Caso Barbacena: saiba o que foi o Hospital Colônia, conhecido como "holocausto brasileiro"
Caso Barbacena: tudo sobre a história do Hospital Colônia que ficou conhecido como holocausto brasileiro e a evolução da Psiquiatria no Brasil.
O Hospital Colônia de Barbacena foi construído com o objetivo de centralizar os tratamentos psiquiátricos da região de Minas Gerais. Porém, o contexto da saúde mental e a realidade das instituições que ofereciam esses “tratamentos psiquiátricos” naquela época eram bastante críticos e é importante destacar a evolução na área.
Em vista disso, preparamos este material para contar a história do hospital psiquiátrico Colônia. Durante décadas, essa instituição confinou milhões de brasileiros, expondo-os à barbárie e a condições desumanas, ao ponto de ser chamado de “holocausto brasileiro”.
Mas que tipo de tratamento existia no manicômio de Barbacena? O que houve com o hospital? Como esse caso influenciou mudanças na Psiquiatria moderna?
Você, que sonha em fazer Medicina, precisa saber mais sobre a história desse local. Viaje com a gente nesse relato e conheça essa página da saúde pública brasileira!
Quando foi fundado o manicômio de Barbacena?
O manicômio de Barbacena — cujo nome oficial era Hospital Colônia de Barbacena — foi fundado no início do século XX, sendo o maior hospício do país. Na época, o governador de Minas Gerais era Afonso Pena, que recebia verba a mais do Governo Federal para subsidiar a instituição, que marcou a história da Psiquiatria.
Esse hospital psiquiátrico recebia pessoas de diversos estados brasileiros, que eram confinados nus, com pouco alimento e sem a devida assistência. Por isso, ele ficou conhecido, inclusive internacionalmente, por suas práticas extremamente desumanas e atrozes.
Por que o hospital de Barbacena foi considerado o “holocausto brasileiro”?
O apelido de "holocausto brasileiro" surgiu no contexto de comparação com as condições terríveis sofridas pelos judeus no Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. A estrutura do manicômio e os abusos cometidos contra os pacientes ao longo de décadas sustentou essa marca.
Assim, o termo "holocausto" se refere a uma grande tragédia ou destruição humana em massa resultante das atrocidades ocorridas dentro do Hospital Colônia de Barbacena. Lá, os pacientes sofriam com negligência extrema, tratamentos desumanos, frio, fome, superlotação e falta de condições básicas de higiene.
Na área do hospital, havia um cemitério, o que denota que a intenção não era a recuperação dos pacientes que ali chegavam. Muitos foram vítimas de abusos físicos e psicológicos por parte de guardas, funcionários e até mesmo dos profissionais de saúde.
Durante o funcionamento do hospital, mais de 60 mil internos morreram. Parte deles tiveram seus cadáveres vendidos para as faculdades de Medicina. Outros eram descartados em valas comuns do cemitério local.
Quais tratamentos psiquiátricos eram oferecidos no manicômio de Barbacena?
Destacamos alguns dos tratamentos que eram realizados na instituição. Observe!
Isolamento e contenção física
Normalmente, os internos eram mantidos isolados em celas ou contidos fisicamente. Os guardas utilizavam correntes, algemas e camisas de força. Tais práticas objetivavam “educá-los” e eram uma forma rotineira de controle de comportamento.
Essas práticas eram desumanas e causavam diversos danos físicos, como ferimentos, infecções e morte nos pacientes. Além disso, os prejuízos psicológicos aos que sobreviviam eram uma constante.
Administração de medicamentos psiquiátricos
Às vezes, o estado disponibilizava alguns medicamentos psiquiátricos para a instituição, mas era raro. Mesmo assim, quando estavam disponíveis, eram administrados de forma inadequada ou excessiva.
Lobotomia
Na época, esse procedimento era comum: envolvia a remoção de partes do cérebro dos pacientes para tratar doenças psiquiátricas. Entretanto, o método foi usado de forma excessiva e indiscriminada. Por conseguinte, os resultados eram devastadores: causavam danos cerebrais permanentes e graves alterações de personalidade.
Eletroconvulsoterapia (ECT)
Também conhecida por eletrochoque, essa metodologia ainda é bastante discutida até a atualidade. A ECT foi muito utilizada, em todo o planeta, nas décadas de 1940 e 1950. O objetivo era tratar transtornos mentais graves — como a esquizofrenia — ou outras doenças que não apresentavam resposta aos tratamentos.
