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Outubro Rosa: câncer de mama em homens, mastectomia preventiva e outras singularidades da doença

Vamos abordar o Outubro Rosa por um novo ângulo: descubra tudo sobre câncer de mama masculino, mastectomia preventiva e as singularidades da doença para pessoas trans.

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Entramos na primeira semana de outubro, quando empresas, organizações e pessoas influentes de vários setores socioeconômicos iniciam suas campanhas pela conscientização sobre o câncer de mama. Como maior ecossistema de educação em saúde e healthtechs do Brasil, é claro que nós também faremos a nossa parte.

Mas, desta vez, vamos abordar este tema por um novo ângulo. Afinal, o que você sabe sobre o câncer de mama masculino?

E sobre os métodos menos convencionais de prevenção para mulheres cisgênero? Ou, ainda, alguma vez você já ouviu falar sobre a relação que existe entre os processos de transexualização e a doença?

Pois é, caro estudante, existem mais tipos de corpos do que o senso comum nos faz imaginar. E é nosso dever como entidade educacional inclusiva acolher todas as pessoas e suas individualidades.

Assim, o primeiro tópico será dedicado à questão do ponto de vista dos homens cisgênero; o segundo, das mulheres cisgênero; e, por fim, você verá o que concerne exclusivamente ao público LGBTQIAP+.

Ficou curioso? Então, vem com a gente descobrir em primeira mão tudo que você NUNCA aprendeu durante o Outubro Rosa.

Câncer de mama masculino

Outubro Rosa: homens devem estar atentos ao surgimento de nódulos na região do peitoral e das axilas. Foto: Shutterstock
Outubro Rosa: homens devem estar atentos ao surgimento de nódulos na região do peitoral e das axilas. Foto: Shutterstock

Embora não tenham as mamas desenvolvidas, homens cisgênero possuem glândulas mamárias e hormônios “femininos” em seus corpos também. Logo, mesmo sendo apenas 1%, existe um potencial para o desenvolvimento do câncer de mama.

Normalmente, a doença acomete indivíduos mais velhos, acima dos 60 anos, sendo mais frequente quando possuem histórico de casos entre parentes próximos independentemente de seus gêneros. A ocorrência de câncer de ovário na família é outro fator a ser colocado como alerta.

Fatores de risco

Além da idade e do histórico citados anteriormente, os principais fatores de risco são:

  • Mutações genéticas hereditárias (BRCA2, BRCA1, pTEN, P53, CHEK2);
  • Uso de anabolizantes;
  • Anormalidades cromossômicas (Síndrome de Klinefelter);
  • Obesidade;
  • Alcoolismo.

Em mulheres cisgêneros, o risco de câncer de mama hereditário corresponde a 10% dos casos. No entanto, entre os homens cisgênero, este fator equivale a 40%.

Diagnóstico

Devido à sua raridade, homens cisgênero não costumam receber recomendação médica para realizar exames de rotina para o rastreamento da doença. Na prática, a maioria dos diagnósticos acontece quando o paciente já procura ajuda para alguma reclamação referente à mama.

Nestes casos, o método para descoberta continua sendo o ultrassom, seguido de biópsia percutânea com agulha grossa. Veja a seguir quais são os sintomas aos quais as pessoas deste grupo precisam ficar muito atentas.

Sintomas

Infelizmente, o principal sintoma é bastante silencioso: nódulo endurecido e indolor. Ele passa despercebido para quem não presta muita atenção ao próprio corpo. Fique alerta com:

  • Surgimento de um caroço próximo ao mamilo;
  • Retração do mamilo;
  • Dor unilateral na mama;
  • Secreção pelo mamilo.

  Nos casos mais avançados, o paciente também pode apresentar aumento dos gânglios linfáticos na axila. E, quando há metástase nestas regiões, o mastologista responsável deve solicitar exames de estadiamento para identificar se os tumores já foram também para outros órgãos, como pulmões e fígado.

Tratamento

Com o diagnóstico precoce, a taxa de cura do câncer de mama masculino é de 90% a 95%. Ou seja, o prognóstico é excelente!

Seu tratamento é parecido com o direcionado a mulheres cisgênero, mas, devido ao tamanho reduzido da mama, frequentemente é necessária a remoção total dos mamilos e das auréolas. Também são retirados os gânglios axilares na mesma cirurgia.

Além disso, outras abordagens podem ser necessárias, como a quimioterapia, a radioterapia ou o bloqueio hormonal. Tudo isso vai depender do tamanho do tumor, de suas particularidades biológicas e se houve metástase.

