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Como funciona a doação de medula óssea no Brasil

Quer descobrir como está o panorama sobre a doação de medula óssea no Brasil? Confira quais são as etapas e processos realizados no doador e no paciente que recebe a doação!

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A comunidade médica brasileira já teve várias conquistas ao longo dos últimos anos. O Brasil tem um excelente programa de doação de órgãos e tecidos, inclusive doação de medula óssea, conta com diversas equipes e centros especializados reconhecidos pelo Ministério da Saúde que atuam nessa área. Isso facilita a doação e a execução de serviços médicos para pacientes que precisam desse tipo de tratamento.

A primeira doação de medula óssea da América Latina aconteceu no Paraná, na cidade de Curitiba, no ano de 1979. E em 1983, foi aberta a primeira unidade médica para realizar esses transplantes no Brasil.

Neste artigo, vamos explicar como funciona a doação de medula óssea no nosso país. Continue lendo e saiba mais sobre o assunto!

Como está o panorama sobre a doação de medula óssea no Brasil?

A legislação brasileira permite a operação de dois tipos de bancos de doação e transplante de medula óssea: banco público e banco privado. O primeiro regulamento em rede nacional para esses estabelecimentos foi criado em 2001, sendo que, a partir de 2010, os centros se espalharam por todo o Brasil. Atualmente, há mais de 30 devidamente implementados.

Questões éticas

O país avança na implementação de transplantes de medula e esse progresso das questões éticas possibilita o tratamento de diversas doenças. A venda de órgãos e tecidos é proibida, razão pela qual o governo executa ações visando prevenir essa prática no território nacional. Nesse sentido, os bancos recebem doações para manter as suas atividades.

Cadastro

Se você está se perguntando como doar medula óssea, o cadastro para se tornar um doador é voluntário. Por isso, ainda há necessidade de melhorar as ações de captação de recursos e aumentar o número de doadores cadastrados. O Serviço Nacional de Transplantes recebe praticamente a totalidade dos materiais que são doados por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Lista de espera

A organização dos processos permitiu igualdade para pacientes em espera na lista de transplante. A proibição de comercializar esses materiais visa manter a dignidade humana, bem como a doação das células precisa ser realizada em vida, conforme o registro de doadores que fazem a sua inscrição nas instituições responsáveis.

Diversidade genética

Os pacientes interessados precisam ser cadastrados em uma lista, e aguardar na fila de espera até que seja encontrado um doador compatível. Isso porque o Brasil é uma nação que possui uma ampla diversidade genética, em função da miscigenação dos povos nativos e das populações que migraram para o nosso território.

Políticas públicas

As políticas públicas visam a redução da dependência dos bancos de doadores internacionais e a realização de novas pesquisas internas. Procedimentos conduzidos no Brasil torna o acesso às doações mais rápido e também com custos reduzidos.

Estruturas físicas

A evolução das normas e políticas públicas alinhou ações em diversas instituições. Tal feito ajuda a aumentar o número de novos doadores, melhorando também o fluxo de informações. É importante destacar que os centros de transplantes brasileiros já têm a estrutura física adequada, equipamentos de qualidade e equipes especializadas para a execução e gerenciamento dos processos.

Inovação de procedimentos

As ações planejadas, os tratamentos para várias doenças e a inovação na área da Hematologia conferem qualidade de vida aos pacientes e aumentam as taxas de sobrevivência. Há uma alta taxa de sucesso nos transplantes, com ótima aceitação por parte dos destinatários de procedimentos realizados até o presente momento.

Novos investimentos

De acordo com os dados oficiais, em 2023, foram realizados 1.972 transplantes de medula óssea no nosso país. O Ministério da Saúde, visando aumentar esse número, estabeleceu aumentos consideráveis de 40% até 80% nos investimentos para a execução de procedimentos de doação, transplante e tratamento de intercorrências pós-transplante.

Qual a importância da doação de medula óssea?

O transplante de medula óssea está se tornando uma alternativa eficaz para tratar doenças potencialmente fatais, que impactam a psique dos pacientes e familiares. Os diagnósticos introduzem um momento de crises nas famílias e, à medida que o novo conflito se instala, surge a insegurança e inquietação. Mas a tensão reduz se houver conhecimento sobre os processos.

Eventuais complicações inerentes aos transplantes podem causar tensão e ansiedade em familiares, pacientes e profissionais de Medicina. Os centros especializados precisam fazer diagnósticos, organizar os seus serviços para reduzir as demandas dos pacientes, encontrar doadores compatíveis e executar os procedimentos.