Essa técnica foi introduzida pelos médicos psiquiatras Cerletti e Bini, de origem italiana, no início do século XX. Originalmente, a proposta desse método era de cunho experimental e deveria ser aplicado para a epilepsia e a esquizofrenia, exclusivamente.
Quando esse Hospital Colônia foi fechado?
O Hospital Psiquiátrico de Barbacena, situado em Minas Gerais, foi fechado na década de 80. Na época, a cidade implementou casas de acolhimento para alguns pacientes que sobreviveram às atrocidades que sofreram na instituição.
Atualmente, os pacientes com transtornos mentais recebem acompanhamento no Centro Hospitalar Psiquiátrico da cidade. Os sobreviventes que foram internados no Colônia quando jovens ainda estão sendo tratados em Barbacena.
Rosas e loucura
O manicômio funcionava como um local para "limpeza social", já que eram internadas pessoas consideradas a escória da sociedade. Ou seja, nem todos eram portadores de doenças mentais.
Assim, o hospital também era o destino de pessoas pobres, alcoólatras, prostitutas, homossexuais, mães solteiras e outros grupos marginalizados. Na ocasião, muitas famílias de classe média também abandonavam seus familiares e os deixavam, definitivamente, expostos aos “cuidados” da instituição.
Por muito tempo, Barbacena ficou conhecida como a “cidade das rosas”, pois sua principal atividade econômica era o cultivo de flores. Com a construção do manicômio, a região ganhou outro estereótipo. Dessa vez, bem mais triste. Sem perfume, brilho ou cores bonitas: passou a ser chamada de "cidade da loucura”.
O Museu da Loucura
Barbacena é um município que chama atenção porque, em vez de enterrar a simbologia perpetrada pelas atrocidades que ocorreram em seu território, as autoridades locais concordaram em adotar uma postura positiva. Com isso, decidiram transformar um dos pavilhões do Hospital Colônia no Museu da Loucura.
O Museu foi inaugurado no ano de 2000. A visitação do local não objetiva apenas relembrar os fatos ruins, mas remeter à contextualização da importância de discutir abordagens mais concretas de enfrentamento da saúde mental na atualidade.
Após a pandemia de Covid-19, o aumento de casos relacionados aos transtornos mentais fez com que essa temática voltasse à atualidade. A assistência psiquiátrica no Brasil ainda enfrenta dilemas e desafios, que precisam de implementação de novas políticas, atenção e cuidados múltiplos.
Quais foram as principais medidas após o fechamento do manicômio?
Aos poucos, a realidade que os pacientes enfrentavam no hospital psiquiátrico Colônia tornou-se pública. Com isso, algumas ações surgiram a fim de frear as atrocidades cometidas naquele espaço chamado de “holocausto brasileiro”.
Destacamos as principais medidas que objetivavam mudanças no formato de assistência psiquiátrica na época. Algumas foram legalizadas pelo Estado e permanecem ativas até hoje. Veja quais são!
A desativação dos manicômios
No período de 1990 a 2000, muitos hospitais e asilos psiquiátricos foram desativados no país. Somente algumas poucas unidades de internação, que ainda eram funcionalmente estáveis, permaneceram abertas até segunda ordem. Aos poucos, as instituições tiveram suas funções modificadas.
Por volta do ano 2000, todos os manicômios estavam desativados ou foram substituídos por novas metodologias de cuidado. Tais mudanças foram impulsionadas pela compreensão da necessidade de implementar tratamentos mais humanizados para os portadores de doenças mentais.
Sob esse paradigma, houve uma ênfase crescente em novas estratégias de intervenções psicoterapêuticas baseadas na reabilitação do paciente. A meta era restaurar a saúde mental e propiciar o retorno dessas pessoas ao seio familiar e social.
A criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs)
Após o movimento perpetrado pela reforma psiquiátrica, os hospitais psiquiátricos brasileiros foram, aos poucos, substituídos pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Nesses locais, os pacientes são submetidos a diferentes modalidades de tratamentos psiquiátricos em caráter interdisciplinar— que são gratuitos, via Sistema Único de Saúde (SUS).
Logo, o fechamento dos manicômios representou um avanço bastante significativo nos modelos de assistência psiquiátrica do país. Além disso, os CAPs também funcionam como uma estratégia contínua de construção de uma saúde pública mais efetiva e humanizada.
O que foi a Lei Antimanicomial?
A Lei Antimanicomial foi criada em 2001, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, ela representou a luta antimanicomial, tão necessária em relação às transformações na assistência psiquiátrica.
