles com TDAH.

Depois de formado, há um caminho ideal para você também. “Passei na residência porque fiz um cursinho com turma pequena e que, à medida que fazíamos as questões, todos podiam falar e discutir sobre o tema”, contou Dr. João Dupin.

O papel do diagnóstico e do tratamento

Embora seja possível passar e se formar em Medicina sem um diagnóstico ou tratamento para o TDAH, esse não é um cenário indicado. Afinal, a falta de um tratamento adequado pode afetar não apenas o desempenho acadêmico, mas também a qualidade de vida do estudante.

O TDAH está relacionado a uma mortalidade maior em todas as idades, seja por depressão ou acidente, o que torna o cuidado com esse transtorno ainda mais urgente. Como destaca a fala de um especialista, “é necessário buscar tratamento para que você tenha as mesmas chances que os seus colegas”.

Se você suspeita que tem TDAH, especialmente após ver conteúdos sobre o tema na internet, é fundamental procurar ajuda profissional. A identificação do transtorno costuma ser muito assertiva e, ao procurar ajuda, você pode receber orientações e tratamento adequados para melhorar sua qualidade de vida.

Um conselho?

Por mais desafiador que seja o caminho, não sonhe pequeno por medo. “Mesmo que você não alcance 100% do que planejou, a conquista de 70% já será uma vitória significativa. Evite a armadilha de limitar suas ambições, porque se o objetivo é pequeno, não chegamos a lugar nenhum”.

Ou seja, Dr. João aconselha você a continuar sonhando grande e batalhando para alcançar o que parece impossível. Cada passo, cada esforço, é uma construção rumo ao seu sonho e, mesmo que o caminho seja longo, vale a pena seguir em frente com determinação.

Mas, melhor do que um conselho são dois! Ele também deixou outro recado importante: “Busque um profissional que de fato entenda do assunto. Veja se realmente tem o diagnóstico e, se sim, trate, porque faz muita diferença”.  Como as descobertas sobre o TDAH ainda são recentes, muitos psiquiatras não sabem sequer diagnosticar o distúrbio, sendo ideal a consulta com um especialista.  

Gostou desse conteúdo? Clique aqui e escute a entrevista completa com o Dr. João Dupin no podcast da Afya Educação Médica.