Fatores psicológicos

No procedimento feito por doadores da própria família, o que motiva a doação é o fato de o indivíduo se sentir sem escolha para salvar a vida de um familiar. É muito difícil se recusar a realizar os procedimentos nestas circunstâncias, e essa responsabilidade delegada pela família em relação à sobrevivência de um parente pode causar uma sobrecarga emocional opressiva.

O diagnóstico tende a desencadear a ansiedade e a experiência da doação de medula óssea para doadores da família pode resultar em episódios depressivos. A depressão é capaz de afetar os doadores se o parente que receber o transplante não sobreviver ao tratamento e as expectativas da família forem frustradas. Já os voluntários não têm a sua qualidade de vida afetada da mesma forma.

Como doar medula óssea? Quais as etapas?

A primeira etapa realizada pelos doadores se refere à coleta de dados, feita por um centro especializado. As informações serão mantidas em sigilo e o doador precisa assinar os documentos apresentados pela instituição hospitalar. Veja, a seguir, as fases necessárias para conseguir fazer a doação de medula óssea!

Entrevista pré-doação

A entrevista semiestruturada é um dos instrumentos utilizados durante a coleta de dados. Os doadores podem se sentir à vontade para fazer perguntas, tirar dúvidas sobre os procedimentos e fornecer as informações solicitadas. Essa é a etapa pré-doação, que normalmente segue um roteiro elaborado por profissionais da saúde.

Durante a entrevista, o potencial doador vai revelar dados sobre a sua história familiar, antecedentes pessoais, percepções sobre os procedimentos e condições de vida atual. Essa é a oportunidade para obter detalhes sobre o funcionamento da doação e do transplante de medula óssea, fornecendo informações sobre suas motivações e expectativas.

Entrevista pós-doação

Pode ser efetuada uma entrevista pós-doação para averiguar como está o emocional após o processo de doação. Em alguns casos, o doador relata memórias do que aconteceu imediatamente antes de doar, na ocasião da aspiração da medula óssea e do momento imediatamente posterior ao procedimento.

Sendo assim, a coleta de dados é dividida em dois períodos: antes e após a doação. As entrevistas são realizadas em ambiente fechado e os dados obtidos somente podem ser divulgados com consentimento do doador. O roteiro previamente estabelecido é aplicado individualmente e a duração média de cada entrevista é de menos de 1 hora.

Exames de saúde

Os prestadores de cuidados de saúde fazem uma verificação geral das condições do doador e explicam como se preparar para receber anestesia geral. Alguns testes podem ser executados para confirmar se o candidato está apto a doar medula óssea, incluindo:

  • exames de sangue;
  • teste de gravidez;
  • doenças infecciosas.

Os médicos também fazem o teste do tempo de protrombina, que mede a rapidez com que o sangue forma um coágulo – para descartar a hemofilia. Outros exames importantes são para averiguar a presença de hepatite, vírus de herpes, HIV, HPV, sífilis, varicela, etc. Os testes adicionais mais comuns são Raio-X de tórax e eletrocardiograma.

Internação

O doador precisa ser internado um dia antes da realização da doação e permanecerá internado entre 2 a 3 dias.

Procedimento

O doador é levado para uma sala de cirurgia e é feita uma anestesia geral, visando retirar a medula óssea com o auxílio de agulhas. É preciso deitar a pessoa de bruços, e em seguida, os profissionais de saúde inserem um tubo na garganta para ajudá-lo a respirar. A coleta dos materiais é realizada por acesso bilateral, por meio de agulha calibrada que efetua punções no osso ilíaco das cristas ilíacas posteriores, na cavidade do osso do quadril.

Os médicos escolhem os ossos do quadril para fazer a doação porque eles contêm a maior quantidade de células-tronco saudáveis. Em alguns casos, pode ser necessário inserir a agulha várias vezes para coletar material suficiente, que deve ser no máximo 2 litros. Essa quantidade representa em torno de 10% de todas as células de medula óssea.

A coleta demora em torno de uma hora e meia. Os profissionais de saúde também podem coletar glóbulos vermelhos como parte do procedimento, mas eles serão recuperados quando o doador estiver na sala de recuperação. Uma vez retirado, o material é tratado e repassado para o paciente que está devidamente registrado na fila de espera do SUS.

