Graduação e cursos

Como está a representatividade indígena nas universidades brasileiras?

Afinal, será que estamos conseguindo aumentar a representatividade indígena no Ensino Superior? Descubra aqui!

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Representatividade indígena. Presença daquele que é originário, que estava ali antes dos outros. No Brasil de 1500, havia uma grande variedade de civilizações indígenas que existem até hoje, como os Yanomami, os Krenak, os Kaxixó e os Tupi-Guarani.

Outros tantos outros não foram documentados até seu extermínio pelos colonizadores portugueses. E foi por conta desse processo de dominação que muito da sabedoria ancestral do nosso país foi perdida

Já imaginou o quanto seus conhecimentos poderiam estar contribuindo para a ciência contemporânea? Felizmente, muitos conseguiram resistir à invasão de suas terras e, hoje, ocupam várias áreas dentro do Ensino Superior. 

Neste 19 de abril, decidimos lançar luz sobre a questão da representatividade indígena nos cursos de graduação. Afinal, será que estamos conseguindo reverter minimamente os danos causados lá atrás?

Descubra com a gente a seguir!

Da subnotificação ao crescimento 

Hoje, há um movimento forte pela defesa dos povos originários em nossa sociedade, que tem contribuído para sua inserção no Ensino Superior. Assim, temos observado uma expansão dos seus conhecimentos no meio acadêmico, o que, consequentemente, acaba por contribuir com pesquisas pelo mundo afora.

Em 2000, havia registro de apenas 4.397 alunos pertencentes a povos originários nas universidades brasileiras. Dezenove anos depois, este número cresceu para 72 mil matrículas, segundo o Censo da Educação Superior (CenSup).

Porém, até que medidas do Inep foram implementadas, as categorias “sem declaração” e “não dispõe de informação” para a variável “cor/raça” eram muito selecionadas. Em 2009, elas representavam 73,5% nas pesquisas.

Em dez anos, este número caiu para 18,2%. Nesse sentido,  pelo menos parte do crescimento percebido tenha sido, na verdade, uma melhora na notificação e não um real aumento.

No entanto, uma vez que ações afirmativas entraram em vigor durante esse período, também houve um aumento das matrículas. Principalmente, porque os números mostram que a inserção no Ensino Superior cresceu como um todo entre 2000 e 2010.

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Fatores que contribuíram para o aumento 

Todo estudante precisa completar algumas etapas antes de chegar à faculdade. E, sim, nós estamos falando de estar na escola desde o jardim de infância até chegar à conclusão do Ensino Médio tradicional ou supletivo.

Pensando nisso, há um dado interessante, que corrobora para a ideia de que a representatividade indígena cresceu no Ensino Superior nos últimos tempos. Entre 2000 e 2010, houve um crescimento de 53,7% nas matrículas da educação básica em geral e de 71% no EM, com um aumento de alunos indígenas em ambos os níveis.

Ou seja, a democratização do acesso à educação como um todo contribui para a ascensão de minorias. Isso significa interiorizar o ensino e levar mais escolas e faculdades onde a população indígena é mais presente, como a Afya já fez, com as unidades de Itacoatiara, Manacapuru, Porto Velho e Ji-Paraná.

Outro fator que já mencionamos anteriormente são a criação do Prouni, que oferece bolsas de estudo de até 100%, e as cotas étnico-raciais.  Além disso, há também os vestibulares diferenciados para pessoas indígenas e quilombolas.

No entanto, este segundo apontamento tem se mostrado menos resolutivo para a questão da representatividade ingígena do que o primeiro. O porquê disso você verá a seguir.

Ensino superior privado é onde está a maioria dos indígenas 

Segundo dados do Censo do Ensino Superior, realizado pelo Inep em 2019, quase dois terços dos indígenas estão estudando em faculdades do setor privado. E dessas pessoas a maior parte não foi contemplada pelo Prouni.

Você pode observar a situação da distribuição e do crescimento da representatividade indígena, no período de 2009 a 2019, nos gráficos abaixo.

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Desafios a serem superados pela representatividade indígena

Além da missão de levar o ensino superior para o interior do Brasil, há também outros dois desafios de cunho cultural a serem superados.

Primeiramente, o racismo anti-indígena, sofrido pelos estudantes que têm a coragem de deixar suas aldeias e ir às cidades grandes estudar. Îasy Almeida, da etnia Tamoio, estava cursando Publicidade e Propaganda quando sofreu com o preconceito vindo não apenas de colegas, mas também de professores. 

Em segundo lugar, está a falta do direcionamento da aula com enfoque nos povos originários. Ou seja, a falta de representatividade indígena nos próprios materiais que servem de base para o aprendizado. 

A taxa de mortalidade entre indígenas é uma das mais altas para várias doenças no Brasil. Mesmo assim, Sandra Pankararu afirma que partiu dela a proposta de estudarem a saúde com este enfoque no curso de Medicina da sua faculdade. Antes disso, não havia nenhuma disciplina a respeito. 

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