Leia também: 7 mulheres que transformaram a Medicina no Brasil e no mundo

Mastectomia preventiva

A mastectomia preventiva é uma opção que deve ser apresentada para as mulheres contra o câncer de mama. Foto: Shutterstock
A mastectomia preventiva é uma opção que deve ser apresentada para as mulheres contra o câncer de mama. Foto: Shutterstock

Tudo bem, vamos dar o braço a torcer neste tópico, pois existe a chance de você já ter ouvido falar sobre este método de prevenção para o câncer de mama. Isso, em grande parte, porque a atriz e ativista humanitária Angelina Jolie realizou o procedimento em 2013.

A motivação de Jolie foi a morte precoce de sua mãe, por conta da enfermidade, e o fato de um histórico familiar negativo ser um fator de risco mais elevado. Caso semelhante também apareceu na série The Bold Type, na qual a personagem principal decide encarar a cirurgia para se proteger.

Mas será que a mastectomia é indicada para todos os casos? O que os especialistas falam sobre isso?

Bom, aqui está o nosso diferencial informativo. E, convenhamos, melhor do que ter uma mera noção pela mídia é aprender com base em dados sobre o assunto.

Como a mastectomia preventiva é feita

Esta cirurgia pode ser realizada por um mastologista ou especialista em cirurgia plástica, responsável por fazer uma incisão na extensão da base das mamas. São retiradas pelos dois cortes as respectivas glândulas mamárias da mulher cisgênero. Assim, fica preservado o músculo peitoral, a pele, as auréolas e os mamilos.

No entanto, há também a possibilidade de fazer o procedimento e a reconstrução mamária. Neste caso, o médico utiliza a mesma passagem para colocar os implantes de silicone ou as bolsas expansoras de soro fisiológico. A segunda opção requer um novo procedimento, pois, posteriormente, as bolsas devem ser substituídas por próteses.

Também é necessário um procedimento conjunto quando as mamas da paciente são muito grandes ou quando há um excesso de pele, para que as sobras sejam devidamente retiradas. Isso é feito para que as próteses fiquem com o aspecto mais natural possível e/ou evitar deformações.

Porém, existem alguns riscos. Por exemplo: talvez, as mamas não fiquem como eram; pode haver rejeição da prótese e a necessidade de retirá-la posteriormente; os mamilos podem ficar desalinhados; além de diferentes níveis de perda de sensibilidade tátil e erógena.

Quem pode fazer mastectomia preventiva

As recomendações médicas para o procedimento costumam gravitar entre dois grupos. O primeiro é o das mulheres que têm alto risco de desenvolver a doença, como era o caso da Angelina Jolie.

Em entrevista ao New York Times, a atriz contou que seus exames detectaram 87% de chance de que ela desenvolvesse neoplasia mamária. Para as mulheres cisgêneros deste grupo é recomendada a mastectomia profilática bilateral antes mesmo do diagnóstico do câncer.

Já o segundo grupo é composto por aquelas que já foram diagnosticadas com a doença e realizam o procedimento para livrar-se do tumor e reduzir as chances de que outros surjam no futuro. Tal cirurgia, é conhecida como mastectomia profilática contralateral e, hoje, a reconstrução mamária posterior é oferecida pelo SUS.

Ambos, porém, não são os únicos. Existe um terceiro grupo de mulheres que recebe menos consideração: as cisgênero que simplesmente não se importam com a remoção das mamas e querem retirá-las, embora não tenham fator de risco.

Segundo uma pesquisa do Instituto Avon, 75% das entrevistadas afirmaram acreditar na perda da vaidade após a mastectomia. Afinal, há um padrão de beleza, feminilidade e maternidade que reforçam uma imagem do corpo ideal.

No entanto, ser inclusivo é falar também para quem provavelmente estava entre os 35% deste levantamento. E decidimos ativamente dar voz a elas neste artigo. 

Em uma matéria do website do reconhecido Dr. Drauzio Varella, um médico especialista afirmou:

Com certeza é uma opção que deve ser apresentada à mulher, principalmente para aquelas que não lidam bem emocionalmente com um tratamento de câncer. Mas antes de decidir retirar as mamas preventivamente, a paciente deve receber acompanhamento psicológico. - Dr. Alfredo Barros, mastologista do Hospital Sírio-Libanês.

