Discriminação na Medicina: o que médicos e pacientes pretos ainda enfrentam e como combater
O que você sabe sobre racismo e discriminação na Medicina? Saiba mais sobre o tema e tire suas dúvidas!
A desigualdade social e o racismo são problemas profundamente enraizados na sociedade brasileira, afetando vários aspectos da vida da população negra, incluindo a saúde. E o pior: isso não afeta apenas os pacientes, mas também àqueles que buscam oportunidades como profissionais do segmento.
Sendo assim, apesar dos avanços em diversas áreas, ainda há um longo caminho a ser percorrido para garantir que a discriminação na Medicina acabe ou diminua. Essa é uma realidade que precisa ser mudada, e, para que isso possa acontecer, ela precisa ser conhecida.
Neste artigo, vamos abordar como a população negra é afetada por essas questões na área da saúde, incluindo os desafios enfrentados por médicos e estudantes de Medicina negros. Pronto para entender mais sobre o assunto? Vamos lá!
Racismo na saúde: qual é o panorama do assunto no Brasil?
O racismo na área da saúde não é apenas uma questão de preconceito individual, mas uma manifestação de um problema estrutural. Ou seja: ele está incorporado nas práticas, políticas e sistemas de saúde, afetando negativamente a população negra em diversos níveis.
Essa discriminação pode se manifestar de maneira explícita ou implícita, desde a forma como os pacientes são atendidos até as oportunidades oferecidas a profissionais de saúde negros.
E, nesse quesito, os números não mentem. De acordo com o Demografia Médica de 2023, um estudo que avalia todo o panorama dos profissionais médicos no país, a quantidade de profissionais autodeclarados pretos é muito inferior à de brancos entre os estudantes que estão fazendo residências.
Os dados mostram que 70,1% dos médicos residentes se identificam como brancos. Sendo assim, 27,5% se autodeclararam não brancos. E, ainda, entre estes, há apenas 3% negros, contra 24.5% de pardos.
O mesmo estudo, mas de 2019, mostra algo semelhante. Na época, 3% dos estudantes de Medicina do país se declararam como pretos. Os brancos, por sua vez, somaram quase 70%.
Esse é um reflexo de problemas muito mais profundos do que se imagina. A seguir, falaremos sobre eles.
Quais são os desafios enfrentados por estudantes e médicos pretos no país?
Agora, é hora de você entender quais são os motivos pelos quais há tão poucos médicos declarados negros no Brasil. Entenda um pouco mais a seguir.
Acesso à formação
O acesso à educação de qualidade é um dos principais desafios enfrentados por estudantes de Medicina negros. Mas como?
Isso ocorre porque a falta de recursos e oportunidades desde a educação básica até o ensino superior resulta em um menor número de estudantes negros ingressando em cursos de Medicina. Um exemplo disso é a alta taxa de evasão escolar (ou seja, abandono dos estudos) entre esse grupo: mais de 70%.
Discriminação e preconceito
Além das dificuldades no início da formação, os médicos e estudantes de Medicina negros frequentemente enfrentam discriminação e preconceito no ambiente acadêmico e profissional.
Esse preconceito pode se manifestar de várias maneiras, incluindo microagressões, atitudes desdenhosas por parte de colegas e superiores, e expectativas mais baixas em relação ao seu desempenho. Como consequência, temos profissionais com a autoestima abalada e com limitações em suas oportunidades de emprego e carreira.
Representatividade
A falta de representatividade é outro desafio significativo. Poucos médicos e professores negros ocupam posições de destaque em instituições de saúde e ensino. Isso dificulta a formação de redes de apoio e mentorias que são essenciais para o desenvolvimento profissional.
Na verdade, esse é um problema que também se estende aos pacientes. Um exemplo é que, em busca de identificação e empatia, muitas pessoas negras buscam atendimento com médicos da mesma comunidade e não encontram esse tipo de suporte.
E os pacientes? Como são afetados?
E por falar em pacientes, por que não abordarmos um pouco sobre esse lado da moeda? Afinal, eles também frequentemente enfrentam barreiras no acesso a serviços de saúde de qualidade.
A localização geográfica, a falta de recursos financeiros e a ausência de profissionais de saúde em áreas predominantemente negras são questões que contribuem para essa desigualdade. Além disso, a discriminação racial pode levar a um tratamento diferenciado e menos atenção às queixas de saúde dos pacientes negros.
Diante disso, há estatísticas como a de que os pacientes negros têm menos probabilidade de receber tratamentos adequados para condições crônicas, como hipertensão e diabetes. Também é menos provável que recebam analgésicos para dor, mesmo quando suas queixas são semelhantes às de pacientes brancos.
Sendo assim, esse tipo de relato tem gerado uma desconfiança generalizada entre a população negra em relação ao sistema de saúde. Isso pode levar à relutância em buscar atendimento médico e a uma comunicação menos eficaz entre pacientes e profissionais de saúde.
Como podemos enfrentar o racismo na saúde?
Por fim, é hora de falarmos sobre medidas que podem ajudar a diminuir esse abismo entre os profissionais e pacientes brancos e negros. Confira algumas ideias e veja como você pode colaborar!
Implementação de políticas públicas e ações afirmativas
Para que possamos combater o racismo na saúde, é essencial implementar políticas públicas e ações afirmativas que promovam a igualdade de acesso e tratamento. Isso inclui a expansão de programas de cotas em universidades, a contratação de mais profissionais negros em cargos de liderança e a promoção de campanhas de conscientização sobre o racismo na saúde.
Sensibilização da população
Além disso, não podemos esquecer de sensibilizar e educar a população. E isso deve ser feito ao longo de toda a formação das pessoas, ou seja: desde a educação básica, ainda na escola, até a formação superior.
O racismo é um problema estrutural e questões como ações afirmativas (as cotas) ajudam a nivelar essa desigualdade, mas não atuam no foco do problema. Assim, é preciso focar em conscientização para que o problema diminua nas próximas gerações. O trabalho deve ser focado tanto no presente, quanto no futuro.
Monitoramento e cobranças
Por fim, investir em pesquisa e monitoramento das disparidades raciais na saúde é fundamental para identificar e abordar o problema. E, claro, fazer divulgações e implementar políticas em cima dos resultados obtidos é crucial. Afinal, os dados servem para isso: nos guiar e ajudar na identificação do que precisa ser mudado.
Além disso, apoiar a pesquisa conduzida por profissionais negros pode trazer perspectivas importantes e soluções inovadoras para os desafios enfrentados por essa população.
Como é possível perceber, a discriminação na Medicina é um problema que vai muito além do que imaginamos. Ele está enraizado em uma sociedade estruturalmente racista, o que faz com que o acesso à serviços e formação acadêmica seja dificultado para a população negra. Vamos trabalhar juntos para mudar esse panorama?
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