O que é ócio criativo e como praticá-lo durante as férias
Para você entender de uma vez por todas o que é ócio criativo e como pode praticá-lo, nós trouxemos a palavra de um especialista. Vamos lá?
Tales de Mileto foi o primeiro filósofo grego e ele viveu por volta de 624-545 a.C. Nessa época, o ócio era uma condição de privilégio e, portanto, muito valorizada, sendo concedida apenas aos cidadãos livres de Atenas.
Desde então, pouco mudou nesse sentido, pois a maior parte da população mundial precisa dedicar seus dias a trabalhos remunerados para garantir sua sobrevivência. Há, porém, uma grande diferença conceitual entre estes dois períodos: com a formação da sociedade de consumo, o ócio passou a ser interpretado como desperdício de tempo.
Nada poderia estar mais longe da verdade. Ao invés de ser um sintoma da preguiça, o ócio criativo é uma ferramenta fundamental para a inovação. Mas é claro que tal conceito também não se limita a isso. Então, para que você compreenda de uma vez por todas o que é ócio criativo e como pode praticá-lo durante as férias, nós trouxemos a palavra de um especialista. Vamos lá?
O que é ócio criativo
“É a natureza do ser humano”, afirma Domenico De Masi, sociólogo italiano que cunhou o termo em 2001, quando publicou o livro homônimo. De acordo com De Masi, “o ser humano não é feito para trabalhos cansativos, brutais e entediantes”. Basta revisitar os livros de História para perceber que as grandes revoluções aconteceram por meio da substituição da mão de obra por animais e/ou máquinas. E é exatamente a isso que o sociólogo se refere em sua teorização.
Mas ele vai além. Ao abordar o que conhecemos como ‘trabalho criativo’, De Masi explica que as profissões e atividades contidas dentro desta esfera não podem ser consideradas somente trabalho. Por exemplo, quando uma pessoa escreve um livro, ela está estudando, trabalhando e se divertindo, de forma simultânea ou em picos intercalados. O que, em suma, é a definição de ócio criativo em si.
Benefícios do ócio criativo
Estimula o aprendizado, a cultura e a inovação
Excesso de estímulos podem dificultar o raciocínio a longo prazo, além de atrapalhar a criatividade e a imaginação. Infelizmente, esta tem sido uma característica padrão do nosso mercado de trabalho competitivo.
A falta de inovação que resulta disso pode ser facilmente identificada na moda por exemplo. A partir do momento em que as duas coleções anuais foram substituídas por inúmeras microcoleções ao longo do ano, completamente dissociadas das quatro estações climáticas, a reciclagem de estilos vintage virou uma regra.
Nesse contexto, o ócio criativo nos auxilia a descompartimentar conhecimentos, integrando-os em uma única rede multidisciplinar. Também serve de guia para rompermos com a rigidez da realidade, expandindo nossos horizontes para aprender diferentes culturas e incorporá-las em nós mesmos. Afinal, uma mente menos limitada é uma mente com menos preconceitos.
Por fim, aprender por diversão sempre foi mais eficiente do que aprender por obrigação e há estudos científicos que comprovam isso. Em 2007, a neurologista Judy Willis mostrou em seu livro que experiências divertidas aumentam os níveis de três elementos que promovem aprendizado no corpo humano: dopamina, endorfina e oxigênio.
Publicado no Journal of Vocational Behaviour, outro estudo expôs uma maior tendência de tentar coisas novas em ambientes de trabalho descontraídos. E evidências que comprovam tais teorias não são tão recentes. Pelo menos desde 1997, pesquisadores influentes já haviam provado que as pessoas aprendem melhor quando estão sentindo emoções positivas.
Promove o autoconhecimento e melhora as saúdes física e mental
Neurologistas da Universidade de Kyoto mostraram que momentos dedicados à contemplação/reflexão e à meditação estimulam uma região do cérebro que está intimamente ligada à sensação de realização. Por serem totalmente intelectuais, atividades como estas nos permitem criar um espaço só nosso, livre de pressões e influências externas, no qual podemos estar presentes à nossa maneira.
O autoconhecimento é o caminho mais rápido para descobrir o que realmente traz satisfação à sua vida, quais são suas melhores habilidades e o que faz de você quem você de fato é. Valores e necessidades são comumente confundidos como sinônimos e saber diferenciá-los é também uma forma de alcançar maior paz interior.
Mas se você deseja praticar um ócio criativo mais ‘mão na massa’, isso também é uma opção. A organização Combat Stress utiliza diferentes tipos de cursos de artesanato, oferecidos pelas faculdades de Oxford e Banbury, para ajudar soldados sofrendo de PTSD.
Outro estudo mostrou que é a natureza meditativa, a repetição, o engajamento multissensorial e a satisfação por criar algo novo que fazem com que atividades manuais sejam benéficas à mente. Quando o cérebro envia vários sinais químicos de “sensação boa” ao corpo, a liberação de neurotransmissores que criam pensamentos negativos é reduzida.
E como tudo isso impacta a nossa saúde física? Bom, primeiramente porque o processo criativo diminui o estresse, melhora o humor e reduz a ansiedade. Em segundo lugar, porque exercita nossa flexibilidade cognitiva, o que pode reduzir o risco de demência e/ou Alzheimer. Nada mal, não é mesmo?
Praticando o ócio criativo
Recapitulando: ficar à toa ou fazer nada, olhando para uma tela de celular por horas a fio, não é sinônimo de ócio criativo. E foi para ajudá-lo a sair da sua zona de conforto que nós inserimos este que talvez seja o mais importante tópico do texto inteiro.
Como você pode ver, não é nem um pouco difícil praticar ócio criativo. Além dos itens listados acima, existe uma imensidão de coisas que envolvem trabalho, estudo e diversão em um único pacote capaz de trazer mais bem-estar em sua vida.
Aproveite as férias para encontrar a atividade que faz mais sentido para você. E não se esqueça de que o objetivo não é ser produtivo o tempo todo, mas divertir-se enquanto aprende mesmo sem intenção.
“A vida não é útil”
Embora esta afirmação pareça triste e sem esperança, seu significado representa exatamente o contrário. Foi Aylton Krenak, maior líder indígena brasileiro da atualidade, quem disse isso certa vez em uma palestra, na qual ele criticou a mecanicidade de nossas rotinas, principalmente nas grandes cidades.
Para De Masi, este jeito automático que levamos a vida é o comportamento industrial que nós resistimos em deixar para trás, mesmo que estejamos experimentando um novo período histórico. E, por mais inacreditável que possa soar, segundo o sociólogo italiano, o futuro que as próximas gerações construirão é bem parecido com o que Krenak defende. Um futuro com muito mais ócio criativo e menos trabalho brutos, cansativos e/ou entediantes.
Então, está esperando o que? A gente sabe que o cursinho pré-vestibular pode ser um dos locais de ensino mais mecânicos que existe e, antes de começar na faculdade, é melhor você tirar isso do seu sistema. Faça das suas férias um momento para aprender a pensar fora da caixa, pois isso é o que vai te levar mais longe no mercado de trabalho.
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