Cura para o diabetes tipo 2? Entenda o novo tratamento experimental
Cientistas chineses anunciaram que um tratamento experimental com células-tronco curou um paciente com diabetes tipo 2. Veja a seguir como isso foi possível.
Os primeiros registros sobre o diabetes, quando ainda não havia distinção entre tipo 1 ou tipo 2, datam de 1500 a.C pelas mãos de médicos egípcios. No entanto, a doença somente foi reconhecida como entidade clínica em 1812 – mais de três milênios depois.
Quase outro século se passou até que a sua causa fosse descoberta. Foi Edward Sharpey-Schafer quem levantou a hipótese de as pessoas adoeciam devido à deficiência de uma única substância química, produzida no pâncreas, a qual ele batizou de insulina.
Em 1922, um tratamento experimental por meio desse extrato pancreático foi testado em uma criança de 11 anos. Iniciou-se a extração em pâncreas bovinos e suínos que, posteriormente, acabou sendo substituída pela produção sintética graças a Frederick Sanger – vencedor de um Prêmio Nobel por descobrir sua estrutura molecular.
Os resultados nesse primeiro paciente foram tão positivos que a comunidade médica à época chegou a pensar que houvesse encontrado a cura para o diabetes. No entanto, levou muito mais tempo para casos de remissão prolongada acontecerem, sendo eles resultados de cirurgias bariátricas para perda de peso.
Esse cenário só foi mudar em 2024, quando cientistas chineses anunciaram que um tratamento experimental com células-tronco curou um paciente com diabetes tipo 2. Veja a seguir como isso foi possível.
O que é o diabetes tipo 2 e quais são as suas particularidades?
O pâncreas é o órgão responsável por produzir a insulina – substância que serve para deslocar a glicose da corrente sanguínea para dentro das células, onde será armazenada como fonte de energia. É por meio desse transporte que os níveis de glicose no sangue são regulados.
Quando uma pessoa possui diabetes tipo 2, duas funções em seu corpo ficam comprometidas. Seu pâncreas produz insulina em quantidades insuficientes e algumas das células no seu organismo não a reconhecem, apresentando uma espécie de resistência ao hormônio.
Assim, o nível de glicose na corrente sanguínea do diabético fica mais alta do que o saudável, o que é chamado de hiperglicemia. Dessa consequência, surgem várias outras, como:
- Desidratação;
- Fadiga;
- Visão embaçada;
- Náusea e vômito;
- Doenças vasculares;
- Neuropatia;
- Retinopatia;
- Nefropatia.
Por resultar em um quadro de hiperglicemia, o diabetes tipo 1 também acarreta esses mesmos problemas. No entanto, a fisiopatologia das doenças é diferente e é isso que impede o recente tratamento experimental chinês de curar todos os diabéticos.
No diabetes tipo 1, o paciente precisa da aplicação de insulina, pois o organismo não produz mais esse hormônio. Já no diabetes tipo 2 – a depender da gravidade - o tratamento pode ser feito apenas com medicação oral, sendo exercício físico e controle da dieta recomendados para ambos os casos.
Como o tratamento experimental consertou essa disfunção
Os cientistas chineses seguiram um raciocínio parecido com o que possibilitou a Frederick Banting e Charles Best comprovar a origem da doença ainda em 1921. À época, eles testaram transplantar extratos de células das ilhotas de Langerhans, onde é produzida a insulina dentro do pâncreas, para o órgão de cachorros diabéticos, revertendo seus quadros.
Dessa vez, o transplante foi possível em um ser humano por meio do uso de células-tronco embrionárias. Em laboratório, elas foram direcionadas para se tornarem células-tronco “endodérmicas”, cuja habilidade especial é se transformarem em células de órgão humanos.
Após um ano de desenvolvimento no fígado do paciente, as células-tronco endodérmicas viraram ilhotas pancreáticas. A medida em que elas começaram a funcionar no organismo do paciente, os medicamentos para controle do diabetes tipo 2 foram sendo reduzidos até a remoção total que foi mantida por 33 meses.
Importância da descoberta para a Medicina
Segundo os insumos da pesquisa, o procedimento foi capaz de recuperar 100% da função das ilhotas pancreáticas. “Nossa tecnologia amadureceu e ultrapassou limites no campo da Medicina regenerativa para o tratamento do diabetes”, afirmou o pesquisador líder da equipe e diretor do Centro de Transplante de Órgãos do Hospital Shanghai Changzheng.
Além disso, há uma grande esperança de que o tratamento com células-tronco também ajude a impedir a progressão das complicações diabéticas. Em 2021, 6,7 milhões de pessoas morreram devido à diabetes, mais do que o número total de vítimas fatais da COVID-19 desde o início da pandemia.
Atualmente, o Brasil registra cerca de 580 mil pessoas diagnosticadas com algum tipo de diabetes, sendo o quinto país com maior incidência da doença no mundo. Estima-se que até 2050, mais de 1,3 bilhão de pessoas tenham diabetes no mundo. Assim, o sucesso desse tratamento experimental é de suma importância para o futuro da humanidade, salvando vidas ou garantindo aos doentes mais bem-estar.
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