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O que é a luta antimanicomial e qual a sua importância

Descubra o que é a Luta Antimanicomial e qual a sua importância para pacientes psiquiátricos e seus familiares!

10
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A luta antimanicomial é um movimento caracterizado pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento causado por doenças psiquiátricas. O combate ao isolamento dos pacientes, disfarçado de tratamentos se baseia nos preconceitos que cercam os transtornos mentais culminando com a reforma psiquiátrica.

O movimento visa lembrar que todos os cidadãos, com ou sem doenças mentais, têm direito fundamental à liberdade, direito a viver em sociedade e a receber cuidados e tratamentos sem ter cerceado sua convivência em sociedade.

Continue lendo e entenda mais sobre esse assunto tão importante para pacientes psiquiátricos e seus familiares, além dos seus médicos e demais profissionais que os acompanham de perto!

O que eram manicômios e como funcionavam?

Como parta da história da Psiquiatria, confira como os manicômios funcionavam!

Conceito

Manicômios eram instituições criadas para abrigar e tratar pessoas com transtornos mentais. Historicamente, eles surgiram no século XVIII como uma alternativa aos asilos gerais, que misturavam pessoas com deficiências físicas e mentais, além de criminosos e mendigos, em condições precárias.

Inicialmente, os manicômios eram vistos como locais de tratamento onde os pacientes poderiam receber cuidados especializados, mas com o tempo essas instituições se tornaram sinônimo de abusos e violações dos direitos humanos.

Função

Muitas vezes, os pacientes eram submetidos a tratamentos cruéis e desumanos, como eletrochoques, lobotomias, confinamento solitário e outras formas de tortura. A partir do século XX, começaram a surgir movimentos que questionavam o modelo de tratamento psiquiátrico baseado em internações prolongadas e isolamento dos pacientes.

Quais os problemas dos manicômios no trato com os pacientes?

Eram diversos os problemas associados a essas instituições ao longo dos anos. Entenda!

Estigma e exclusão social

O isolamento em um manicômio podia resultar em estigmatização e exclusão social, com a pessoa sendo vista como "louca" ou "perigosa" pelos outros.

Condições de vida desumanas

Em muitos casos, os pacientes dos manicômios eram mantidos em condições desumanas, incluindo a falta de higiene básica, alimentação inadequada, sobrecarga de medicamentos e privação de sono.

Abuso e violência

As condições desumanas frequentemente levaram a abusos e violência por parte dos funcionários do manicômio, incluindo agressões físicas e psicológicas.

Falta de terapia e tratamento individualizado

Os tratamentos aplicados em manicômios muitas vezes eram genéricos e pouco efetivos, com pouca ou nenhuma atenção individualizada às necessidades do paciente.

Ausência de participação familiar e comunitária

Os pacientes, frequentemente, eram isolados da família e da comunidade, o que dificultava a reintegração social após a alta.

Custos financeiros e de saúde pública

O custo financeiro e de saúde pública de manter pacientes em manicômios pode ser muito elevado, com poucos resultados terapêuticos efetivos.

O que é a luta antimanicomial e quando surgiu?

Trata-se de um movimento social e político que busca a transformação do sistema de saúde mental, que excluía as pessoas que sofriam de transtornos mentais da sociedade. O objetivo dessa luta é garantir que essas pessoas tenham seus direitos humanos respeitados e sejam tratadas com dignidade e cidadania.

O movimento surgiu na década de 1970 no Brasil, e foi liderado por profissionais de saúde mental, pacientes e familiares que questionavam o modelo de asilar os pacientes e propunham uma nova forma de cuidado baseada na humanização, no respeito à diversidade e na inclusão social. A principal bandeira do movimento antimanicomial era o fechamento dos manicômios.

Em 1987 ocorreu a escolha do dia para simbolizar essa luta, com os eventos: Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental (Bauru – SP) e a I Conferência Nacional de Saúde Mental (Brasília – DF). Assim, o tema “Por uma sociedade sem manicômios”, reuniu diversas categorias como profissionais, grupos de pacientes e familiares, universidades, além de representantes políticos, que questionavam o antigo modelo de assistência centrado nesse tipo de internação.

Atualmente, com a reforma psiquiátrica, as internações são reservadas para casos que realmente necessitam desse tipo de intervenção e são úteis, sobretudo, para um acompanhamento de perto do paciente para encontrar os melhores medicamentos e as terapias, com profissionais da Psicologia mais adequadas.

Vale mencionar, que os hospitais psiquiátricos atuais são instituições sérias com profissionais como médicos psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e até farmacêuticos, para auxiliar na escolha do medicamento ideal (inclusive quanto às interações medicamentosas com outros remédios em uso).

Quais os objetivos da luta antimanicomial?

A luta antimanicomial tem como objetivo a criação de serviços comunitários de saúde mental que promovam a reabilitação psicossocial dos pacientes e a sua inclusão na sociedade. Esses serviços devem ser baseados em uma abordagem multidisciplinar e integrada, que contemple:

  • a psicoterapia;
  • o suporte social;
  • o tratamento medicamentoso;
  • a participação ativa dos pacientes em seu processo de cuidado.

Hoje, graças à luta antimanicomial, os manicômios são considerados obsoletos e a tendência é a de que sejam substituídos por hospitais psiquiátricos com tratamentos menos invasivos e mais humanizados, como a terapia cognitivo-comportamental, a psicoterapia e o uso de medicamentos psiquiátricos.

Quando se comemora o dia da Luta Antimanicomial?

O Movimento da Reforma Psiquiátrica culminou com a Lei 10.216/2001, denominada “Lei Paulo Delgado”, que cuida de proteger os direitos das pessoas com transtornos mentais e os modelos de assistência, estabelecendo a responsabilidade do Estado para desenvolver a política de saúde mental brasileira.

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial é comemorado todo dia 18 de maio, data em que as atrocidades são relembradas — para não serem cometidas novamente e para apresentar novos modelos de tratamentos.

Quais os avanços da reforma psiquiátrica até agora?

A reforma psiquiátrica é um processo constante que busca transformar o modelo de atenção à saúde mental, priorizando o cuidado humanizado, a inclusão social e a garantia de direitos das pessoas com transtornos mentais.

Os avanços da reforma psiquiátrica são:

  • desinstitucionalização com a redução do número de internações psiquiátricas em hospitais psiquiátricos e com a criação de serviços substitutivos como CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), Residências Terapêuticas, Unidades de Acolhimento etc.;
  • acesso à assistência, garantindo o acesso universal, igualitário e integral aos serviços de saúde mental, incluindo prevenção, tratamento e reabilitação;
  • atendimento humanizando aos usuários dos serviços de saúde mental, valorizando a escuta e o diálogo e a participação dos usuários nas decisões sobre seu tratamento;
  • fortalecimento do controle social com a participação de usuários, familiares e organizações da sociedade civil na gestão dos serviços de saúde mental, no monitoramento da qualidade do atendimento e na formulação de políticas públicas;
  • valorização da vida e redução da discriminação contra as pessoas com transtornos mentais.

Gostou do conteúdo?

Esperamos que este artigo completo sobre luta antimanicomial seja muito útil na sua jornada como profissional do futuro. Embora ainda haja desafios e obstáculos a serem superados, a reforma psiquiátrica avançou significativamente nos últimos anos graças a um movimento iniciado há cerca de 50 anos!

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