Com a implementação dessa nova lei, os brasileiros com as mais diversas formas de doenças mentais passaram a ter direito a tratamentos mais dignos e humanizados. Instituiu-se, assim, a reforma psiquiátrica, que objetivava o fechamento gradual de manicômios e hospitais psiquiátricos em território nacional.
Após a nova decisão da saúde pública e dos governantes, os pacientes psiquiátricos passariam a ficar internados em instituições como os hospitais gerais. Criaram-se, então, alas psiquiátricas para serviços contínuos e especializados.
A atenção era interdisciplinar, diversificada e com incentivo a práticas de autocuidado. A meta era acolher desde pessoas que necessitavam de suporte para doenças exacerbadas pelo estresse até os casos mais graves, compatíveis com a internação.
Como essa mudança na Lei influenciou a Psiquiatria no Brasil?
Ao longo de décadas, a Psiquiatria passou por um período de descrença quanto à metodologia de escolha dos métodos terapêuticos. Isso em caráter global. Ou seja, a influência de casos como o do “holocausto brasileiro” em Barbacena ainda soa negativamente.
Com o passar dos anos, os avanços médicos e científicos proporcionaram transformações também na Psiquiatria. Com isso, a especialidade conquistou mais espaço e se firmou como um dos campos mais importantes da Medicina. O constante avanço das tecnologias médicas e dos exames de neuroimagem contribuiu muito para esse novo status.
Nesse sentido, as mudanças experimentadas na Psiquiatria foram cruciais para a reabilitação da saúde mental. Elas ajudam a entender o contexto psicossocial, que remonta ao passado, transforma o presente e traz esperança para o futuro.
Novo cenário, novos desafios
Ainda que haja esperança e novas perspectivas quanto às inovações e tratamentos psiquiátricos, os desafios nesse nicho são ainda enormes.
Em caráter mundial, os emblemas que envolvem a saúde mental se apresentam num cenário bastante desafiador. Por isso, quem almeja atuar nessa área deve estar alinhado com as propostas de Atenção Primária à Saúde. As comorbidades resultantes de doenças crônicas, sobretudo na terceira idade, são determinantes para o desenvolvimento de transtornos mentais.
Cada vez mais, é necessário buscar novos conhecimentos e inovar as práticas utilizadas no trabalho de assistência em Psiquiatria. Mesmo diante das conquistas nesse campo, a ausência de programas governamentais mais estratégicos e a pouca disponibilidade de profissionais da área também pioram o panorama da saúde mental no Brasil.
Portanto, a realidade que envolve os distúrbios mentais sugere a participação mais ativa de diferentes atores nesse processo. Os profissionais de saúde — em conjunto com a liderança que atua na saúde pública — e a sociedade precisam buscar estratégias que representem soluções mais eficazes para reverter esse cenário.
Quais as áreas de atuação de um médico psiquiatra?
Quem se forma em Psiquiatria pode atuar em diversas frentes de trabalho. Todas as opções objetivam a restauração dos transtornos mentais ou a melhora da qualidade de vida dos pacientes.
Alguns profissionais optam pelo atendimento particular ou em parceria na rede privada. No entanto, existem outros ambientes, como os hospitais públicos, onde o psiquiatra atende urgências e emergências ou atua como plantonista acompanhando pacientes internados.
Uma alternativa interessante é prestar assistência em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), instituição mantida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nesses locais, os pacientes recebem assistência especializada, tratamentos e prescrições de remédios de uso domiciliar.
Nos últimos anos, o CAPs ampliou bastante o modelo de assistência psiquiátrica. Para os casos mais graves, como surtos psicóticos, automutilação, comportamento violento ou tentativas de suicídio, o SUS oferece internação.
Como se tornar um médico psiquiatra?
Se você se identifica com a Psiquiatria, saiba que para atuar nessa área são necessários alguns passos, que incluem:
- Cursar uma graduação em Medicina, com duração de seis anos, em uma instituição de ensino superior reconhecida pelo MEC, para obter o diploma e o registro no Conselho Regional de Medicina (CRM);
- Com o CRM em mãos, o médico generalista já pode atuar em qualquer área, mas para se tornar um médico especialista, com o RQE (Registro de Qualificação de Especialidade), é preciso seguir o próximo passo;
- Fazer Residência Médica em Psiquiatria, com duração de três anos, ou uma pós-graduação em Psiquiatria e ser aprovado na prova de título de especialista em Psiquiatria, para receber o título de especialista em Psiquiatria.
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