Debatidos os riscos do procedimento com a paciente, ela pode se submeter também de forma eletiva à mastectomia preventiva. Apesar de parecer radical, esta é apenas uma escolha estética com viés de saúde física e mental, assim como o implante de próteses ou a recente onda de remoção desta que tem sido vista.

Contraindicações do procedimento

Também precisamos falar para quem a cirurgia não é recomendada. Mas as contraindicações estão muito ligadas ao risco do pós-operatório, sendo parecidas com o que se vê para outros procedimentos cirúrgicos.

Em geral, a mastectomia preventiva não é indicada para:

  • Fumantes;
  • Obesas;
  • Diabéticas e hipertensas.

Corpos transexuais binários e não-binários

Outubro Rosa também é sobre corpos transexuais binários e não-binários. Foto: Shutterstock
Outubro Rosa também é sobre corpos transexuais binários e não-binários. Foto: Shutterstock

Transexuais são aquelas pessoas que não se identificam com o gênero ao qual foram designados ao nascer, podendo haver diversas variações em seus processos. Há, por exemplo, os transexuais binários, que transicionam de um gênero para o outro, e os não-binários, que não definem sua identidade de gênero nem como feminina nem como masculina.

De todo modo, independentemente de como estes indivíduos se identificam, seus corpos também podem ser acometidos pelo câncer de mama. Aqui vamos abordar as duas principais questões envolvidas no processo transexualizador.

Descubra ainda: 9 atitudes que médicos devem ter para atender pessoas LGBTQIAP+

Terapia hormonal com estrogênio aumenta o risco

Tanto para a transexualização MTF, abreviação de “Male to Female”, que significa “Masculino para Feminino”, quanto para o tratamento de disforias não-binárias e intersexo, existe a prescrição de terapia hormonal com estrogênio.

A aplicação de estrogênio tem por objetivo causar uma nova redistribuição de gordura no corpo, uma suavização vocal, entre outras características de expressão do sexo fenotípico, que trazem bem-estar e correspondência mental quanto à autoimagem.

Pessoas transfemininas e não-binárias em terapia hormonal com estrogênio desenvolvem mamas, o que requer atenção. Foto: Shutterstock

Porém, este hormônio está diretamente relacionado ao surgimento do câncer de mama com receptor estrogênico positivo. Logo, pessoas transfemininas e intersexo precisam ficar atentas aos métodos de prevenção e realizar exames de rotina também.

Em 2019, um estudo observacional do University Medical Center apontou 15 casos em mulheres trans que já estavam em terapia hormonal há 18 anos, em média. Seus números demonstram que há um risco 47 vezes maior de desenvolverem a doença do que homens cisgênero que, como vimos antes, gira em torno de 1%.

Além disso, endocrinologistas também costumam prescrever agentes com atividade antiandrogênica, como a espironolactona, para suprimir a testosterona que protege a mama do câncer. Resumindo: a atenção deve ser redobrada!

Mastectomia masculinizadora não zera o risco

A mastectomia masculinizadora é uma opção para pessoas que desejam a transição FTM, que é exatamente o contrário da que descrevemos no tópico anterior: feminino para masculino. Pessoas não-binárias também recorrem à cirurgia que, apesar de remover as glândulas mamárias e reposicionar os mamilos no peitoral, não reduz o risco de câncer de mama a zero.

Recomenda-se que indivíduos transmasculinos realizem exames clínicos anuais a partir dos 40 anos para prevenção. Mas, no lugar da mamografia, a detecção acontece por meio do ultrassom.

Mastectomia masculinizadora e testosterona reduzem o risco, mas ainda existe chance de desenvolver o câncer de mama. Foto: Shutterstock

No mesmo estudo de Amsterdã, os pesquisadores detectaram a doença em homens trans em uma média menor do que se espera para mulheres cisgênero. Isso é justificado não apenas pelo procedimento cirúrgico em si.

A terapia hormonal também pode fazer parte da transexualização FTM e não-binária, sendo, nestes casos, aplicada a testosterona. Mas, assim como o uso de antiandrogênicos para bloqueá-la aumenta o risco para pessoas transfemininas, em trasmasculinos e intersexo o efeito causado é inverso.

Outros fatores, porém, podem alterar a necessidade de exames preventivos em intervalos menores. Por exemplo, casos de mutação nos genes BRCA1 e BRCA2, que trazem risco alto de carcinoma na mama.

Em suma, a American Cancer Society indica que homens trans com histórico da doença na família comecem a fazer seus exames anuais 10 anos antes, ou seja, aos 30.

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