Autotransfusão de sangue

Após a coleta de, em média, 1 litro de medula óssea por doador, o doador é colocado em uma sala de recuperação assim que termina o procedimento. Ele permanece nesse local até que uma enfermeira o ajuda a acordar, verifica os sinais vitais, o pulso e a pressão arterial a cada 15 minutos. Quando o organismo está estável, os enfermeiros verificam o curativo do quadril e é realizada uma autotransfusão de sangue.

Há a necessidade de permanecer hospitalizado, superar eventual insônia e sentimentos desagradáveis vivenciados, como preocupação, nervosismo, medo, ansiedade e, em alguns casos, um pouco de desconforto. Os pacientes são liberados 24 horas depois da doação, estando totalmente recuperados em cerca de 20 dias. Apesar de ser invasivo, o procedimento não deixa sequelas físicas.

Recuperação

Os profissionais mantêm um tubo intravenoso no braço do doador durante a sua recuperação. Os técnicos de enfermagem da sala de recuperação removem o soro quando os doadores conseguem tolerar a ingestão de líquidos. A enfermeira vai encorajá-los a respirar fundo, tossir e mudar de posição para se recuperar dos efeitos da anestesia.

Após a doação, é possível que surjam os efeitos colaterais. O doador pode, por exemplo, se sentir cansado, com a garganta dolorida e seca por causa do tubo respiratório. Também é possível sofrer com náuseas, fraqueza e precisar de ajuda se precisar ir ao banheiro. Essas pessoas recebem alta assim que se recuperam do procedimento.

Como funciona e quais são as regras da fila de espera de transplante?

A agilidade dos serviços pode trazer esperança e tranquilidade para quem está na fila. A lista de espera inclui pacientes da rede privada e do SUS, dependendo de alguns critérios técnicos, como altura, compatibilidade genética, peso, tipagem sanguínea e critérios de gravidade. A ordem cronológica do cadastro também é relevante em caso de desempate.

Os pacientes em estado crítico devem ter prioridade no atendimento, pois há maior risco de morte. Esses fatores interferem na fila de transplante do SUS, bem como a rejeição de órgãos recentes transplantados, a impossibilidade total de acesso para diálise, a insuficiência hepática aguda grave e a necessidade de assistência circulatória.

Quem está apto a fazer doação de medula óssea?

A princípio, todas as pessoas são aptas a realizar a doação de medula óssea. Mas alguns detalhes podem desqualificá-lo para ser um doador. Por exemplo, ter 60 anos ou mais, em virtude do desenvolvimento de condições médicas que decorrem do processo de envelhecimento. Alguns problemas de saúde que desqualificam o doador são:

  • artrite reumatoide;
  • HIV/AIDS;
  • doenças autoimunes;
  • lesão cerebral;
  • distúrbios hemorrágicos, hemofilia ou trombose venosa profunda;
  • quimioterapia, radioterapia ou tratamento de câncer feito nos últimos cinco anos;
  • diabetes;
  • dor crônica no quadril, nas costas ou na coluna;
  • doenças do coração ou renais;
  • hepatite B ou C.

Quais são as etapas e processos realizados no paciente que recebeu a doação?

A medula óssea do paciente é destruída por um tratamento com radioterapia e quimioterapia, antes de receber a doação por meio de transfusão. Essa fase anterior à infusão das células-tronco demora entre 2 e 7 dias. Após o procedimento, o organismo leva 3 semanas para começar a produção das células novas.

O paciente passa a receber doses de medicamentos capazes de causar a imunossupressão, para assim poder receber as células do doador e erradicar a doença. Esse condicionamento ocorre com a internação, realização de terapias, aplicação de técnicas e analgésicos para controlar sintomas. A infusão das células-tronco é feita com um catéter, de forma endovenosa.

Os cuidados com a higiene na recuperação do paciente nessa etapa são essenciais, pois ele estará com a imunidade enfraquecida. É importante evitar que ele contraia infecção e desenvolva um quadro mais grave da doença após o transplante. As visitas são limitadas e os médicos administram antimicrobianos profiláticos. Pode levar entre 8 a 30 dias para a alta hospitalar.

Entendeu como funciona a doação de medula óssea no Brasil?

Ser um doador é ter a oportunidade de auxiliar pessoas que correm o risco de não encontrar indivíduos compatíveis. Seja solidário e saiba que doar faz bem, já que o procedimento não oferece riscos.

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